sexta-feira, 15 de novembro de 2024

Een Weinachtsgeschichtje - Hunsrik.

 

WEIHNACHTE IN DE KOLONIE WIE ES FRIA WO.

Wenn die Weihnachte nochmol dicht iss, dann komme eem imme so viel errinerunge von unsere Kindazeit. Mea sem jo schun so alt, awa das Kind iss jo imma noch in uns, un das gebt em, ach heit noch Verlange um Freid. So will ich bisje was mit eich vorteilen von dem was mea fria gemach hon un wie mea uns so gefreit hon wen die Weinachte dicht woa.

Mea honn jo ganz in de Kolonie gewohnt, un wohre oach so ormche. Mea wohre viel Kinna im Haus, awa es woa doch imma scheen; hauptsechlich wenn so grosse Toche wohre wie Weihnachte odda Oschtre.

Mea kunde net grosse Sache mache, awa, honn uns doch so gefreit wenn ma en kleen Geschenkche griet honn. Vielmos woa es blos bische Schokolode odde en Ostreei. Das woa schun en Grund fa sich so se freie dass ma gesun hat. Di Mamma um de Pappa hatte net viel fa fein Esse mache, awa manichmol homma doch em Schweinche geschlacht un Woscht gemach. Dass schun poo Toche voahea. Zwei Toche voa de Weihnachte hat die Mamma Toss gepackt; mea muste das Holz bei schaffe un de Packhofe scheen heis mache. Alsmol hat es net richtich gebrennt, dann honn ma mit samme gegrintz un dischkutiat, awa ma honn es doch hin griet. De letschte Toach voam Heiligeohmt dann hat die Mamma noch Kuche gepackt. Barbaridade! Dea hat so gut geschmeckt. Ma must awa watte bissa richtich kalt woa fa se esse. Die Mamma socht dess heisse Kuche tet Leibweh gewe. Um mea hatte ach vielmols son Panzweh. Das hat alles dezu geheat. Un so voa Ohmt, dan is de Krissboam gemach woa: so em Pinhebemche is uffgeschtellt woa, scheen beschmickt mit Kugelcha, Kette um Ketzcha. Dan woa die Freide gross.

Was oach imma dezu geheat hat woa in die Kerich gehen. Die meascht mol sin die Buwe in die Kristmette gan. Die woa in Mittenacht, und die Kerich woa net dicht. Das hat alles Nicks gemach. De Pappa iss im Toach in die Kerich gang. Die Mamma kund net imma mit, weil sie musst doch die ganz Arweit mache. Wenn awa Mess in de Kapell woa – dichta bei uns – dann is sie oach gang.

Um die Zeit hat keine Televissão un Radio – naja, mea hatte son Radioding wo vielmos blos gerauscht hat – wo mea net so viel geheat hat. De Pappa un di Mamma honn Geschichtcha votseelt vun fria un wie sie die Weihnachte in ihre Familie gefeiat hette. Alsmos honse Weihnachtslieda gesunn. Das woa so scheen! Heit is das jo alles vorbei. Die Junge wisse gonet me wie das Lewe fria woa, un wie die Familie in Friede das Kristkind gewat hot. Sicha is das Jesuskind bessa oangenomm gang in de Einfachkeit wie heit in alle Schmuck un reiche Geschenke.

Frohe Weihnachte, mit dem Gottessege.

Glaabsmário

sábado, 9 de novembro de 2024

Domingo: Dia de festa e de paz.

TRABALHO E REPOUSO

 

            Vivemos em um mundo agitado. Estamos constantemente preocupados em fazer, em produzir e corremos atrás de melhores salários, de lucros e, em possuir mais e mais. Certo. Todos necessitamos trabalhar, colaborando assim com a obra da criação. Sabemos que o trabalho enobrece o trabalhador. Não deve ser visto como castigo, porém como oportunidade de ser útil e digno do sustento de si e dos seus. Claro que existem várias maneiras de trabalhar, e muitas vezes o trabalho se torna algo negativo, isto é, quando se trona um meio de exploração, ou de injustiça.

