quarta-feira, 12 de agosto de 2020

Igreja: pregar o amor de Deus conforme Jesus.

O AMOR SEGUNDO CRISTO E A IGREJA

 

            Muito se fala, se escreve e se canta sobre o amor, mas pouco se reflete sobre o que se entende por amor na visão cristã. Longe de querer ensinar a doutrina cristã como um todo, porém pretendendo colaborar, eis uma pequena reflexão:

 

Evangelho de Jesus

            Necessariamente, ao se falar de uma característica cristã de amor, é preciso ter presente a pessoa de Jesus Cristo, o Homem de Nazaré. Afinal, o que Jesus veio anunciar sobre amor?

            A própria palavra “evangelho”, traduzida para nossa língua, quer dizer boa notícia. Ao nos referir ao Evangelho de Jesus Cristo, referimo-nos a algo de bom que ele veio anunciar. O que, e a quem? Aí está a questão central.

            Jesus, com sua pregação e seu modo ser e de agir, não trouxe um ensinamento novo, uma nova doutrina ou nova moral, mas ele revelou Deus. E a partir daí se estabelece doutrina e moral. Ele anunciou e mostrou aos seus ouvintes e observantes quem é Deus. Resumiu tudo na palavra “Pai”. Contudo, passou a sua vida explicando e mostrando o que isso significava. E completou esta obra quando aceitou a morte de cruz. Dessa forma ele revelou que este Pai é só amor. Ama incondicionalmente a todos. A Ressurreição foi a confirmação da obra de Jesus por parte do Pai. Jesus mostrou que Deus não pode não amar. Isto vai ao encontro do que o ser humano tem no mais profundo de sua consciência, pois a luz que habita no mais íntimo de cada um de nós nos diz: ninguém foi criado para o mal, porém todos existem para o bem, a partir do Deus Criador. Aí vemos que Jesus Cristo e o coração humano dizem a mesma coisa. Jesus nos revela o que está no mais profundo de nosso coração.

            A revelação de Jesus é para todos, no entanto, ele se lança de corpo e alma para levar esta boa notícia aos que mais precisam dela para viver com dignidade: os pobres, os pecadores, os desvalidos da sociedade, e para todos os que sofrem injustiças. Para estes ele repete: “Felizes, vós os pobres” porque sois amados por Deus. E promete-lhes justiça.

            Sem dúvida, esta revelação leva para uma realidade que transcende a nossa história, mas está bem fixada no aqui e no agora. A partir do que Jesus falou e fez, dá para concluir tranquilamente que a justiça de Deus não é neutra: ele olha sempre para baixo, tem caráter de proteção e de defesa para o inocente injustamente tratado. Aliás, foi justamente por causa disso que condenaram Jesus à morte. Pois isto incomodou os de cima, os privilegiados, os que viviam às custas dos pobres. Eliminaram-no para poderem continuar sua vida, explorando, matando e condenando.

            A vida de Jesus, então, não pode ser acusada de ideológica já que se situou até o fundo ao lado dos abandonados, sem jamais deixar de apontar para o céu, e pode dizer aos pobres, aos pecadores, aos explorados, marginalizados, com autenticidade assinada com seu sangue: “Bem-aventurados, vós os pobres”.

 

Igreja de Jesus

            Para a Igreja ser verdadeiramente “Igreja de Jesus”, precisa estar na mesma linha dele. Não deve se preocupar com ensinamentos bonitos, bem elaborados; mas, muito mais em estar em sintonia com o que Jesus revelou: que Deus é só amor e, que se volta com seu rosto paterno para seus filhos menores; que vê o caído à beira do caminho. Enquanto a Igreja estiver preocupada, em primeiro lugar, com ensinamentos espirituais e morais, deixando de lado este núcleo originário, ela não está sendo fiel ao seu fundador. Sua pregação deve sempre partir do Deus que ama a todos e quer que todos se salvem, fazendo-se Boa Nova para os que a sociedade considera à sua margem, e assim recuperá-los.

            Há críticas sobre os destinatários da pregação da Igreja, para estes ou para aqueles. Na verdade, ela deve pregar a todos, pobres e ricos. Porém, a forma como ela o faz, há de ser prudente. Deve evitar a tentação de justificar as riquezas como bênçãos de Deus, quando na verdade podem ser frutos de negociações injustas, de trabalhos mal pagos etc. Há de procurar conscientizar aos ricos quanto à sua pobreza por confiarem nos bens que passam e não aceitarem o verdadeiro amor em suas vidas. Diante da acusação de certas pregações desfocadas, um grande teólogo de nosso tempo escreve: “O grande erro da Igreja não foi tanto pregar aos ricos, mas o fato de essa pregação ter se transformado em uma confirmação da posição de classe deles” (González Faus). É necessário repetir sempre de novo que a Igreja não pode excluir os ricos do anúncio da salvação, mas deve adverti-los, em nome do Deus-Amor, de que eles correm o risco de se auto-excluirem; e por isso devem também fazer a experiência do Deus que os ama, não por serem ricos (e podem ajudar com seus bens), mas por que necessitam de libertação.

            Concluindo, assim como Deus ama indistintamente a todos – como Jesus ensinou e fez -, não mais os pobres porque são melhores, ou os ricos porque têm bens para dar, mas porque ele é Amor, e só amor; assim também a Igreja, na sua missão de anunciar e realizar o amor de Deus no mundo – dando continuidade à missão de Jesus -, deve também amar e anunciar a todos, tanto aos pobres como aos ricos, que são amados por Deus e, que ele quer libertar a cada um. A Igreja deve estar à disposição da Verdade que é Cristo que se fez pobre para estar com os pobres, e, nunca ceder à tentação das riquezas que prendem e matam.

Pe. Mário Fernando Glaab.