sexta-feira, 5 de julho de 2019

O Reino de Cristo como horizonte


MALDADE E BONDADE

            Um teólogo atual escreveu: “O mal é inteligente, ativo, voluntário, decidido, perverso e produtor de perversão – é demoníaco e é pessoal, é o maligno ‘e seus anjos’ (Mt 25,41) -, os anjos de carne e osso, mensageiros do maligno que infernizam a vida do mundo” (L. C. Susin); e no mesmo livro (O tempo e a eternidade) o autor escreveu: “Não há melhor representação dos deuses do que as estátuas em sua imutabilidade, bela mas trágica eternidade sem o movimento da vida”. Isto me fez pensar, e resolvi compartilhar o seguinte:

Maldade
            O mal, dizem os filósofos, não existe; ele é apenas a ausência do bem. Pode ser verdade. Mas, a maldade se mostra com muitas caras; e como! Talvez ela não esteja solta por aí, porém em muitas pessoas que deveriam ser boas, há carências; e, em consequência disso tornam-se más. Aí está a maldade. Elas não são o mal, mas a maldade está nelas. Ou ainda, por não serem boas, deixam que a não-bondade as possua.
            Quando o teólogo fala das qualidades do mal (inteligente, ativo, voluntário...), ele está apresentando a dinamicidade das carências. Os vazios de bondade que se preenchem com maldades. Não há nada de estático, de parado. Os espaços vazios serão ocupados. Esta é uma lei da natureza. E isso vale também para as pessoas que deixam espaços em suas vidas sem ocupá-los com coisas boas. Já dizia um formador espiritual: “Quem não se ocupa, o diabo ocupa!”
            A maldade que se instala no coração das pessoas faz muito mal. Mal que afeta, não de forma abstrata, mas diretamente a “vida do mundo”. É a perversidade agindo e infernizando. Contudo, isto por haver anjos maus “de carne e osso” que agem pessoal e diretamente. Quando se diz que “infernizam”, entende-se que dificultam, ou lutam contra a vida do mundo. Isto quer dizer que a maldade impede a verdadeira vida; e que o mal instalado nos humanos é obstáculo e até morte, por impedir a vida.

Bondade
            Bom é aquele que possui o Bem. Sabe-se também que o Bem está acima de toda capacidade humana, ele é infinitamente superior à criatura humana; então pode-se dizer que bom é aquele que é possuído pela Bem. Ou ao menos, é o sujeito no qual existe uma parcela da bondade do Bem.
            Se a maldade é dinâmica, se ela perverte o mundo; muito mais a bondade transforma e renova a vida no mundo. O autor citado, ao falar da imutabilidade dos deuses representados nas estátuas, lembra que eles nada fazem contra os ataques da maldade. São sem movimento. Então, a bondade que vem do Bem no íntimo das pessoas não pode ser estática. Ela é vida, e vida que se renova, que cresce, que se movimenta em direção a uma meta. Existe um horizonte que é a força motriz de toda a bondade. A bondade vem do Bem que é o Deus da vida, não dos deuses sem vida.
            A bondade, como valor positivo, tem muito mais força transformadora que a maldade, uma vez que engloba tudo em si. Se a maldade usa as armas da violência, a bondade usa a vitalidade do amor que não reage ao violento, mas o procura converter. O amor somente busca justiça, no sentido de que a bondade possa atingir a todos, transformando igualmente o maldoso.

O Reino como horizonte
            Sem dúvida, no mundo convivem as duas realidades, a bondade e a maldade; porém elas estão em luta contínua entre si. Não abstratamente, mas no interior das pessoas e entre as pessoas. Mesmo que às vezes se tem a impressão de que a maldade está vencendo, não se deve esmorecer. Alguém já venceu em nome do amor. Este é Jesus Cristo, o Filho de Deus humanado, que foi a vítima de todos os malvados. Ele ressuscitou e está vivo; na força de seu Espírito move os corações de todos os que o aceitam na fé para levar adiante seu projeto de vida e bondade, o Reino de Deus.
            Para nós o Reino ainda está no horizonte, isto é, algo que se aproxima sem se tornar objeto possuído, pois está no além do próprio Deus; mas para o Ressuscitado ele é realidade possuída. Tenhamos este horizonte diante de nós; e, na fé em Jesus Cristo, na força de seu Espírito, lutemos contra qualquer maldade, venha ela de onde vier, na certeza de que um dia a bondade, presença do Bem nos humanos, há de vencer também em nós.
Pe. Mário Fernando Glaab