O Sábado e o Domingo

            A nossa reflexão, no entanto, não pretende focar o trabalho em si, mas o repouso. Já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura encontramos a afirmação: “No sétimo dia, Deus concluiu toda obra que fizera; no sétimo dia, repousou de toda obra que fizera. E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, por ser o dia e que Deus repousou de toda a obra da criação que fizera” (Gn 2,2-3). Desenvolveu-se então a celebração do sábado como dia de repouso e dia santificado. Na tradição do Antigo Testamento dá-se grande importância ao sábado. Na do Novo Testamento (tradição cristã), apesar de se celebrar a “nova criação” a partir da Ressurreição de Cristo, o domingo, existe conexão com a “primeira criação”. Se o repouso de Deus no sétimo dia é a conclusão e o coroamento da obra criadora, pode-se ver nisso que a criação está em função do sábado. E, se Cristo Ressuscitado volta para o Pai no Primeiro Dia da semana, pode-se olhar para esse evento e ver nele o repouso definitivo que todo caminhante da fé almeja. Jesus morreu na sexta-feira e ressuscitou no primeiro dia da semana, estabelecendo assim o domingo que não termina.

            O que podemos aprender com isto? O teólogo alemão, J. Moltmann (falecido há pouco tempo), diz que “O mundo não é apenas natureza, mas criação de Deus”. Ele nos sugere que todo trabalho, todo esforço humano neste mundo tem um sentido que vai muito além do simples possuir. Na criação de Deus está inscrita a necessidade do repouso. Também o ser humano, em qualquer trabalho que faz, vê, através da natureza, o Deus que o espera no repouso, ou mais ainda, na vida nova em Cristo que ultrapassa tudo o que se possa adquirir pelo esforço do trabalho. Se Deus abençoou este dia, e se Cristo derramou o seu Espírito sobre a Igreja nascente, o humano tem direito, e mais, precisa do descanso dominical, do repouso. Santificar este dia, significa para nós celebrar, fazer festa, estabelecer a paz. É neste dia que se santifica toda atividade realizada, dando-lhe significado que ultrapassa o tempo e entra para a eternidade. Não deixa de ter sua relação com o trabalho realizado, porém leva a uma outra dimensão. Tanto que o domingo, para os cristãos, é justamente chamado “O dia do Senhor”; Senhor do Mundo, da Criação e da História.

Sentido que ultrapassa...

            É extremamente necessário que se recupere o verdadeiro sentido do sábado e do domingo. Há uma conexão profunda entre os dois: repouso do trabalho feito e antecipação da festa definitiva na casa do Pai em união com Jesus Cristo – o Ressuscitado -, na força e no amor do Espírito Santo.

            Que o nosso trabalho não fique apenas como obrigação para ter bens, e que o nosso domingo não seja somente o dia em que não trabalhamos, mas que ambos sejam feitos e celebrados numa dimensão que vai além; e que todos possam participar da santificação que o repouso possui e que a celebração festiva proporciona.

Pe. Mário Fernando Glaab


quinta-feira, 30 de maio de 2024

Fé transformadora


CRER NO CRUCIFICADO

 

            Crer verdadeiramente em Deus exige fé. A Igreja nos ensina que fé é uma virtude teologal que nos vem por graça infusa pelo batismo. Porém, justamente por ser virtude, ela necessita ser cultivada, isto é, precisa da dedicação e esforço do crente. Crer em Deus, portanto, é algo sério, e não é tão fácil. Talvez muitos dizem ser crentes, mas na verdade, o que professam é mera tradição descompromissada.

            Os cristãos, no entanto, não ficam somente na fé em um Deus distante e abstrato; eles creem que este Deus se revelou uno em três pessoas: Pai e Filho e Espírito Santo. Continuam: este Filho é enviado pelo Pai, na força do Espírito Santo, para ser humano, nascendo entre nós, Jesus Cristo. É o mistério da Encarnação do Verbo. Porém não fica nisto somente. Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, viveu, morreu e ressuscitou, para então voltar ao Pai e nos enviar o Espírito Santo. Quero chamar a atenção sobre a morte dele, a sua crucificação.

