DEUS
É O CULPADO! OU DORES DE PARTO DE UM NOVO CÉU E UMA NOVA TERRA?
“Se Deus quiser, a situação vai mudar”. É assim que
muitos pensam e dizem quando olham para momentos complicados, principalmente
quando se trata de realidades complexas. A pandemia que assusta o mundo todo e
a situação caótica em que o Brasil se encontra são exemplos disso. Que Deus
tenha piedade de nós e nos prive desses sofrimentos, suplicam.
Dores
de parto
Sem dúvida, é
muito difícil aceitar que Deus criou somente o bem, e que se experimentamos o
mal que nos atinge de tantas maneiras, que isso deve vir de outras causas.
Talvez se coloque a culpa então em forças negativas que estariam agindo no
mundo vindos de outras dimensões: demônios ou maus espíritos. Porém,
assumirmos, como humanidade, que a culpa de tantos infortúnios que trazem
sofrimentos e mortes, é nossa; isto é muito difícil! Implicaria, isto sim, em
assumir um compromisso; contudo, ao se colocar toda responsabilidade nos ombros
de Deus ou dos demônios, nós nos livramos de nossa responsabilidade e nos
colocamos apenas como vítimas.
Vários sábios: teólogos, filósofos, sociólogos e outros,
dizem-nos que essas graves crises que nos afetam com tanta força, e que causam
tantos sofrimentos e mortes, são consequências de nossos erros, de nossos
pecados, e por que não dizer, de nossas ganâncias e falta de coragem para mudar
nossos costumes, nossos apegos a tradições ultrapassadas, quando não
abertamente perversas. Constata-se cada vez mais que tudo está interligado,
isto é, quando alguém faz o bem, por menor que seja, ele enriquece o mundo todo
e sua história, todavia, o contrário também é verdadeiro, quando alguém faz o
mal, isto torna pior o mundo e sua história. Imaginemos então, quando as coisas
são realizadas por muitos, quando uma multidão faz o bem, ou quando uma
multidão faz o mal, como isto se corporifica nas situações concretas.
Certamente o caos que experimentamos, seja diante de uma doença, seja da
situação político-econômica de um país, é causado pela irresponsabilidade nossa
canalizada em fatos ou pessoas concretas. Cada um tem sua parcela de culpa,
mesmo que pequena. Mais ou menos, conforme as condições de cada um.
Pergunta-se, no entanto, onde entra a ação de Deus neste
emaranhado de coisas? Deus não está perto de suas criaturas acompanhando e
ajudando? Se Deus é bom – e isto é o que a maioria das religiões crê -, então,
todo sofrimento não pode perecer, ou se perder para sempre. O sofrimento deve
levar, na confiança, para a esperança em um mundo melhor. Ele faz acordar. O
que está acontecendo abre os olhos e as mentes de muitos. Diante da dor surge a
oportunidade para uma reflexão mais profunda; e muitos colocam em cheque os
valores que até então conduziram suas vidas. O sofrimento, tão grande para
muitos, não há de ser em vão. Algo de novo, algo de melhor, algo de bom deve
ser aguardado. Tudo o que está acontecendo de dolorido, seja na vida
particular, seja na sociedade, pode ser comparado com as dores de parto. Ainda
não se sabe o que está para acontecer, mas quem crê num Deus de Amor espera,
confia e luta. A partir desta fé ele alimenta a sua importância e, se lança de
corpo e alma para ter e produzir algo de melhor para todos; com a graça de
Deus.
O
que esperar?
Não se sabe
exatamente o que esperar. Porém, nós cristãos temos diante de nós o exemplo da
figura de Jesus de Nazaré que passou pela crise máxima, mas não desistiu. Foi
até o fim. Ele soube esperar em seu Pai; e a Ressurreição veio. Nós também não
sabemos o que podemos esperar, no entanto, sabemos que um Novo Céu e uma Nova
Terra fazem parte de nosso sonho cristão. Esperemos perseverar até o fim;
desistir nunca, confiar sempre. O nosso pouco, unido ao pouco de muitos outros,
deixará que a criação boa de Deus produza os seus frutos. Frutos para esta
Terra, e frutos para a Vida Eterna. Festa que terá a abundância dos bens da
natureza abençoada pelo Criador e colocada à disposição de toda a humanidade; e
festa sem fim na Eternidade.
Pe. Mário Fernando Glaab.