quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Celebração e Vida


EUCARISTIA: COMUNGAR COM O POBRE

            Eucaristia é ação de graças. Uma obra de agradecimento. Quem agradece, senão aquele que recebeu algo? Algo que não possuía, algo que o enriqueceu. Aí estão em jogo dois elementos: doação e recepção; alguém que dá e alguém que recebe. Dois pobres. O primeiro é pobre porque não está apegado ao que tem e sabe doar; o segundo, porque acolhe um dom que não possuía e o valoriza. Comunhão de pobres que se faz ação de graças.

Ação de graças
            Só o pobre dá graças. O rico não agradece, pois ele acha que merece tudo o que tem. Não questiona de onde vêm os seus bens. Sua ganância não tem limites, só pensa em aumentar mais suas riquezas. Não se importa se os meios para possui-los são corretos ou não. Dar graças é próprio de quem reconhece sua pobreza e sabe valorizar o que recebe. Acolhe e faz frutificar.
            Não é possível dar graças sem compromisso efetivo. Ao acolher um presente, necessariamente, se assume um compromisso: usá-lo para o bem. Isto é ação de graças. Quando uma criança recebe um brinquedo de presente, ela dá graças quando com alegria vai brincar. Assim ao ser contemplado por uma dádiva, dá-se graças por ela na medida em que ela será usada para a finalidade que lhe é própria.
            Nos evangelhos se diz que Jesus, seguindo a tradição dos ritos judaicos, tomou o pão e o vinho e deu graças. Agradeceu ao Pai por estes dons que representavam a vida de seu povo. Mais ainda, fez com que eles se tornassem seu próprio corpo e sangue – sua existência toda – para com eles dar graças a Deus. Ele, Jesus, é o verdadeiro pobre! Ele recebe a missão salvífica do Pai na força do Espírito, e por isso, no seu corpo e sangue dá graças. Entrega-os para a salvação do mundo. Acolhe e faz frutificar.

Cristãos na esteira de Cristo
            O cristão aprende com Cristo. Cristo deu graças ao Pai com sua Vida, Paixão, Morte e Ressurreição, sacramentadas na Eucaristia. O cristão, cada vez que celebra com Jesus estes mistérios, coloca-se como pobre na mesma dinâmica: recebe e dá. Acolhe o maior presente de amor de Deus – Jesus Salvador -, e alimentado dele, o dá para a salvação do mundo.
            Assim o cristão, na esteira de Cristo, colabora com a salvação do mundo à medida em que, como pobre, acolhe a existência toda de Jesus e a oferece aos demais pobres. Faz frutificar em sua vida os dons recebidos. Isto é Eucaristia, isto é Ação de Graças.
            Quem toma parte da Ação de Graças de Cristo e da Igreja nunca pode afastar seu olhar do pobre; nunca pode negar a ele uma palavra de consolo; nunca pode deixar de lhe estender a mão; nunca pode deixar de lhe dar alguma coisa, por mínima que seja.
            A comunhão na Eucaristia de Cristo implica num aprendizado, numa caminhada contínua. Inicia com uma caridade mínima como atitude assistencialista: dar algo ao pobre, mas que não o tira de sua situação. Outro passo é a o estar com o pobre: partilhar sua vida, seu modo de rezar e de conviver. É uma forma de amor solidário. Mas alguns chegam, por graça especial de Deus, a viver como pobre. É um despojar interior e exterior, viver com o estritamente necessário, alegrando-se como os pobres, sofrendo como os pobres e rezando como eles rezam. Fazem assim a mais alta Ação de Graças, uma vez que dão um sentido todo novo para a existência. Colocam tudo no seu devido lugar, diante de Deus e diante do mundo.
            Quem comunga dessa forma com o pobre, comunga igualmente com Jesus Cristo e, com este está construindo o verdadeiro Reino de Deus sobre a face da Terra.
            Conforme Jesus explicou, quem de fato irá julgar nossas “eucaristias” é o pobre. O pobre será o nosso juiz! Verifiquemos as palavras de Jesus em Mt 25,31-46.
Pe. Mário Fernando Glaab.