Crucificado

            Se, como afirmamos acima, crer em Deus já é desafiante e exige correspondência à graça infusa pelo batismo, muito mais desafiante é crer que Jesus, Filho de Deus, aceitou ser crucificado como ímpio, rejeitado como o pior dos humanos. Tudo isso por amor à humanidade perdida no mal. Crer neste mistério é se desfazer de todas as lógicas humanas, é dar um salto no escuro, confiança total no amor de Deus que é infinito e vai além de tudo o que nós podemos imaginar. Um dos grandes teólogos de nossos tempos, no fim de sua obra gigantesca sobre esta verdade de fé, assim diz: “Conhecer Deus significa suportar Deus. Conhecer Deus na cruz de Cristo é um conhecimento crucificante” (J. Moltmann, na obra O Deus Crucificado).

            Provavelmente não estamos em condições de assimilar o que este teólogo afirma, no entanto, vamos refletir um pouco sobre o que podemos entender desta afirmação. Crer é sempre consequente. Pois crer é bem mais do que uma ideia. Penetra todo o ser de quem crê. Quando Moltmann diz que o crente suporta Deus, penso que está ensinando que não é possível professar Deus sem se deixar envolver por Ele. Se Deus existe, quem sou eu? Qual é a ideia de Deus que eu tenho? E assim por diante. Exige uma relação verdadeira que Moltmann expressa com “suportar”; uma vez que é um processo transformador. Quem será o ser humano diante dele? Pobre criatura limitada por sua insignificância. Não dá para se esquivar deste questionamento.

            Porém, muito mais escandaloso ainda será crer que este Deus está na cruz daquele homem condenado pelas autoridades políticas e religiosas como um blasfemo, um fora da lei. O teólogo chama isso de “conhecimento crucificante”. Crer isso, é deixar-se crucificar com ele, por todos os líderes políticos e religiosos, pela mentalidade e lógica do mundo, pela lei também em nossos dias. Não é difícil dizer eu sou cristão e carregar um crucifixo no peito, porém assumir esta condição e tornar verdadeiro o símbolo da cruz, é assaz desafiante. Bem mais tentador será colocar o crucifixo nos altares entre velas e flores, prostrar-se diante dela, do que a ver em nossa vida, a ver na vida dos “ímpios, dos fora da lei, dos desamparados e dos pobres de todas as carências”. Moltmann também chama a atenção sobre isso ao escrever: “O símbolo da cruz remete a Deus, não àquele que está entre dois castiçais sobre um altar, mas ao que foi crucificado entre dois ladrões no Calvário dos perdidos, diante dos portões da cidade”.

            Facilmente nos refugiamos na “desculpa da ressurreição”, justificando que não cremos em um morto, mas em um vivo. Sem dúvida, a nossa fé está baseada na Ressurreição de Jesus, Ele é o Vivente. Todavia, não se pode com isso esquecer que é o Crucificado que ressuscitou. Tanto que o Ressuscitado pede para que os discípulos toquem nele para “experienciar” o mistério e assim serem crentes.

            Portanto, esta certeza de fé, quando cultivada e sempre renovada na prática da vida cristã, transforma profundamente a atitude do fiel diante do Crucificado-Ressuscitado. Ajuda-o a tomar consciência de que, mesmo ao se sentir pecador, pobre criatura, é amado por este Deus que não hesita em estar com ele e lhe oferecer sua misericórdia. Dá ao pecador a confiança de que é agraciado porque é amado e não é amado porque é agraciado.

Que nós saibamos nos sentir amados e perdoados para amar e perdoar a todos, pois Jesus Cristo morreu em uma cruz entre os malfeitores, porém ressuscitou para que todos os “malfeitores” possam experimentar a comunhão com ele.

Pe. Mário Fernando Glaab.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Hunsrikisch.

 

WORME TOCHE

 

Dea liewe Leid noch mol, iss das die letzte Zeite en wormes Wetta. Do wetz em jo bald schlecht. Ma schwitz Toach um Nacht; um dann noch extra wenn ma in die Plantosch Maniok putze muss gehen. Sowas kinne die Stettaleid gonet bokeppe. Naja, die Menschheit tut jo die ganz Natur vorsaue. Alles wet ausgenutz un de Wald tunse als mea weckmache. Das kommt noch so weit des ma nemme lewe kinne. Traurich, awa woa. Naja, wolle mea uns uffpasse, viel Wassa trinke un net so ohrich in de Sunn bleiwe so um die Mittachzeit.

Um jetz winsche ich alle gute Leid en frehlich Weihnachte, mit Gesundheit um Friede. Dass das Jesuskind en offnes Hetz in uns all oantrefft. Um gutes Neijoha. Glaabmario.

domingo, 10 de setembro de 2023

Conhecendo a doutrina da Igreja.

