TRABALHO
E REPOUSO
Vivemos em um mundo agitado. Estamos constantemente
preocupados em fazer, em produzir e corremos atrás de melhores salários, de
lucros e, em possuir mais e mais. Certo. Todos necessitamos trabalhar,
colaborando assim com a obra da criação. Sabemos que o trabalho enobrece o
trabalhador. Não deve ser visto como castigo, porém como oportunidade de ser
útil e digno do sustento de si e dos seus. Claro que existem várias maneiras de
trabalhar, e muitas vezes o trabalho se torna algo negativo, isto é, quando se
trona um meio de exploração, ou de injustiça.
O Sábado e o Domingo
A nossa reflexão, no entanto, não pretende focar o
trabalho em si, mas o repouso. Já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura
encontramos a afirmação: “No sétimo dia, Deus concluiu toda obra que fizera; no
sétimo dia, repousou de toda obra que fizera. E Deus abençoou o sétimo dia e o
santificou, por ser o dia e que Deus repousou de toda a obra da criação que
fizera” (Gn 2,2-3). Desenvolveu-se então a celebração do sábado como dia de
repouso e dia santificado. Na tradição do Antigo Testamento dá-se grande
importância ao sábado. Na do Novo Testamento (tradição cristã), apesar de se
celebrar a “nova criação” a partir da Ressurreição de Cristo, o domingo, existe
conexão com a “primeira criação”. Se o repouso de Deus no sétimo dia é a
conclusão e o coroamento da obra criadora, pode-se ver nisso que a criação está
em função do sábado. E, se Cristo Ressuscitado volta para o Pai no Primeiro Dia
da semana, pode-se olhar para esse evento e ver nele o repouso definitivo que
todo caminhante da fé almeja. Jesus morreu na sexta-feira e ressuscitou no
primeiro dia da semana, estabelecendo assim o domingo que não termina.
O que podemos aprender com isto? O teólogo alemão, J.
Moltmann (falecido há pouco tempo), diz que “O mundo não é apenas natureza, mas
criação de Deus”. Ele nos sugere que todo trabalho, todo esforço humano neste
mundo tem um sentido que vai muito além do simples possuir. Na criação de Deus
está inscrita a necessidade do repouso. Também o ser humano, em qualquer
trabalho que faz, vê, através da natureza, o Deus que o espera no repouso, ou
mais ainda, na vida nova em Cristo que ultrapassa tudo o que se possa adquirir
pelo esforço do trabalho. Se Deus abençoou este dia, e se Cristo derramou o seu
Espírito sobre a Igreja nascente, o humano tem direito, e mais, precisa do
descanso dominical, do repouso. Santificar este dia, significa para nós celebrar,
fazer festa, estabelecer a paz. É neste dia que se santifica toda atividade
realizada, dando-lhe significado que ultrapassa o tempo e entra para a
eternidade. Não deixa de ter sua relação com o trabalho realizado, porém leva a
uma outra dimensão. Tanto que o domingo, para os cristãos, é justamente chamado
“O dia do Senhor”; Senhor do Mundo, da Criação e da História.
Sentido que ultrapassa...
É extremamente necessário que se recupere o verdadeiro
sentido do sábado e do domingo. Há uma conexão profunda entre os dois: repouso
do trabalho feito e antecipação da festa definitiva na casa do Pai em união com
Jesus Cristo – o Ressuscitado -, na força e no amor do Espírito Santo.
Que o nosso trabalho não fique apenas como obrigação para
ter bens, e que o nosso domingo não seja somente o dia em que não trabalhamos,
mas que ambos sejam feitos e celebrados numa dimensão que vai além; e que todos
possam participar da santificação que o repouso possui e que a celebração
festiva proporciona.
Pe. Mário Fernando Glaab
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