MALDADE
E BONDADE
Um teólogo atual escreveu: “O mal é inteligente, ativo,
voluntário, decidido, perverso e produtor de perversão – é demoníaco e é
pessoal, é o maligno ‘e seus anjos’ (Mt 25,41) -, os anjos de carne e osso,
mensageiros do maligno que infernizam a vida do mundo” (L. C. Susin); e no
mesmo livro (O tempo e a eternidade) o autor escreveu: “Não há melhor
representação dos deuses do que as estátuas em sua imutabilidade, bela mas
trágica eternidade sem o movimento da vida”. Isto me fez pensar, e resolvi
compartilhar o seguinte:
Maldade
O mal, dizem os filósofos, não existe; ele é apenas a
ausência do bem. Pode ser verdade. Mas, a maldade se mostra com muitas caras; e
como! Talvez ela não esteja solta por aí, porém em muitas pessoas que deveriam
ser boas, há carências; e, em consequência disso tornam-se más. Aí está a
maldade. Elas não são o mal, mas a maldade está nelas. Ou ainda, por não serem
boas, deixam que a não-bondade as possua.
Quando o teólogo fala das qualidades do mal (inteligente,
ativo, voluntário...), ele está apresentando a dinamicidade das carências. Os
vazios de bondade que se preenchem com maldades. Não há nada de estático, de
parado. Os espaços vazios serão ocupados. Esta é uma lei da natureza. E isso
vale também para as pessoas que deixam espaços em suas vidas sem ocupá-los com
coisas boas. Já dizia um formador espiritual: “Quem não se ocupa, o diabo
ocupa!”
A maldade que se instala no coração das pessoas faz muito
mal. Mal que afeta, não de forma abstrata, mas diretamente a “vida do mundo”. É
a perversidade agindo e infernizando. Contudo, isto por haver anjos maus “de
carne e osso” que agem pessoal e diretamente. Quando se diz que “infernizam”,
entende-se que dificultam, ou lutam contra a vida do mundo. Isto quer dizer que
a maldade impede a verdadeira vida; e que o mal instalado nos humanos é
obstáculo e até morte, por impedir a vida.
Bondade
Bom é aquele que possui o Bem. Sabe-se também que o Bem
está acima de toda capacidade humana, ele é infinitamente superior à criatura
humana; então pode-se dizer que bom é aquele que é possuído pela Bem. Ou ao
menos, é o sujeito no qual existe uma parcela da bondade do Bem.
Se a maldade é dinâmica, se ela perverte o mundo; muito
mais a bondade transforma e renova a vida no mundo. O autor citado, ao falar da
imutabilidade dos deuses representados nas estátuas, lembra que eles nada fazem
contra os ataques da maldade. São sem movimento. Então, a bondade que vem do
Bem no íntimo das pessoas não pode ser estática. Ela é vida, e vida que se
renova, que cresce, que se movimenta em direção a uma meta. Existe um horizonte
que é a força motriz de toda a bondade. A bondade vem do Bem que é o Deus da
vida, não dos deuses sem vida.
A bondade, como valor positivo, tem muito mais força
transformadora que a maldade, uma vez que engloba tudo em si. Se a maldade usa
as armas da violência, a bondade usa a vitalidade do amor que não reage ao
violento, mas o procura converter. O amor somente busca justiça, no sentido de
que a bondade possa atingir a todos, transformando igualmente o maldoso.
O
Reino como horizonte
Sem dúvida, no mundo convivem as duas realidades, a
bondade e a maldade; porém elas estão em luta contínua entre si. Não abstratamente,
mas no interior das pessoas e entre as pessoas. Mesmo que às vezes se tem a
impressão de que a maldade está vencendo, não se deve esmorecer. Alguém já
venceu em nome do amor. Este é Jesus Cristo, o Filho de Deus humanado, que foi
a vítima de todos os malvados. Ele ressuscitou e está vivo; na força de seu
Espírito move os corações de todos os que o aceitam na fé para levar adiante
seu projeto de vida e bondade, o Reino de Deus.
Para nós o Reino ainda está no horizonte, isto é, algo
que se aproxima sem se tornar objeto possuído, pois está no além do próprio
Deus; mas para o Ressuscitado ele é realidade possuída. Tenhamos este horizonte
diante de nós; e, na fé em Jesus Cristo, na força de seu Espírito, lutemos
contra qualquer maldade, venha ela de onde vier, na certeza de que um dia a
bondade, presença do Bem nos humanos, há de vencer também em nós.
Pe. Mário Fernando Glaab