segunda-feira, 19 de julho de 2021

ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS.

 

O REINO JÁ, MAS AINDA NÃO.

 

            Estamos tão acostumados a responder em nossas missas “Ele está no meio de nós” que as vezes nem tomamos consciência do que estamos dizendo. Basta o presidente da celebração dizer “O Senhor esteja convosco”, para que respondamos quase mecanicamente, “Ele está no meio de nós”. Vamos refletir um pouco sobre esta resposta-afirmação.

 

Obras para o Céu

            Aprendemos desde criança, que precisamos fazer boas obras para no fim de nossa vida podermos ir para o céu. E, da mesma forma, também nos ensinaram que as más obras serão castigadas no inferno. Pregações, principalmente em sepultamentos, com frequência lembram que desta vida não se leva nada, a não ser o bem que se fez. Não queremos criticar esta doutrina, nem mesmo duvidar da boa intenção de quem ensina estas coisas. Com certeza está procurando o melhor para as pessoas. No entanto, esta insistência pode ofuscar um pouco o outro aspecto que é uma constante na pregação e na ação de Jesus de Nazaré.

            O Jesus que os evangelhos apresentam, muito mais do que falar de um céu no futuro, fala de uma nova realidade já aqui nesta terra. Ele insiste, desde o início de sua pregação, que o Reino está próximo, ou que já chegou. A comunidade primitiva logo entendeu que este Reino se identificava com Jesus mesmo. Onde está Jesus, lá está o Reino. Muito sugestiva para esta questão é a história de Jesus na casa de Zaqueu, quando afirma que naquele momento a salvação entrou naquela casa (cf. Lc 19,2-10); ou então nas palavras do evangelista São João, onde Jesus se apresenta como o caminho, a verdade e a vida (Jo 14,6). Jesus, com sua pregação e com sua ação, mostra que o Reino, a Vida ou a Salvação, já estão presentes e que necessitam ser acolhidos e vividos já aqui. Jesus não prega um Reino do futuro somente, porém o fez acontecer. Suas parábolas, seus sermões, e, seus sinais de cura, de libertação, de misericórdia e de perdão mostram que algo de novo está acontecendo; e, que os seus discípulos andarão pelo mundo, com a força do alto – Espírito Santo – para continuar com a mesma obra dele. Claro que a confiança no Pai dá a Jesus e aos seus seguidores a esperança da vitória final definitiva: “Quem perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10,22). Todavia, isso não quer dizer que já não se experimenta a vida nova hoje.

            É, então, permitido perguntar: qual é a verdadeira identidade do cristianismo, a partir de Jesus dos evangelhos? É viver hoje ou é esperar para o futuro?

 

Já, mas ainda não

            Na teologia se usa esta expressão: “já, mas ainda não”. Ela pretende mostrar o aspecto misterioso do Reino. É a forma que os teólogos encontraram para falar da presença e do desenvolvimento deste mistério no mundo e na vida das pessoas que aceitam a Jesus. Uma maneira teológica para apresentar as parábolas que ensinam o crescimento lento, mas contínuo, do Reino entre os homens e as mulheres, mesmo que eles não sabem como isso acontece.

            Outra forma de testemunhar a ação do Reino já nesta vida são as inúmeras passagens que relatam a alegria que as pessoas encontraram e encontram quando acolhem a Boa Nova em suas vidas. Alegria esta que é comparada ao achado de um tesouro que estava escondido; alegria que faz o ser humano valorizar, não mais os bens que passam, mas os bens que permanecem. São Pedro chama isso de “palavras de Vida Eterna” (Jo 6,68).

            Portanto, a questão não consiste em se preocupar no acumular boas obras para quando for prestar contas, mas em viver intensamente a vida nova que Cristo trouxe, já hoje, aqui e agora. As obras acompanharão aqueles que se deixam transformar por Cristo. Elas darão testemunho da presença do Reino já agora, mas que irá se manifestar sempre mais, até sua consumação, quando Deus quiser.

            Ao responder “Ele está no meio de nós”, portanto, a comunidade de fé testemunha justamente isso: o Reino está entre nós, porém está em crescimento, à medida em que produz frutos de justiça, de fraternidade e de paz, que aguardarão sua realização definitiva quando Deus será tudo em todos, no último dia (cf. 1 Cor 15,28).

Pe. Mário Fernando Glaab.