                                                  O Dogma da Imaculada Conceição

 

No ano de 1954, com o Papa Pio IX, a Igreja declarou como dogma de fé a Imaculada Conceição de Maria. A partir de então, a doutrina que tem a Virgem Maria como imune do pecado original faz parte do conteúdo da fé católica.

A definição

            Foi exatamente no dia 08 de dezembro de 1854 que o Papa Pio IX declarou solenemente infalível a doutrina da Imaculada Conceição de Maria, com a bula denominada Ineffabilis Deus (Deus Inefável). Assim o Papa publicou o decreto: “Declaramos, pronunciamos e definimos como doutrina revelada por Deus o seguinte: a Beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original. Essa doutrina, pois, deve ser crida firmemente e inviolavelmente por todos os fiéis”. (O Papa, mais tarde testemunhou que quando declarou este dogma sentiu uma alegria tão grande, impossível de explicar).

            Para o Papa chegar a declarar esse dogma mariano foi preciso levar em conta os dados da Palavra de Deus, principalmente onde o Anjo chama Maria de “cheia de graça” (Lc 1,28); e, de modo especial, o povo de Deus que, meditando e degustando essa Palavra, compreendeu que a Mãe de Jesus tinha sido, desde sempre, toda pura, sem mancha alguma. O povo de Deus, desde os primórdios da Igreja, sempre possuía a certeza de que Maria nunca foi dominada pelo pecado. Sabia muito bem que a mulher que iria esmagar a cabeça da serpente jamais fora esmagada por ela. O Magistério da Igreja se faz porta-voz do sentido profundo de fé que o povo dá para as devoções, e os privilégios especiais de Maria, tão fortemente presentes na tradição católica, que sempre se fizeram ouvir.

            Já bem antes da solene definição, o povo comemorava a festa da Imaculada. No Oriente ela já existia desde o século VII e no Ocidente começou no século IX. Bem antes de se tornar dogma, vários testemunhos, até o martírio, afirmam esta doutrina.

            Uma curiosidade: no ano de 1857 o dogma da Imaculada Conceição é confirmado por Nossa Senhora de Lourdes, que se identificou como a “Imaculada Conceição” para a jovem vidente, que nem sequer sabia o que isso queria dizer.

Bases bíblicas e da tradição

            Como vimos acima, o texto bíblico de maior importância para esse dogma é, sem dúvida, o de Lucas 1,28: “O anjo entrou onde ela estava e disse: ‘Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo’”. Esta é uma expressão única na Bíblia e, conforme se pode constatar, surpreendeu a própria Virgem: “Ela ficou muito confusa com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação” (Lc 1,29). “Cheia de graça” deve ser entendido como algo próprio dela desde o primeiro instante de sua concepção.

            Outro texto do evangelho de Lucas que serve de base para a Imaculada Conceição está no cântico de Maria: “O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas” (Lc 1,49). A Virgem Maria ser concebida sem pecado original é uma das grandes maravilhas que Deus nela realizou.

            Já os Santos Padres veem em Maria a Nova Eva, aquela que se dispôs totalmente a fazer a vontade de Deus. Quando ela diz “eis aqui a serva do Senhor” (Lc 1,38), está cumprindo nela mesma a promessa de Deus: “Esta te ferirá a cabeça” (Gn 3,15). Outros textos do Antigo Testamento são evocados pela tradição dos Padres, como: “Ela é sem mancha” (Ct 4,7); “Jardim fechado e fonte selada” (Ct 4,12); “Bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha” (Ct 6,10); Tenda do encontro com Deus (cf. Ex 31,1-11). Arca da Aliança (cf. Ex 25,10; 1Sm 4-6; Ap 11,19), entre outros.

            O sentimento espiritual do povo tinha captado cedo esta maravilha que Deus realizou em Maria, mas os teólogos necessitaram de muito tempo para deixarem tudo pronto, e o Papa poder declarar o dogma.

Por que e para que?

            Conforme o próprio decreto do Papa e da liturgia da missa a graça da Imaculada Conceição está a serviço da Encarnação salvadora de Jesus e de nossa salvação. A Imaculada é a “Pura Habitação” para o Filho de Deus e é “por nós, homens, e pela nossa salvação” (Missa da Imaculada).

