domingo, 15 de agosto de 2021

O que esperar nos momentos de crise?

DEUS É O CULPADO! OU DORES DE PARTO DE UM NOVO CÉU E UMA NOVA TERRA?

 

            “Se Deus quiser, a situação vai mudar”. É assim que muitos pensam e dizem quando olham para momentos complicados, principalmente quando se trata de realidades complexas. A pandemia que assusta o mundo todo e a situação caótica em que o Brasil se encontra são exemplos disso. Que Deus tenha piedade de nós e nos prive desses sofrimentos, suplicam.

 

Dores de parto

            Sem dúvida, é muito difícil aceitar que Deus criou somente o bem, e que se experimentamos o mal que nos atinge de tantas maneiras, que isso deve vir de outras causas. Talvez se coloque a culpa então em forças negativas que estariam agindo no mundo vindos de outras dimensões: demônios ou maus espíritos. Porém, assumirmos, como humanidade, que a culpa de tantos infortúnios que trazem sofrimentos e mortes, é nossa; isto é muito difícil! Implicaria, isto sim, em assumir um compromisso; contudo, ao se colocar toda responsabilidade nos ombros de Deus ou dos demônios, nós nos livramos de nossa responsabilidade e nos colocamos apenas como vítimas.

            Vários sábios: teólogos, filósofos, sociólogos e outros, dizem-nos que essas graves crises que nos afetam com tanta força, e que causam tantos sofrimentos e mortes, são consequências de nossos erros, de nossos pecados, e por que não dizer, de nossas ganâncias e falta de coragem para mudar nossos costumes, nossos apegos a tradições ultrapassadas, quando não abertamente perversas. Constata-se cada vez mais que tudo está interligado, isto é, quando alguém faz o bem, por menor que seja, ele enriquece o mundo todo e sua história, todavia, o contrário também é verdadeiro, quando alguém faz o mal, isto torna pior o mundo e sua história. Imaginemos então, quando as coisas são realizadas por muitos, quando uma multidão faz o bem, ou quando uma multidão faz o mal, como isto se corporifica nas situações concretas. Certamente o caos que experimentamos, seja diante de uma doença, seja da situação político-econômica de um país, é causado pela irresponsabilidade nossa canalizada em fatos ou pessoas concretas. Cada um tem sua parcela de culpa, mesmo que pequena. Mais ou menos, conforme as condições de cada um.

            Pergunta-se, no entanto, onde entra a ação de Deus neste emaranhado de coisas? Deus não está perto de suas criaturas acompanhando e ajudando? Se Deus é bom – e isto é o que a maioria das religiões crê -, então, todo sofrimento não pode perecer, ou se perder para sempre. O sofrimento deve levar, na confiança, para a esperança em um mundo melhor. Ele faz acordar. O que está acontecendo abre os olhos e as mentes de muitos. Diante da dor surge a oportunidade para uma reflexão mais profunda; e muitos colocam em cheque os valores que até então conduziram suas vidas. O sofrimento, tão grande para muitos, não há de ser em vão. Algo de novo, algo de melhor, algo de bom deve ser aguardado. Tudo o que está acontecendo de dolorido, seja na vida particular, seja na sociedade, pode ser comparado com as dores de parto. Ainda não se sabe o que está para acontecer, mas quem crê num Deus de Amor espera, confia e luta. A partir desta fé ele alimenta a sua importância e, se lança de corpo e alma para ter e produzir algo de melhor para todos; com a graça de Deus.

 

O que esperar?

            Não se sabe exatamente o que esperar. Porém, nós cristãos temos diante de nós o exemplo da figura de Jesus de Nazaré que passou pela crise máxima, mas não desistiu. Foi até o fim. Ele soube esperar em seu Pai; e a Ressurreição veio. Nós também não sabemos o que podemos esperar, no entanto, sabemos que um Novo Céu e uma Nova Terra fazem parte de nosso sonho cristão. Esperemos perseverar até o fim; desistir nunca, confiar sempre. O nosso pouco, unido ao pouco de muitos outros, deixará que a criação boa de Deus produza os seus frutos. Frutos para esta Terra, e frutos para a Vida Eterna. Festa que terá a abundância dos bens da natureza abençoada pelo Criador e colocada à disposição de toda a humanidade; e festa sem fim na Eternidade.

Pe. Mário Fernando Glaab.