EUCARISTIA:
COMUNGAR COM O POBRE
Eucaristia é ação de graças. Uma obra de agradecimento.
Quem agradece, senão aquele que recebeu algo? Algo que não possuía, algo que o
enriqueceu. Aí estão em jogo dois elementos: doação e recepção; alguém que dá e
alguém que recebe. Dois pobres. O primeiro é pobre porque não está apegado ao
que tem e sabe doar; o segundo, porque acolhe um dom que não possuía e o
valoriza. Comunhão de pobres que se faz ação de graças.
Ação
de graças
Só o pobre dá graças. O rico não agradece, pois ele acha
que merece tudo o que tem. Não questiona de onde vêm os seus bens. Sua ganância
não tem limites, só pensa em aumentar mais suas riquezas. Não se importa se os
meios para possui-los são corretos ou não. Dar graças é próprio de quem reconhece
sua pobreza e sabe valorizar o que recebe. Acolhe e faz frutificar.
Não é possível dar graças sem compromisso efetivo. Ao
acolher um presente, necessariamente, se assume um compromisso: usá-lo para o
bem. Isto é ação de graças. Quando uma criança recebe um brinquedo de presente,
ela dá graças quando com alegria vai brincar. Assim ao ser contemplado por uma
dádiva, dá-se graças por ela na medida em que ela será usada para a finalidade
que lhe é própria.
Nos evangelhos se diz que Jesus, seguindo a tradição dos
ritos judaicos, tomou o pão e o vinho e deu graças. Agradeceu ao Pai por estes
dons que representavam a vida de seu povo. Mais ainda, fez com que eles se
tornassem seu próprio corpo e sangue – sua existência toda – para com eles dar
graças a Deus. Ele, Jesus, é o verdadeiro pobre! Ele recebe a missão salvífica
do Pai na força do Espírito, e por isso, no seu corpo e sangue dá graças.
Entrega-os para a salvação do mundo. Acolhe e faz frutificar.
Cristãos
na esteira de Cristo
O cristão aprende com Cristo. Cristo deu graças ao Pai
com sua Vida, Paixão, Morte e Ressurreição, sacramentadas na Eucaristia. O
cristão, cada vez que celebra com Jesus estes mistérios, coloca-se como pobre
na mesma dinâmica: recebe e dá. Acolhe o maior presente de amor de Deus – Jesus
Salvador -, e alimentado dele, o dá para a salvação do mundo.
Assim o cristão, na esteira de Cristo, colabora com a
salvação do mundo à medida em que, como pobre, acolhe a existência toda de
Jesus e a oferece aos demais pobres. Faz frutificar em sua vida os dons
recebidos. Isto é Eucaristia, isto é Ação de Graças.
Quem toma parte da Ação de Graças de Cristo e da Igreja
nunca pode afastar seu olhar do pobre; nunca pode negar a ele uma palavra de
consolo; nunca pode deixar de lhe estender a mão; nunca pode deixar de lhe dar
alguma coisa, por mínima que seja.
A comunhão na Eucaristia de Cristo implica num
aprendizado, numa caminhada contínua. Inicia com uma caridade mínima como
atitude assistencialista: dar algo ao pobre, mas que não o tira de sua
situação. Outro passo é a o estar com
o pobre: partilhar sua vida, seu modo de rezar e de conviver. É uma forma de
amor solidário. Mas alguns chegam, por graça especial de Deus, a viver como pobre. É um despojar interior e
exterior, viver com o estritamente necessário, alegrando-se como os pobres,
sofrendo como os pobres e rezando como eles rezam. Fazem assim a mais alta Ação
de Graças, uma vez que dão um sentido todo novo para a existência. Colocam tudo
no seu devido lugar, diante de Deus e diante do mundo.
Quem comunga dessa forma com o pobre, comunga igualmente
com Jesus Cristo e, com este está construindo o verdadeiro Reino de Deus sobre
a face da Terra.
Conforme Jesus explicou, quem de fato irá julgar nossas
“eucaristias” é o pobre. O pobre será o nosso juiz! Verifiquemos as palavras de
Jesus em Mt 25,31-46.
Pe. Mário Fernando Glaab.