domingo, 10 de setembro de 2023

Conhecendo a doutrina da Igreja.

                                                  O Dogma da Imaculada Conceição

 

No ano de 1954, com o Papa Pio IX, a Igreja declarou como dogma de fé a Imaculada Conceição de Maria. A partir de então, a doutrina que tem a Virgem Maria como imune do pecado original faz parte do conteúdo da fé católica.

A definição

            Foi exatamente no dia 08 de dezembro de 1854 que o Papa Pio IX declarou solenemente infalível a doutrina da Imaculada Conceição de Maria, com a bula denominada Ineffabilis Deus (Deus Inefável). Assim o Papa publicou o decreto: “Declaramos, pronunciamos e definimos como doutrina revelada por Deus o seguinte: a Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original. Essa doutrina, pois, deve ser crida firmemente e inviolavelmente por todos os fiéis”. (O Papa, mais tarde testemunhou que quando declarou este dogma sentiu uma alegria tão grande, impossível de explicar).

            Para o Papa chegar a declarar esse dogma mariano foi preciso levar em conta os dados da Palavra de Deus, principalmente onde o Anjo chama Maria de “cheia de graça” (Lc 1,28); e, de modo especial, o povo de Deus que, meditando e degustando essa Palavra, compreendeu que a Mãe de Jesus tinha sido, desde sempre, toda pura, sem mancha alguma. O povo de Deus, desde os primórdios da Igreja, sempre possuía a certeza de que Maria nunca foi dominada pelo pecado. Sabia muito bem que a mulher que iria esmagar a cabeça da serpente jamais fora esmagada por ela. O Magistério da Igreja se faz porta-voz do sentido profundo de fé que o povo dá para as devoções, e os privilégios especiais de Maria, tão fortemente presentes na tradição católica, que sempre se fizeram ouvir.

            Já bem antes da solene definição, o povo comemorava a festa da Imaculada. No Oriente ela já existia desde o século VII e no Ocidente começou no século IX. Bem antes de se tornar dogma, vários testemunhos, até o martírio, afirmam esta doutrina.

            Uma curiosidade: no ano de 1857 o dogma da Imaculada Conceição é confirmado por Nossa Senhora de Lourdes, que se identificou como a “Imaculada Conceição” para a jovem vidente, que nem sequer sabia o que isso queria dizer.

Bases bíblicas e da tradição

            Como vimos acima, o texto bíblico de maior importância para esse dogma é, sem dúvida, o de Lucas 1,28: “O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo’”. Esta é uma expressão única na Bíblia e, conforme se pode constatar, surpreendeu a própria Virgem: “Ela ficou muito confusa com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação” (Lc 1,29). “Cheia de graça” deve ser entendido como algo próprio dela desde o primeiro instante de sua concepção.

            Outro texto do evangelho de Lucas que serve de base para a Imaculada Conceição está no cântico de Maria: “O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1,49). A Virgem Maria ser concebida sem pecado original é uma das grandes maravilhas que Deus nela realizou.

            Já os Santos Padres veem em Maria a Nova Eva, aquela que se dispôs totalmente a fazer a vontade de Deus. Quando ela diz “eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38), está cumprindo nela mesma a promessa de Deus: “Esta te ferirá a cabeça” (Gn 3,15). Outros textos do Antigo Testamento são evocados pela tradição dos Padres, como: “Ela é sem mancha” (Ct 4,7); “Jardim fechado e fonte selada” (Ct 4,12); “Bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6,10); Tenda do encontro com Deus (cf. Ex 31,1-11). Arca da Aliança (cf. Ex 25,10; 1Sm 4-6; Ap 11,19), entre outros.

            O sentimento espiritual do povo tinha captado cedo esta maravilha que Deus realizou em Maria, mas os teólogos necessitaram de muito tempo para deixarem tudo pronto, e o Papa poder declarar o dogma.

Por que e para que?

            Conforme o próprio decreto do Papa e da liturgia da missa a graça da Imaculada Conceição está a serviço da Encarnação salvadora de Jesus e de nossa salvação. A Imaculada é a “Pura Habitação” para o Filho de Deus e é “por nós, homens, e pela nossa salvação” (Missa da Imaculada).

            O dogma da Imaculada confirma a visão positiva da graça. Ela é anterior ao pecado, mais forte do que ele. Na Imaculada, a graça triunfou totalmente sobre o mal, desde o início. A Imaculada é a Nova Criatura; “Ela vem mais cedo que o pecado” (G. Bernanos).

            O povo fiel, convencido da graça salvadora de Cristo que tira o pecado do mundo, acredita na conceição imaculada de Maria. O Concílio Vaticano II ensina que Maria “foi redimida de modo mais sublime” (LG 53), isto é, preventiva e radicalmente.

            Crer que Deus fez a Virgem “cheia de graça” dá ao fiel confiança inabalável. Se Deus fez esta maravilha em Maria, Ele também pode realizar maravilhas em seu povo que nele acredita. A fé no dogma mariano desperta a confiança na misericórdia sem limites de Cristo. Esta misericórdia de alto a baixo, recria a humanidade pecadora. O perdão renova; “revirginiza” os que perderam a inocência. Se para a Virgem a graça foi anterior, para os fiéis é posterior, mas o efeito final é o mesmo: serão novas criaturas, “imaculados”.

            Maria Imaculada deve acompanhar sempre, como modelo, a luta de seu povo contra toda injustiça em nós e no mundo. Conforme a profecia, a Virgem foi “transpassada” pela espada (cf. Lc 2,35), mas ela não cedeu diante da dificuldade, diante do Sedutor. Ela foi sempre sim para Deus. Se nós, tantas vezes cedemos ao mal, às tentações do maligno, Ela nunca se deixou vencer. Disso tudo poderemos concluir que a Imaculada permanece, para nós, como exemplo máximo de lutadora, que não sofreu a menor derrota do maligno. Se no mundo e na experiência de cada fiel existe a realidade cruel do mal, no dogma da Imaculada está o sinal claro da vitória da graça e do bem. São Paulo lembra acertadamente que, “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20).

Concluindo

            A Igreja, na sua longa experiência de evangelização, não cede à tentação ilusória de que o mal e o pecado já estão vencidos. Ela tem consciência de que a luta continua. O mal e o pecado estão aí, e necessitam ser combatidos e vencidos. Mas também não é ingênua. Sabe muito bem que o “paraíso na terra” é um mito ingênuo e ilusório. Por outro lado, a partir de sua fé em Jesus Cristo, o Salvador da Humanidade, a Igreja não cessa de proclamar a Boa Notícia de que a graça está ao dispor de todos. Jesus já é o Vencedor. E, quem acredita nele será salvo.

            O dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, a Mãe de Jesus Cristo, é a proclamação de que Deus fez, faz e fará maravilhas por nós homens e para a nossa salvação. Maria é modelo para todos os que seguindo os passos de seu Filho, acreditam e se lançam na luta para vencer o mal pelo bem, o ódio pelo amor, o orgulho pela humildade. Bendito seja o nome do Senhor!

Pe. Mário Fernando Glaab.