RELIGIÃO,
PARA QUÊ?
Se é Deus quem salva, mais ainda no
cristianismo se crê que é Jesus quem salva, para que serve a religião? Alguns
dizem que todas as religiões são boas, outros, pelo contrário, já pensam que as
religiões não contam, mas que é preciso crer e esperar a salvação de Deus ou de
Jesus – que é Deus. O que dizer das religiões e da religião cristã?
Religião
e salvação
Religião, num sentido muito amplo, quer levar ao conceito
de voltar para a divindade. “Religar a Deus” as pessoas ou coisas que estão
desligadas dele. Por traz desse conceito já transparece a ideia de que a
salvação não está na religião em si, mas naquele ao qual ela leva ou liga. A
salvação está além da religião. Está em Deus mesmo ao qual a religião “liga” o
religioso.
Os que afirmam tranquilamente que todas as religiões são
boas, talvez não têm clara a função delas. Não há dúvida de que uma instituição
séria que se arvora o título de “religião” deve estar preocupada em levar os
seus adeptos a Deus; contudo, algumas fazem isto com mais segurança e
comprometimento, enquanto outras o fazem por caminhos mais tortuosos. Não é tão
simples assim, uma vez que em tudo isso está presente o elemento humano, que
não deixa de ser dicotômico, isto é, uma mistura de boas e não boas intenções.
É o ser humano que se torna religioso, mas em tudo isto ele leva consigo o bem
e o mal. A maneira de “organizar sua religião” pode ter elementos muito bons e
outros maus.
Se não é a religião que salva – mas somente Deus -, ela
para ser boa, precisa oferecer ao ser humano os meios para que este possa se
encontrar com o Deus Salvador. Necessita dar-lhe condições para se abrir à
salvação que vem de fora. Sem dúvida, existem tradições religiosas que
pretendem garantir a salvação através de seus ritos e de suas normas de vida,
mas não é esta a concepção de religião que nos orienta. Confundir Deus com
religião não é bom.
Religião
cristã
No cristianismo dos últimos tempos há grupos que exageram
em afirmar que “é só Jesus quem salva! A religião não salva ninguém”. Tudo bem,
é Jesus quem salva. Porém, podemos perguntar a estas pessoas: como haveremos de
chegar a Jesus, a não ser por meio de uma religião? O próprio fato de
valorizarem tanto as Escrituras já conduz à valorização da religião. Quem
“produziu” as Escrituras? Quem nos transmite e prega o Evangelho? Não foi uma
religião, e os pregadores não são homens religiosos?
Na fé cristã nada é mais importante do que o encontro
vivo com Jesus Cristo, que se professa ser o Senhor. Caso alguém nega isto, não
pode ser cristão. É de Cristo que se espera a salvação. Mas para isto, a
religião fornece os meios. Ela ensina quem é Jesus Cristo e, ao mesmo tempo,
estabelece a conduta de vida que abre as portas para que Ele se torne o
Salvador do fiel. Ensina e incentiva o sujeito a seguir, como discípulo, os
passos do Mestre. A pessoa é treinada a viver como Ele viveu, isto é, no amor a
Deus e às criaturas.
Já no tempo da Reforma Protestante (século XVI) se tinha
consciência de que da religião cristã – se ela quiser ser coerente – se deve
esperar duas coisas: uma doutrina moral e uma orientação cívica para bem viver
e, o consolo diante da morte e do juízo final. Como se pode ver, o primeiro
aspecto trata do como viver; é exigência. O segundo é promessa de salvação
futura; é tranquilizante. A religião deve conservar no fiel estes dois aspectos
unidos, nunca acentuar demais um em detrimento do outro. As duas coisas
necessitam andar juntas. Se quisermos, podemos dizer que a fé é o primeiro
passo para alguém ser religioso, a caridade se inicia no caminhar, e a
esperança ilumina tudo.
Jesus
e a fé judaica
Alguns dizem que Jesus, por ser judeu, apenas aprofundou
a fé daquela tradição. Não é bem isso. Jesus renovou, não somente os costumes,
mas principalmente a ideia e a experiência que se tinha de Deus. A partir da
concepção e da experiência de Deus como Pai, o Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo, é que se forma a religião cristã. Isto é muito importante.
Assim, a religião cristã, para ser conforme o seu
Fundador, deve levar os seres humanos a conceber Deus de modo novo. Não mais
como um Deus distante e legislador, muito menos como um ameaçador, mas como
aquele que é Pai Querido. De experimentá-lo na vivência concreta da caridade
para com o próximo, e com todas as criaturas, que que são obras de seu amor.
Conclusão
Precisamos
ir a Deus por Jesus, o Salvador, mas a religião, que se concretiza na Igreja,
tem a importantíssima tarefa de mostrar quem é Deus, e como se abrir aos seus
convites de amor salvífico.
As
religiões são boas e necessárias, sim. Tanto mais o são quanto mais levam a
Deus que ser revela e que salva. Uma religião que não faz isto não é boa
religião. Em todas elas é preciso discernir o que é bom do que não é bom;
aproveitar do que é bom e eliminar o que não bom. Quanto mais as religiões se
unirem para construir um mundo melhor, tanto mais estarão levando a Deus e,
estão cumprindo sua missão. Por outro, lado, quanto mais elas brigam entre si,
tanto mais são causa de discórdia entre os povos, e afastam de Deus, negando
sua própria missão.
Pe.
Mário Fernando Glaab.
www.marioglaab.blogspot.com.br