            O dogma da Imaculada confirma a visão positiva da graça. Ela é anterior ao pecado, mais forte do que ele. Na Imaculada, a graça triunfou totalmente sobre o mal, desde o início. A Imaculada é a Nova Criatura; “Ela vem mais cedo que o pecado” (G. Bernanos).

            O povo fiel, convencido da graça salvadora de Cristo que tira o pecado do mundo, acredita na conceição imaculada de Maria. O Concílio Vaticano II ensina que Maria “foi redimida de modo mais sublime” (LG 53), isto é, preventiva e radicalmente.

            Crer que Deus fez a Virgem “cheia de graça” dá ao fiel confiança inabalável. Se Deus fez esta maravilha em Maria, Ele também pode realizar maravilhas em seu povo que nele acredita. A fé no dogma mariano desperta a confiança na misericórdia sem limites de Cristo. Esta misericórdia de alto a baixo, recria a humanidade pecadora. O perdão renova; “revirginiza” os que perderam a inocência. Se para a Virgem a graça foi anterior, para os fiéis é posterior, mas o efeito final é o mesmo: serão novas criaturas, “imaculados”.

            Maria Imaculada deve acompanhar sempre, como modelo, a luta de seu povo contra toda injustiça em nós e no mundo. Conforme a profecia, a Virgem foi “transpassada” pela espada (cf. Lc 2,35), mas ela não cedeu diante da dificuldade, diante do Sedutor. Ela foi sempre sim para Deus. Se nós, tantas vezes cedemos ao mal, às tentações do maligno, Ela nunca se deixou vencer. Disso tudo poderemos concluir que a Imaculada permanece, para nós, como exemplo máximo de lutadora, que não sofreu a menor derrota do maligno. Se no mundo e na experiência de cada fiel existe a realidade cruel do mal, no dogma da Imaculada está o sinal claro da vitória da graça e do bem. São Paulo lembra acertadamente que, “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5,20).

Concluindo

            A Igreja, na sua longa experiência de evangelização, não cede à tentação ilusória de que o mal e o pecado já estão vencidos. Ela tem consciência de que a luta continua. O mal e o pecado estão aí, e necessitam ser combatidos e vencidos. Mas também não é ingênua. Sabe muito bem que o “paraíso na terra” é um mito ingênuo e ilusório. Por outro lado, a partir de sua fé em Jesus Cristo, o Salvador da Humanidade, a Igreja não cessa de proclamar a Boa Notícia de que a graça está ao dispor de todos. Jesus já é o Vencedor. E, quem acredita nele será salvo.

            O dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, a Mãe de Jesus Cristo, é a proclamação de que Deus fez, faz e fará maravilhas por nós homens e para a nossa salvação. Maria é modelo para todos os que seguindo os passos de seu Filho, acreditam e se lançam na luta para vencer o mal pelo bem, o ódio pelo amor, o orgulho pela humildade. Bendito seja o nome do Senhor!

Pe. Mário Fernando Glaab.

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Maria Assunta ao Céu.

 

A MÃE DE JESUS NO CÉU EM CORPO E ALMA

A Igreja tem como verdade de fé, dogma, que Maria, a mãe de Jesus, foi levada em corpo e alma ao céu. É o dogma da Assunção de Nossa Senhora. Mesmo que este ele foi proclamado somente no século XX, não quer dizer que antes os cristãos não tivessem esta certeza. Desde os primeiros séculos da Igreja os fiéis sabiam que a Virgem Maria está junto a seu filho Jesus na glória do Céu. O povo cristão nunca duvidou que, terminado o curso de sua vida terrena, ela foi para junto do Ressuscitado, seu filho Jesus que subiu ao céu. Restava, no entanto, aprofundar teologicamente o que isto significava. No que consiste este privilégio especial, já que se acredita que os mártires e santos de todos os tempos estão no céu?

