sábado, 5 de abril de 2025

O arder do coração antes de Celebração da Eucaristia.

 

A missa começa em casa

 

            A nossa missa não começa somente quando o presidente da celebração entra na assembleia reunida do templo. Ela já começa em casa com o desejo ou a “saudade de Deus”, que nos põe a caminho, nos desinstala dos desejos fúteis da vida. Um sugestivo sinal disso encontramos no relato dos discípulos de Emaús. O Evangelista Lucas, já no dia da Ressurreição, nos apresenta uma experiência embrionária do que seria a nossa Eucaristia dominical. No caminhar, quando o Ressuscitado os encontra, vemos a liturgia da Palavra e no partir do pão, a liturgia eucarística. O texto de Lucas introduz a questão sobre os discípulos assim: “Conversavam sobre todas as coisas que tinham acontecido” (Lc 24,14).

            Antes de Jesus – o Ressuscitado – os abordar no caminho, eles falavam sobre tudo que tinham experienciado nos últimos dias. Isto era o início do que haveria de acontecer: a “missa” já estava em andamento. O que levo eu, o que levamos nós para a nossa celebração? Como foi a minha vida durante a semana em casa, no trabalho? O que me preocupa? Do que necessito pedir perdão? No que (olhando para a semana vindoura) espero ser fortalecido? O que preciso para mim e para os meus?

            Mesmo que pensamentos bons ou maus sobre nossa vida, a vida de nossos familiares, nos acompanham no caminhar para a missa, não os necessitamos violentamente afastar. Talvez seria melhor se os apresentássemos ao Senhor ou colocássemos em seu colo, iluminássemos com sua Palavra, juntássemos em nossas intenções; uníssemos com as oferendas sobre o altar para que fossem abençoados, transformados. Naturalmente é “digno e justo” juntar tudo o que somos e temos e nos concentrar para a liturgia que celebramos. É muito útil tomar consciência de que iremos nos encontrar com o Deus de nossa vida, porém de toda a vida, assim como somos, também com o que não vai bem.

            Na liturgia entramos no sagrado, porém isso não quer dizer que estabelecemos uma linha divisória entre o mundo e Deus. Aliás, na encarnação o Filho de Deus transpôs justamente esta mesma linha divisória, pelo caminho inverso, para trazer a salvação ao ser humano. Eucaristia (missa) e vida se relacionam em toda a profundidade: da vida para a Eucaristia e da Eucaristia para a vida, assim que possamos viver “eucaristicamente”.

Pe. Mário Fernando Glaab.