IGREJA
EM SAÍDA E NOVO PENTECOSTE
Mais do que nunca, hoje, nos tempos do Papa Francisco, a
Igreja é desafiada a sair de si mesma para cumprir sua missão no mundo. A
necessidade de um “Novo Pentecostes” para a Igreja é tema recorrente, desde o
Vaticano II, mas agora, com Francisco, a questão toma novo vigor. Ele critica
os hierarcas, mas também os fiéis em geral, que não têm coragem de se abrir
para o mundo e de ir onde estão as pessoas com suas alegrias e suas dores, seus
anseios e suas angústias. A Igreja não deve chamar a atenção sobre si mesma
(autorreferencialidade), porém precisa ser presença de Cristo em todas as
periferias da sociedade e do mundo. Esta é a ordem que recebeu de Cristo antes
de subir ao Pai.
Trabalhar
com Espírito
Francisco fala da evangelização lembrando que os cristãos
devem sempre trabalhar “com Espírito”. Esta expressão ensina que não basta ter
qualidades ou boa vontade; mas que é preciso estar “possuído” pelo Espírito
Santo. Isto é possível para os evangelizadores que “rezam e trabalham”; aqueles
que se deixam transformar interiormente. A própria evangelização é a oração, e
vice-versa. Sem esta união profunda entre a oração, abertura ao Espírito, e
trabalho, dedicação ousada, não existe anúncio eficaz da Boa Nova de Jesus
Cristo. O Papa escreve: “Do ponto de vista da evangelização, não servem as
propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso missionário, nem os
discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o
coração” (EG 262).
Os discípulos, ao receberem o Espírito Santo no
Pentecostes, saíram imediatamente para fora. Para fora do lugar onde estavam,
mas também para fora de si mesmos. Transformaram-se em anunciadores das
maravilhas de Deus com muita ousadia. Igualmente hoje a Igreja necessita de
anunciadores ousados que trabalhem com Espírito. Por isso, como dizem os bispos
no documento de Aparecida, há necessidade absoluta de um Novo Pentecostes para
a Igreja na América Latina e no mundo, para que assim, convertidos “em uma
Igreja cheia de ímpeto e audácia evangelizadora, temos que ser de novo
evangelizados e fiéis discípulos” (Ap. 549).
“Saída”:
Por quem, para onde e por quê?
A proposta de Francisco merece ser aprofundada para não
ficar no abstrato, só na teoria. Perguntamos: Quem precisa sair? Para onde deve
sair? E, por que deve sair? À luz destas perguntas pode-se descer para algo bem
mais concreto. Veremos:
Há na Igreja uma tentação que, quando não é combatida,
acaba com todo o trabalho pastoral. Trata-se do clericalismo. Ele se verifica
no clero, mas também em meio aos leigos. É aquela ideia de que a Igreja é a
Igreja dos clérigos, e, daqueles que estão diretamente ligados a eles. Tudo
depende deles, uma vez que eles são uma classe especial; pois são mais
treinados no saber teológico e na santidade. O clericalismo é uma doença que
busca desenfreadamente o poder e a fama. Separa do povo comum. Também leigos
pensam e agem “clericalisticamente”; são como “super-leigos” pelo fato de se
julgarem iniciados em caminhos clericais.
A Igreja em saída com Espírito, é a Igreja toda: pastores
e leigos. Não temos como separar uns dos outros. Cada um tem sua missão no
corpo clerical, mas ninguém tem o direito de se fechar na sacristia. Certamente
cabe ao clero ir adiante para os campos do mundo onde acontece a vida; mas lá
eles não estão sozinhos, pois é o lugar próprio dos leigos. E, como lembra o
Papa Francisco, o pastor sabe ir à frente do rebanho, outras vezes caminha com
ele, e ainda, conforme a situação, segue atrás. Então, nada de separação ao
perguntar quem deve sair: todos, Igreja Povo de Deus.
Para
onde? Para onde houver vida humana. A vida é o dom mais precioso da criação de
Deus, e, a Igreja tem a missão de torná-la viável. Jesus diz que veio trazer
vida para todos, e a Igreja, como sacramento de Cristo não pode negar sua
tarefa de continuar fazendo o que Jesus fez. Lá onde a vida é mais ameaçada a
Igreja deve estar mais presente para ser fiel ao seu Mestre.
Por quê? Consciente do dom gratuito recebido de seu
Senhor, a Igreja leva vida a todos sem nada esperar em troca. Nenhum interesse,
somente a partir da experiência do encontro com a misericórdia de Deus em Jesus
Cristo, o Salvador da humanidade. A alegria de compartilhar a fé, a esperança e
o amor.
Concluindo
Somente uma Igreja “com Espírito” pode trazer um novo
Pentecostes para o mundo. A Igreja desejada por Francisco é uma Igreja pobre
para os pobres, isto é, uma Igreja livre para ouvir a voz de seu Senhor e
dizê-lo a todos. As riquezas amarram e não deixam a vida se desenvolver. Elas
têm o seu próprio “espirito”, o espírito do da não-vida para todos.
Portanto, neste ano do laicato, a grande chamada é para
que todos, leigos e ministros ordenados, se conscientizem que é o Espírito que
conduz a Igreja, e que ela deve ser dócil aos seus apelos de sair com coragem
para as periferias onde a vida é massacrada, esquecida e morta. Todos devem dar
gratuitamente do que receberam, pois o Espírito quer renovar a face da terra.
Quanto mais a Igreja se envolve na defesa da vida de todos – a começar pelos
mais pequeninos -, tanto mais ela cumpre sua missão recebida de Jesus de Nazaré
que é levar a Boa Notícia da presença amorosa de Deus entre toda a humanidade.
Lá onde está a vida, lá está o Deus de Jesus Cristo.
Pe. Mário Fernando Glaab