            Mesmo não tendo clareza teológica, desde cedo os fiéis concluíram que a Mãe de Jesus, por graça especial de seu Filho, estava no céu de forma definitiva: em corpo e alma. Desenvolveu-se a concepção de que todos os falecidos no Senhor aguardavam a segunda vida de Jesus, para julgar os vivos e os mortos, quando então os justos ressuscitam com Cristo para estarem com Ele para sempre. Maria, todavia, não ficaria nesta “espera”. Ela já estava com seu Filho em toda a sua plenitude; por ser a Imaculada, a Cheia de Graça. Corpo e alma significa justamente isso: todo o seu ser, sem nenhuma ruptura ou divisão.

O povo fiel intuiu também que a Virgem Maria foi levada por Jesus, seu Filho, ao céu para estar com Ele para sempre. Isto faz eco ao “cheia de graças”. Não foi ela que subiu, porém foi levada. Aí a distinção entre ascensão e assunção. O Ressuscitado subiu ao céu (ascensão), Maria foi levada por Ele ao céu (assunção).

            Desde as primeiras comunidades cristãs, mas especialmente com a definição do dogma, ao contemplar Maria no céu em corpo e alma, quer-se exaltar aquela que sempre foi a “pobre serva do Senhor”. Busca-se, assim, por ela, uma aproximação do Deus que se fez pobre para “anunciar a Boa-Nova aos pobres” (Lc 4,18). Mais do que isso, aprender com a Pobre Serva do Senhor a ser pobre para que o Anúncio chegue também a todos e não seja impedido de nos tocar, por estarmos apegados aos bens, às riquezas e ao mal. Experimentar com Maria o que quer dizer: “Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes” (Lc 1,52).

            A comemoração de Maria Assunta ao céu alimenta a esperança cristã. Cristo Jesus subiu para junto do Pai e prometeu preparar um lugar para os seus. É isto que o cristão espera. Assim, ao professar que a Mãe de Jesus já está no céu em corpo e alma, o fiel reforça essa certeza de fé. Maria, a primeira discípula de Jesus, aquela que guardava tudo em seu coração (cf. Lc 2,51), brilha como modelo para todos os que ainda estão a caminho, seguindo os passos do Mestre. Se ela pode fazer a vontade de Deus sempre, os discípulos hoje também podem fazê-la, e sonhar com a glória do céu.

            E por último, esse dogma incentiva a prática da oração a Maria, pedindo sua intercessão. A Igreja sempre tem como certo que uns podem e devem rezar pelos outros – a comunhão dos santos. Ao apresentar Maria Assunta ao Céu para o mundo, ela a indica como a Intercessora por excelência. Se Deus escuta a oração que nós pecadores fazemos uns pelos outros, quanto mais há de escutar a oração de sua Mãe que foi preservada de todo pecado! Rezemos sempre a Maria: “Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte”.

Pe. Mário Fernando Glaab.

terça-feira, 6 de junho de 2023

Nova maneira de pregar e testemunha a fé cristã.

 

                                             OBRIGAÇÃO E PROIBIÇÃO

Uma pregação desatualizada

            Não há como esconder: nos dias de hoje o cristianismo, e mais concretamente nossa Igreja, está enfrentando uma enorme crise. As nossas celebrações são cada vez menos frequentadas. Nossos discurso e ensinamentos não estão encontrando a resposta que no passado encontravam. O interesse, especialmente dos mais jovens, se tornou outro. Com exceção de algumas pregações de cunho mais carismático, a grande maioria não atinge mais o povo em geral. Cada igreja se deve contentar com aquelas poucas pessoas que ainda se fazem presentes.

            Não tenho condições para analisar as causas deste fato. No entanto, pretendo fazer apenas uma pequena reflexão a partir de minha própria experiência e de algumas leituras que faço sobre o assunto.

Novos tempos, novas mentalidades

            Se a sociedade, até alguns anos passados, aceitava uma apresentação da religião como uma obrigação, e consequentemente com o poder de proibir; hoje isto não funciona mais. Os pais e educadores diziam “você deve”, ou “você não pode fazer isto, é proibido”. Os mais jovens aceitavam sem questionar ou se opor. Porém, atualmente isso não é mais aceito.

            Hoje, cada vez mais as gerações jovens se opõem às obrigações e às proibições. Há uma mentalidade muito difundida de que a liberdade consiste em não aceitar o que os mais velhos dizem. Ser livre – dizem – é decidir tudo por si, “experimentar” tudo; mesmo que existam instruções contrárias, alertando do perigo que se esconde por trás destas experiências desconhecidas. Diante do “você deve” dizem “não quero”, e diante do “proibido”, “sou livre, vou fazer”.

