ONDE
ESTÁ DEUS?
Onde está Deus, este de quem esperamos ajuda; de quem
falamos tanto? Onde está o seu trono, onde podemos ver o Céu? Estas são
perguntas que fazemos; aliás, sempre foram feitas, e mais ainda hoje com as
conquistas da ciência que penetra cada vez mais no universo, que parece ser
infinito. Mas, Deus e o seu trono não é encontrado.
Foram exatamente estas questões que Peter Seewald
perguntou ao papa emérito Bento XVI no final de uma longa entrevista, pouco
tempo faz. (Entrevista que virou livro: Bento
XVI – O último testamento em suas próprias palavras, Editora Planeta). A
resposta de Bento XVI – fruto de seu profundo conhecimento teológico, e mais,
da longa experiência da vida de fé – é bastante interessante. Ele diz: “Não
existe um lugar onde Ele (Deus) está sentado em seu trono. O próprio Deus é o
lugar sobre todos os lugares. Quando o senhor olha para o mundo, não vê o céu,
mas vê em todos os lugares as marcas de Deus. E onde o senhor vês seres humanos
encontrará as marcas de Deus. O senhor vê o vício, mas também vê a bondade, o
amor. São esses os lugares, aí é onde Deus está” (p.277). E o bom Papa Emérito
continua a explicar que Deus não está “num lugar” ou “num momento”, mas que Ele
é o criador de todos os lugares e de todos os tempos. Justamente por isso, Deus
está fora dos espaços e dos tempos, mas estes são frutos da sua mão criadora.
Ele é o Criador Infinito, a Realidade. O estar em um lugar é limitação. “O
Criador, que é tudo, se estende por todos os tempos e não é Ele mesmo o tempo,
mas o cria e sempre está presente” em todos os lugares.
Deus
em Jesus
Deus está em todos os lugares e em todos os tempos.
Contudo, Ele se fez um de nós – ser humano – em Jesus de Nazaré. Um homem
concreto, histórica e geograficamente localizado. Jesus nos revela, não mais um
Deus distante e inacessível, mas um Deus pessoal que está no meio de nós. Ele
mesmo, em todo o seu ser, nas palavras e nos feitos, é Deus-conosco. É nele que
se pode e se deve encontrar com Deus.
Mas Jesus realiza este encontro do humano com o divino de
que modo? Sem dúvida, ele o oferece o encontro, porém da parte do homem
necessita ser acolhido. Esta acolhida é adesão de fé. Quem se deixa tocar pelo
Homem-Jesus-de-Nazaré em sua concretude histórica e geográfica, experiencia seu
amor incondicional defronte a seus pecados, este pode dizer “Deus está aqui
agora!”. Este “toque”, no entanto, não se restringe aos homens que viveram na
Palestina no século I de nossa era. Jesus, o Deus Encarnado, assumiu todos os
seres humanos em todos os tempos e em todos os lugares, como toda a criação.
Isso quer dizer que Ele se faz presente em toda a natureza, mas de modo
especial nos pequenos e humildes, seus irmãos e irmãs pobres e doentes. É
neles, estejam onde estiverem, que Deus continua a se fazer humano para se
encontrar com os humanos. Lá Ele toca a humanidade sempre de novo. Mas somente
os que se deixam tocar com fé por esta manifestação de amor são capazes de
reconhecê-lo e comungar com Ele.
Deus
pessoal em comunhão com pessoas
A teologia e a catequese precisam ajudar o homem de hoje
a se libertar de muitos conceitos ultrapassados, que a cultura científica não
aceita mais. É necessário mudar a linguagem e os esquemas conceituais, que já
não são compreendidos, para uma linguagem e tradução mais atualizadas, que
possam ajudar o homem a compreender hoje que Deus não deve ser procurado em “um
lugar” ou em “um tempo” determinados. Deus, que é Pessoa, está com cada pessoa
em qualquer lugar e em qualquer tempo.
Assim como para nós, seres humanos pessoais, o espaço e o
tempo não são limites intransponíveis, pois nós os transcendemos; assim o
Deus-Pessoa ultrapassa todo espaço e todo o tempo, uma vez que Ele sustém a
tudo. Nós não estamos apenas em nosso corpo aqui e agora, mas vivemos uma
amplidão, isto é possível, pois espaço e o tempo estão ao nosso dispor. Nossos
relacionamentos, tanto amorosos quanto odiosos, vão além do que está aqui e é
agora; podemos estar e influenciar em outro lugar e aqui ao mesmo tempo, assim
como hoje e no futuro. Claro que sempre sob a comunhão ou não-comunhão com Deus
que é Pessoa por excelência. Ele, Deus, é Pessoa, e não podemos fixá-lo em uma
localidade física ou momento histórico, já que sua personalidade abrange todos
os lugares e todos os tempos.
Concluindo, nós não podemos e nem devemos fixar Deus e as
pessoas a espaços e a tempos. Deus e as pessoas vão além deles. Deus, como
Criador, sustém todos os lugares e todos os tempos; e os seres humanos, pessoas
na Pessoa, estão acima das limitações de espaço e de tempo. Elas, na sua
comunhão com Deus, trazem em si, no aqui e no agora, o próprio ser de Deus.
Esta comunhão se atualiza em toda plenitude em Jesus de Nazaré e, na vida dos
seres humanos que se abrem ao seu projeto. Lá, aqui e agora, está Deus! O seu
trono está no coração e na história de cada ser humano que o deixa entrar e
agir, assim como na natureza que Deus mantém na existência para o bem homem.
Pe. Mário Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com