PROCLAMAÇÃO
DA BOA NOTÍCIA
Escutamos sempre de novo, em nossas celebrações
litúrgicas: “Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo...”, e acontece, às
vezes, de nem tomarmos consciência do que isto quer dizer. A resposta sai quase
que automaticamente: “Glória a vós, Senhor!” Por que “proclamação”, e por que
“Evangelho”?
Proclamação
O dicionário diz que proclamar é o mesmo que anunciar em
público e em voz alta; afirmar com ênfase. É, portanto, o anúncio de algo que
interessa a todos, e que está sendo feito com entusiasmo. É algo bem mais
profundo que um aviso ou algum ensinamento teórico. A proclamação traz em si
uma realidade que já está no anunciador e que se difunde nos destinatários da
mesma. O anunciado atingirá a todos: o proclamador, porém mais ainda, àqueles
aos quais é anunciado. Isto, em outras palavras, quer dizer que uma
proclamação, para ser verdadeira, faz com que a coisa se torne atual, se
concretize no presente e no lugar onde acontece. O anunciador e os
ouvintes-acolhedores estarão todos envolvidos pelo conteúdo do que está sendo
proclamado.
Há grande diferença entre relatar um acontecimento para
que seja conhecido pelos alunos, por exemplo; e proclamar que agora o colégio
tem novo diretor. No primeiro caso, é apenas uma notícia que se soma aos
conhecimentos dos alunos, porém, no segundo todos serão envolvidos pela figura
e importância que o novo diretor representa. Quando, então, em nossas
celebrações da Palavra, há proclamação, acontece algo bem diferente do que
acontece durante uma aula ou durante um encontro de estudo, mesmo que estes
sejam bíblicos.
Então, as proclamações que são realizadas em nossas
celebrações da Palavra são muito mais do que uma lembrança daquilo que aconteceu
num passado com Jesus, com os profetas ou com os apóstolos. As proclamações
atualizam o que foi dito ou feito por estes, mesmo que feitos há mais de dois
mil anos.
Evangelho
Evangelho é uma palavra grega que em nossa língua se
traduz por “boa notícia”, “boa nova”. Evangelho é algo de novo e de bom que é
para todos. E como é de Jesus Cristo, trata-se daquilo que Ele tem para dizer e
para realizar em nosso favor hoje, da parte de Deus, do qual Ele é o Messias, o
Filho. Não é uma notícia boa qualquer, porém aquela que o próprio Deus tem para
nós. É a revelação de Deus, a notícia máxima. Boa Nova que contém todas as boas
notícias para a humanidade. Lembramos que Jesus é a Palavra feito carne que
está em nosso meio (cf. Jo 1,14), isto é, Deus convivendo, ou mais ainda, Deus
vivendo a nossa vida para ser o Caminho, a Verdade e a Vida, na vida de cada um
de nós. A Boa Nova é o próprio Jesus Cristo.
Ao se dizer que é o Evangelho de Jesus Cristo, se diz que
é a Boa Nova que somente pode ser acolhida como dom gratuito, e na fé. Ninguém,
nem o mais sábio ou o mais santo consegue alcançar este Evangelho, mas ele vem
como um presente do infinito amor de Deus. Somente Jesus o trouxe e, continua a
trazê-lo. De nossa parte precisamos acolhê-lo com muita humildade, gratidão e
fé. Não somos nós que estabelecemos a conexão com Ele, mas é Ele que vem a nós,
que usa todos os meios para que nós possamos estar conectados. De nossa parte,
ao acolher este Mistério de Amor, somos transformados e possibilitados para o
compromisso. Já que é a Boa Nova que nos é anunciada, agora nós haveremos de
ser também Gente Nova, isto é, gente que “deixa” o Evangelho frutificar e se
difundir pelo mundo até os confins da Terra.
Glória
ao Senhor
“Glória a vós, Senhor” é a resposta da assembleia diante
da proclamação do Evangelho. É a resposta da fé e da acolhida, liturgicamente
pensada. Não se pode ficar, porém, somente na resposta litúrgica. Esta deve
levar ao compromisso. Se de fato aí é anunciado (com ênfase) a Boa Notícia de
Jesus Cristo, todos os que respondem “glória”, devem se deixar transformar pelo
Cristo presente com o seu Reinado.
Na catequese ou em encontros de formação muitas vezes se
incentiva as pessoas a prestarem atenção nos textos bíblicos do domingo para
aprender e conhecer sempre mais sobre Cristo. Certo. Mas é muito pouco! Mais
que aprender e conhecer, é necessário acolher e viver. Não será num futuro,
quando se conhecer toda a bíblia (algo impossível), que se estará pronto para
viver a Palavra como cristão, mas é agora que se deve viver, ao menos começar a
viver. “Ele está no meio de nós” é a resposta que damos tantas vezes nas
celebrações. Será que ela é dita com a devida consciência?
Alguém diz que Jesus Cristo veio ensinar uma doutrina ou
uma moral para mostrar como as pessoas devem viver no bem e evitar o mal, e
assim ir para o céu. Não. Jesus é o próprio Bem, é a própria Verdade. É nEle
que se tem este bem e esta verdade. Aliás, hoje em dia, cada vez mais as
pessoas não querem nem o bem nem o mal, mas apenas sua própria comodidade.
Cresce a mentalidade da indiferença, do “tirar o corpo fora”. Porém é neste
mundo que o Evangelho de Jesus Cristo precisa ser proclamado e precisa ser
acolhido. A Igreja nunca pode esquecer que também ela acolhe e, em
consequência, proclama. Não pode parar. Se quiser levar as pessoas para o céu
se faz necessário viver com Cristo hoje e se dispor a colaborar com o seu
Reinado aqui e agora.
Pe. Mário Fernando
Glaab