            As religiões, no nosso caso, a fé cristã, não escapam desta nova maneira de ver as coisas. Já não se acata a mais insistência com as pessoas com o “você deve” ou com o “você não deve”. A fundamentação há de ser outra, partindo de outros princípios. Uma simples argumentação lógica não tem mais a força que tinha no passado. No contexto em que a sociedade se encontra, cada vez mais favorecendo o individualismo, os jovens precisam experimentar, pois explicações têm pouca força. No entanto, as experiências mal escolhidas, não poucas vezes, os levam para os desvios e para os vícios que, depois são muito difíceis de se corrigir.

Jesus, o Homem livre

            É muito interessante notar como a pregação do Evangelho sempre apresenta a liberdade como o grande valor a ser descoberto em Jesus de Nazaré. Porém, com o passar do tempo, este valor ficou na sombra. A pregação se concentrava em ensinar o que se pode e o não se pode, chegando a se tornar moralismo doentio. Jesus, na verdade, é o homem mais livre que conhecemos. Ele sempre optou livremente em fazer a vontade do Pai ao ponto de afirmar que “o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou” (Jo 4,34) e nunca se desviou deste propósito. Mesmo que isto lhe custasse a entrega total de sua vida. Ele morreu na cruz como consequência de seu amor sem limites livremente assumido, diante do Pai e diante da humanidade.

            Nunca ninguém conseguiu desviá-lo de sua missão assumida na encarnação. Veio para anunciar a todos a boa notícia de que Deus quer a liberdade total de todo o ser humano. Foram muitas as tentações que ele enfrentou, tanto dos inimigos quanto dos próprios amigos. Todavia, nada afastava Jesus de seu projeto, nada era capaz de suscitar-lhe a ira e passar para o ataque, a não ser a exclusão ou a desvalorização de qualquer homem ou mulher. Certamente o momento mais duro foi quando na cruz o insultam desafiando-o para que descesse da cruz. Ele não se deixa vencer, mas entrega o seu espírito (cf. Lc 32,46).

O outro lado

            É mais do que necessário, em nossos tempos, redescobrir em toda a sua pureza, o valor inestimável da verdadeira liberdade. Aquilo que a maioria dos jovens procura, mas não encontra, provavelmente seja isto. Eles não conseguem vê-la nestas maneiras como ela ainda é apresentada. São levados por um imediatismo alienante. Infelizmente a mídia tem grande culpa nisso. Bombardeia o tempo todo sobre as gerações mais jovens, oferecendo prazeres momentâneos, colocando ideias falsas, provocando revoltas...

            É preciso redescobrir a beleza do amor verdadeiro; e, junto com ela, a liberdade que lhe é própria. Jesus precisa ser redescoberto. Mais do que isto: necessita ser seguido, “experimentado” na prática da doação. Isto pode enlevar as pessoas também hoje, quando na sinceridade são amadas e compreendidas. Quando são levadas a tocar de perto o ensinamento e a prática de Jesus de Nazaré; este Jesus, que na Eucaristia se faz o alimento para todos aqueles que, neste mundo transtornado pela incredulidade, o desejam seguir. Com pesar constata-se que há inversão das coisas quando se prega que se deve, por obrigação, participar da Eucaristia, uma vez que não há algo mais absurdo do que falar em obrigação de participar no dom supremo de Cristo no rito sacramental. Esta inversão é perversão, pois assim o dom da alegria da liberdade se converte em carga, que os jovens não aceitam mais. O que acontece é que se perde a experiência original, gratificante e motriz, para ficar somente com o peso das obras e com a obrigação da lei.

            Nada é obrigação para quem ama; tudo é proibido para quem odeia.

            E quero concluir com uma citação de um teólogo que admiro muito: “De nós, cristãos, se exige demonstrar que o Reino dos céus se realiza quando – e somente quando -, já na terra, também os crentes se esforçam para conseguir que a justiça, a liberdade e a fraternidade reinem entre os homens: entre todos os homens e, portanto, antes de mais nada, entre os marginalizados, os oprimidos e os que sofrem” (Queiruga, Creio em Deus Pai, p. 200), como fez Jesus de Nazaré.

Pe. Mário Fernando Glaab.