O
SILÊNCIO DE DEUS
Notícias de violência, injustiça, fome, calúnia, mentira,
atentados, corrupções, guerras e mil e uma barbaridades são diariamente
veiculadas pelos meios de comunicação. Há quem não liga porque ficou
anestesiado. Diz que é assim mesmo. Outro se preocupa, mas também não sabe o
que dizer ou fazer. Tem, no entanto, também aquele que se escandaliza e, coloca
a culpa até mesmo em Deus! Por que Deus se silencia, por que não intervém? É
matéria para uma boa reflexão.
O Papa Bento XVI ao visitar o campo de concentração também
fez a inquietante pergunta: “Onde estava Deus?” Ele deixou a pergunta no ar.
Não a respondeu, como que dizendo, “responda cada um, conforme a sua fé e sua
convicção religiosa”. Será que o Papa estava com dúvida sobre onde Deus estava
quando essas terríveis atrocidades aconteceram? Certamente não.
Por estes dias, alguém, impressionado com os atentados em
Paris, mais uma vez perguntou: “Por que Deus não diz nada? Teria Deus se esquecido
da humanidade?” É! Quando a dor, a injustiça e a morte violenta tocam
diretamente as pessoas, não é de estranhar que tais interrogações surjam. Mas,
a fé cristã, quando é verdadeira e profunda, vai além de tudo isso, e encontra
a resposta que não é teórica, porém prática e comprometedora.
Será que não está mais do que na hora de reavivar a fé e
a confiança no Deus presente em nossa história e, no mistério da Encarnação do
Verbo? O cristão não se cansa de professar que Deus é Pai Criador, Filho
Redentor e Espírito de Amor. No entanto, esta profissão de fé não pode ficar no
ar, deve, no entanto, ajudar cada um, e também às comunidades cristãs, a se
colocarem na atitude de escuta e de resposta comprometedora. Deus, em Jesus
Cristo, não está surdo! Ele fala e age a tal ponto de se fazer carne – carne
como a nossa, em nossa carne. Deus fala e age onde fala e age o cristão; ou
mesmo onde fala e age qualquer ser humano de boa vontade. Deus coloca tudo ao
dispor do ser humano: sua força criadora, sua Palavra, sua graça e sua bênção.
Basta acolhê-la e assumi-la.
Ele, Deus, está sempre onde estão as pessoas,
preferencialmente os mais necessitados. Ele está, primeiramente nas vítimas,
sofrendo com elas as conseqüências das maldades, apoiando, sustentando e
perdoando; porém, fala e age igualmente em todos os que consolam, que ajudam e
que lutam contra toda forma de violência, de opressão, de injustiça e de morte.
Portanto, afirmar que Deus se cala, ou que Deus não está presente em certas
situações limites da vida é, em última instância, negar o Deus anunciado e
revelado por Jesus de Nazaré e por tantos homens que não se deixaram vencer
pelo mal, mas que, apesar de serem crucificados como ele, confiaram e se
tornaram testemunhas verdadeiras.
Deus, onde estás? Lá onde está o pobre, o necessitado, o
injustiçado. Também onde estão as pessoas de bem, aqueles que como Jesus de
Nazaré sabem abraçar, abençoar, curar e sofrer juntos. Não sejamos covardes,
não joguemos a culpa em Deus; mas tenhamos fé e, façamos a nossa parte. Se no
mundo existe muita maldade, o compromisso do cristão, e das pessoas de bem, é
maior ainda. Ajudemos a tornar a realidade um pouco melhor, mais parecida com o
Reino imaginado e inaugurado por Jesus de Nazaré.
Pe. Mário F.
Glaab