terça-feira, 6 de junho de 2023

Nova maneira de pregar e testemunha a fé cristã.

 

                                             OBRIGAÇÃO E PROIBIÇÃO

Uma pregação desatualizada

            Não há como esconder: nos dias de hoje o cristianismo, e mais concretamente nossa Igreja, está enfrentando uma enorme crise. As nossas celebrações são cada vez menos frequentadas. Nossos discurso e ensinamentos não estão encontrando a resposta que no passado encontravam. O interesse, especialmente dos mais jovens, se tornou outro. Com exceção de algumas pregações de cunho mais carismático, a grande maioria não atinge mais o povo em geral. Cada igreja se deve contentar com aquelas poucas pessoas que ainda se fazem presentes.

            Não tenho condições para analisar as causas deste fato. No entanto, pretendo fazer apenas uma pequena reflexão a partir de minha própria experiência e de algumas leituras que faço sobre o assunto.

Novos tempos, novas mentalidades

            Se a sociedade, até alguns anos passados, aceitava uma apresentação da religião como uma obrigação, e consequentemente com o poder de proibir; hoje isto não funciona mais. Os pais e educadores diziam “você deve”, ou “você não pode fazer isto, é proibido”. Os mais jovens aceitavam sem questionar ou se opor. Porém, atualmente isso não é mais aceito.

            Hoje, cada vez mais as gerações jovens se opõem às obrigações e às proibições. Há uma mentalidade muito difundida de que a liberdade consiste em não aceitar o que os mais velhos dizem. Ser livre – dizem – é decidir tudo por si, “experimentar” tudo; mesmo que existam instruções contrárias, alertando do perigo que se esconde por trás destas experiências desconhecidas. Diante do “você deve” dizem “não quero”, e diante do “proibido”, “sou livre, vou fazer”.

            As religiões, no nosso caso, a fé cristã, não escapam desta nova maneira de ver as coisas. Já não se acata a mais insistência com as pessoas com o “você deve” ou com o “você não deve”. A fundamentação há de ser outra, partindo de outros princípios. Uma simples argumentação lógica não tem mais a força que tinha no passado. No contexto em que a sociedade se encontra, cada vez mais favorecendo o individualismo, os jovens precisam experimentar, pois explicações têm pouca força. No entanto, as experiências mal escolhidas, não poucas vezes, os levam para os desvios e para os vícios que, depois são muito difíceis de se corrigir.

Jesus, o Homem livre

            É muito interessante notar como a pregação do Evangelho sempre apresenta a liberdade como o grande valor a ser descoberto em Jesus de Nazaré. Porém, com o passar do tempo, este valor ficou na sombra. A pregação se concentrava em ensinar o que se pode e o não se pode, chegando a se tornar moralismo doentio. Jesus, na verdade, é o homem mais livre que conhecemos. Ele sempre optou livremente em fazer a vontade do Pai ao ponto de afirmar que “o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 4,34) e nunca se desviou deste propósito. Mesmo que isto lhe custasse a entrega total de sua vida. Ele morreu na cruz como consequência de seu amor sem limites livremente assumido, diante do Pai e diante da humanidade.

            Nunca ninguém conseguiu desviá-lo de sua missão assumida na encarnação. Veio para anunciar a todos a boa notícia de que Deus quer a liberdade total de todo o ser humano. Foram muitas as tentações que ele enfrentou, tanto dos inimigos quanto dos próprios amigos. Todavia, nada afastava Jesus de seu projeto, nada era capaz de suscitar-lhe a ira e passar para o ataque, a não ser a exclusão ou a desvalorização de qualquer homem ou mulher. Certamente o momento mais duro foi quando na cruz o insultam desafiando-o para que descesse da cruz. Ele não se deixa vencer, mas entrega o seu espírito (cf. Lc 32,46).

O outro lado

            É mais do que necessário, em nossos tempos, redescobrir em toda a sua pureza, o valor inestimável da verdadeira liberdade. Aquilo que a maioria dos jovens procura, mas não encontra, provavelmente seja isto. Eles não conseguem vê-la nestas maneiras como ela ainda é apresentada. São levados por um imediatismo alienante. Infelizmente a mídia tem grande culpa nisso. Bombardeia o tempo todo sobre as gerações mais jovens, oferecendo prazeres momentâneos, colocando ideias falsas, provocando revoltas...

            É preciso redescobrir a beleza do amor verdadeiro; e, junto com ela, a liberdade que lhe é própria. Jesus precisa ser redescoberto. Mais do que isto: necessita ser seguido, “experimentado” na prática da doação. Isto pode enlevar as pessoas também hoje, quando na sinceridade são amadas e compreendidas. Quando são levadas a tocar de perto o ensinamento e a prática de Jesus de Nazaré; este Jesus, que na Eucaristia se faz o alimento para todos aqueles que, neste mundo transtornado pela incredulidade, o desejam seguir. Com pesar constata-se que há inversão das coisas quando se prega que se deve, por obrigação, participar da Eucaristia, uma vez que não há algo mais absurdo do que falar em obrigação de participar no dom supremo de Cristo no rito sacramental. Esta inversão é perversão, pois assim o dom da alegria da liberdade se converte em carga, que os jovens não aceitam mais. O que acontece é que se perde a experiência original, gratificante e motriz, para ficar somente com o peso das obras e com a obrigação da lei.

            Nada é obrigação para quem ama; tudo é proibido para quem odeia.

            E quero concluir com uma citação de um teólogo que admiro muito: “De nós, cristãos, se exige demonstrar que o Reino dos céus se realiza quando – e somente quando -, já na terra, também os crentes se esforçam para conseguir que a justiça, a liberdade e a fraternidade reinem entre os homens: entre todos os homens e, portanto, antes de mais nada, entre os marginalizados, os oprimidos e os que sofrem” (Queiruga, Creio em Deus Pai, p. 200), como fez Jesus de Nazaré.

Pe. Mário Fernando Glaab.