sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Nossa resposta à proclamação do Evangelho

PROCLAMAÇÃO DA BOA NOTÍCIA

 

            Escutamos sempre de novo, em nossas celebrações litúrgicas: “Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo...”, e acontece, às vezes, de nem tomarmos consciência do que isto quer dizer. A resposta sai quase que automaticamente: “Glória a vós, Senhor!” Por que “proclamação”, e por que “Evangelho”?

 

Proclamação

            O dicionário diz que proclamar é o mesmo que anunciar em público e em voz alta; afirmar com ênfase. É, portanto, o anúncio de algo que interessa a todos, e que está sendo feito com entusiasmo. É algo bem mais profundo que um aviso ou algum ensinamento teórico. A proclamação traz em si uma realidade que já está no anunciador e que se difunde nos destinatários da mesma. O anunciado atingirá a todos: o proclamador, porém mais ainda, àqueles aos quais é anunciado. Isto, em outras palavras, quer dizer que uma proclamação, para ser verdadeira, faz com que a coisa se torne atual, se concretize no presente e no lugar onde acontece. O anunciador e os ouvintes-acolhedores estarão todos envolvidos pelo conteúdo do que está sendo proclamado.

            Há grande diferença entre relatar um acontecimento para que seja conhecido pelos alunos, por exemplo; e proclamar que agora o colégio tem novo diretor. No primeiro caso, é apenas uma notícia que se soma aos conhecimentos dos alunos, porém, no segundo todos serão envolvidos pela figura e importância que o novo diretor representa. Quando, então, em nossas celebrações da Palavra, há proclamação, acontece algo bem diferente do que acontece durante uma aula ou durante um encontro de estudo, mesmo que estes sejam bíblicos.

            Então, as proclamações que são realizadas em nossas celebrações da Palavra são muito mais do que uma lembrança daquilo que aconteceu num passado com Jesus, com os profetas ou com os apóstolos. As proclamações atualizam o que foi dito ou feito por estes, mesmo que feitos há mais de dois mil anos.

 

Evangelho

            Evangelho é uma palavra grega que em nossa língua se traduz por “boa notícia”, “boa nova”. Evangelho é algo de novo e de bom que é para todos. E como é de Jesus Cristo, trata-se daquilo que Ele tem para dizer e para realizar em nosso favor hoje, da parte de Deus, do qual Ele é o Messias, o Filho. Não é uma notícia boa qualquer, porém aquela que o próprio Deus tem para nós. É a revelação de Deus, a notícia máxima. Boa Nova que contém todas as boas notícias para a humanidade. Lembramos que Jesus é a Palavra feito carne que está em nosso meio (cf. Jo 1,14), isto é, Deus convivendo, ou mais ainda, Deus vivendo a nossa vida para ser o Caminho, a Verdade e a Vida, na vida de cada um de nós. A Boa Nova é o próprio Jesus Cristo.

            Ao se dizer que é o Evangelho de Jesus Cristo, se diz que é a Boa Nova que somente pode ser acolhida como dom gratuito, e na fé. Ninguém, nem o mais sábio ou o mais santo consegue alcançar este Evangelho, mas ele vem como um presente do infinito amor de Deus. Somente Jesus o trouxe e, continua a trazê-lo. De nossa parte precisamos acolhê-lo com muita humildade, gratidão e fé. Não somos nós que estabelecemos a conexão com Ele, mas é Ele que vem a nós, que usa todos os meios para que nós possamos estar conectados. De nossa parte, ao acolher este Mistério de Amor, somos transformados e possibilitados para o compromisso. Já que é a Boa Nova que nos é anunciada, agora nós haveremos de ser também Gente Nova, isto é, gente que “deixa” o Evangelho frutificar e se difundir pelo mundo até os confins da Terra.

 

Glória ao Senhor

            “Glória a vós, Senhor” é a resposta da assembleia diante da proclamação do Evangelho. É a resposta da fé e da acolhida, liturgicamente pensada. Não se pode ficar, porém, somente na resposta litúrgica. Esta deve levar ao compromisso. Se de fato aí é anunciado (com ênfase) a Boa Notícia de Jesus Cristo, todos os que respondem “glória”, devem se deixar transformar pelo Cristo presente com o seu Reinado.

            Na catequese ou em encontros de formação muitas vezes se incentiva as pessoas a prestarem atenção nos textos bíblicos do domingo para aprender e conhecer sempre mais sobre Cristo. Certo. Mas é muito pouco! Mais que aprender e conhecer, é necessário acolher e viver. Não será num futuro, quando se conhecer toda a bíblia (algo impossível), que se estará pronto para viver a Palavra como cristão, mas é agora que se deve viver, ao menos começar a viver. “Ele está no meio de nós” é a resposta que damos tantas vezes nas celebrações. Será que ela é dita com a devida consciência?

            Alguém diz que Jesus Cristo veio ensinar uma doutrina ou uma moral para mostrar como as pessoas devem viver no bem e evitar o mal, e assim ir para o céu. Não. Jesus é o próprio Bem, é a própria Verdade. É nEle que se tem este bem e esta verdade. Aliás, hoje em dia, cada vez mais as pessoas não querem nem o bem nem o mal, mas apenas sua própria comodidade. Cresce a mentalidade da indiferença, do “tirar o corpo fora”. Porém é neste mundo que o Evangelho de Jesus Cristo precisa ser proclamado e precisa ser acolhido. A Igreja nunca pode esquecer que também ela acolhe e, em consequência, proclama. Não pode parar. Se quiser levar as pessoas para o céu se faz necessário viver com Cristo hoje e se dispor a colaborar com o seu Reinado aqui e agora.

Pe. Mário Fernando Glaab