sábado, 9 de novembro de 2024

Domingo: Dia de festa e de paz.

TRABALHO E REPOUSO

 

            Vivemos em um mundo agitado. Estamos constantemente preocupados em fazer, em produzir e corremos atrás de melhores salários, de lucros e, em possuir mais e mais. Certo. Todos necessitamos trabalhar, colaborando assim com a obra da criação. Sabemos que o trabalho enobrece o trabalhador. Não deve ser visto como castigo, porém como oportunidade de ser útil e digno do sustento de si e dos seus. Claro que existem várias maneiras de trabalhar, e muitas vezes o trabalho se torna algo negativo, isto é, quando se trona um meio de exploração, ou de injustiça.

O Sábado e o Domingo

            A nossa reflexão, no entanto, não pretende focar o trabalho em si, mas o repouso. Já nas primeiras páginas da Sagrada Escritura encontramos a afirmação: “No sétimo dia, Deus concluiu toda obra que fizera; no sétimo dia, repousou de toda obra que fizera. E Deus abençoou o sétimo dia e o santificou, por ser o dia e que Deus repousou de toda a obra da criação que fizera” (Gn 2,2-3). Desenvolveu-se então a celebração do sábado como dia de repouso e dia santificado. Na tradição do Antigo Testamento dá-se grande importância ao sábado. Na do Novo Testamento (tradição cristã), apesar de se celebrar a “nova criação” a partir da Ressurreição de Cristo, o domingo, existe conexão com a “primeira criação”. Se o repouso de Deus no sétimo dia é a conclusão e o coroamento da obra criadora, pode-se ver nisso que a criação está em função do sábado. E, se Cristo Ressuscitado volta para o Pai no Primeiro Dia da semana, pode-se olhar para esse evento e ver nele o repouso definitivo que todo caminhante da fé almeja. Jesus morreu na sexta-feira e ressuscitou no primeiro dia da semana, estabelecendo assim o domingo que não termina.

            O que podemos aprender com isto? O teólogo alemão, J. Moltmann (falecido há pouco tempo), diz que “O mundo não é apenas natureza, mas criação de Deus”. Ele nos sugere que todo trabalho, todo esforço humano neste mundo tem um sentido que vai muito além do simples possuir. Na criação de Deus está inscrita a necessidade do repouso. Também o ser humano, em qualquer trabalho que faz, vê, através da natureza, o Deus que o espera no repouso, ou mais ainda, na vida nova em Cristo que ultrapassa tudo o que se possa adquirir pelo esforço do trabalho. Se Deus abençoou este dia, e se Cristo derramou o seu Espírito sobre a Igreja nascente, o humano tem direito, e mais, precisa do descanso dominical, do repouso. Santificar este dia, significa para nós celebrar, fazer festa, estabelecer a paz. É neste dia que se santifica toda atividade realizada, dando-lhe significado que ultrapassa o tempo e entra para a eternidade. Não deixa de ter sua relação com o trabalho realizado, porém leva a uma outra dimensão. Tanto que o domingo, para os cristãos, é justamente chamado “O dia do Senhor”; Senhor do Mundo, da Criação e da História.

Sentido que ultrapassa...

            É extremamente necessário que se recupere o verdadeiro sentido do sábado e do domingo. Há uma conexão profunda entre os dois: repouso do trabalho feito e antecipação da festa definitiva na casa do Pai em união com Jesus Cristo – o Ressuscitado -, na força e no amor do Espírito Santo.

            Que o nosso trabalho não fique apenas como obrigação para ter bens, e que o nosso domingo não seja somente o dia em que não trabalhamos, mas que ambos sejam feitos e celebrados numa dimensão que vai além; e que todos possam participar da santificação que o repouso possui e que a celebração festiva proporciona.

Pe. Mário Fernando Glaab


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