PERDOAR
E RECOMEÇAR
O fim do ano está aí; um novo ano se anuncia. Sabemos
muito bem que numerar os anos é uma conveniência. O tempo sempre continua, ou
melhor, nós continuamos no tempo. E na verdade, somos nós que dizemos que 31 de
dezembro é o último dia do ano velho e 1 de janeiro é o primeiro dia de um novo
ano. As coisas continuam no seu ritmo, sem levar em conta se é fim ou início de
ano.
No entanto, para nós que estamos no tempo, é ao menos
oportuno fazer uma reflexão sobre o tempo que passou, o tempo que se chama hoje
e, o tempo que virá (esperamos que para todos nós!).
Olhando
para trás
Não temos dúvida de que este ano que está se findando foi
atípico. Trouxe muitos desafios e dificuldades para praticamente todos nós.
Tivemos a surpresa assustadora da pandemia com todas as suas consequências. Muito
sofrimento, dor, separações, mortes etc. Isto se refletiu nos relacionamentos
familiares, laborais, eclesiais e, em toda a sociedade.
Não podemos esquecer que a nível mundial aumentou o
número de refugiados e de pobres em muitos países. Humilhações de todos os
tipos; até as atitudes racistas cresceram. Em nosso Brasil, ao invés de se buscar
convivência pacífica, o ódio, a violência, a mentira, a corrupção (até em
ambientes religiosos) o descalabro com o meio-ambiente e com os grupos
minoritários cresceram demais!
Se por um lado nos sentimos obrigados a agradecer por
estarmos bem, ou ao menos estarmos aqui, podendo viver e aguardar um novo ano;
por outro lado precisamos tomar consciência dos nossos erros, pedir perdão e
tentar perdoar.
Este é o tempo que chamamos “hoje”. É hoje que olhamos
para trás e para frente, mas com os pés no chão; uma vez que o passado já se
foi, o futuro ainda não veio, mas o presente está aqui. Olhar para o futuro com
esperança faz bem, e é necessário ter confiança em Deus e nas pessoas de boa
vontade. Porém de nada vale tudo isso, se no presente não tivermos a coragem de
corrigir o que no passado não deu certo, o que não foi bom.
Perdão
É muito difícil pedir perdão, e mais ainda, perdoar. Na
verdade, somente quem ama de fato sabe fazer isto; ao ponto de se afirmar que
perdoar é divino. Nós cristãos aprendemos que o amor é uma virtude infusa por
Deus (teologal) em nossos corações quando nos tornamos filhos dEle no dia de
nosso batismo.
Em sua nova Encíclica, Fratelli Tutti, o Papa Francisco ensina que “se o perdão é
gratuito, então pode-se perdoar até a quem tem dificuldade de se arrepender e é
incapaz de pedir perdão” (FT 250). Sábias palavras! Isto é possível somente
para quem sabe ser pecador e, que se humilha diante de Deus com o coração
contrito, acolhe gratuitamente Seu perdão. Sabe que não o merece, mas que é por
pura graça do amor sem medida do Deus Amor. A partir dessa experiência –
possível somente na caridade – é que se pode perdoar a quem nos ofendeu; mesmo,
como diz o Papa, se ele tem dificuldade de se arrepender.
Portanto, façamos hoje o esforço para nos abrir à
experiência do amor misericordioso de Deus, e, a partir dele, pedir perdão a
todos, também à natureza, ao meio ambiente, por todo bem que deixamos de fazer,
por toda ofensa que fizemos; imbuídos do amor de Deus, perdoar a tudo, aos que
nos ofenderam, mas também aos acontecimentos que não nos agradaram. Assim
poderemos nos programar para um novo tempo, para o que desejamos a nós e aos
outros no novo ano.
Recomeçar
Nada melhor para recomeçar é ter presente o que já se
foi, o que se vive hoje, para planejar o amanhã. O amanhã a Deus pertence, mas
quem está nas mãos de Deus pode e deve sonhar com um amanhã sempre melhor.
Quanto mais nós nos abrirmos ao amor de Deus, tanto melhor será o nosso futuro.
Isto se faz num contínuo diálogo com Deus, com as pessoas e com o mundo que nos
cerca. Todos devem ter o seu lugar e merecer o devido respeito. Sem diálogo
sincero e respeitoso nada se faz e nada se consegue.
Em um mundo tão violento e disseminador de ódio, onde se
coloca a confiança nas armas que matam, termino com mais uma citação do Papa
Francisco: “Armemos os nossos filhos com as armas do diálogo! Vamos
ensinar-lhes o bom combate do encontro! ”. (FT 217). Não podemos esquecer que a
violência (armas) gera violência, mas o amor (diálogo) cura e salva.
Pe. Mário Fernando Glaab.