segunda-feira, 25 de março de 2013

Vaticano II hoje (1)

ESPERANÇA E RENOVAÇÃO
O Pacto das Catacumbas – 50 anos depois
            Já se foram 50 anos da realização do Concílio Vaticano II (1962-1965). O Concílio foi, sem dúvida, um marco histórico de esperança e de renovação para a Igreja e para o mundo. 50 anos depois, entre sucessos e fracassos, surge inesperadamente um grande sinal no horizonte da Igreja e da história do mundo. Um papa, já idoso e debilitado, tem a coragem e a humildade suficientes para renunciar ao cargo; é eleito outro que se apresenta como “Pobrezinho de Assis”, o irmão de todos e de tudo. O Concílio ensina que precisamos estar atentos aos sinais dos tempos que necessitam ser interpretados à luz da fé e no contexto maior da história da humanidade. Para refletir sobre isso, quero relembrar que paralelamente à última sessão conciliar em 1965 os bispos brasileiros que estavam em Roma participando do Concílio, com mais alguns outros, se comprometiam em assumir a renovação conciliar, assinando o “Pacto das Catacumbas”. A partir do que os bispos (cerca de 40) assumiram há quase 50 anos, queremos refletir sobre o hoje de nossa história e dos sinais que estão aí. Os pontos do “Pacto das Catacumbas” são 12. Contém uma introdução e a sequência dos itens. Seguiremos itens um por um, usando o texto de BEOSO, José Oscar, Concílio Vaticano II, publicado na Revista de Liturgia 234 Novembro/dezembro 2012, p. 9.

Pacto das Catacumbas e o Papa Francisco
            Os bispos brasileiros presentes ao Concílio Vaticano II na sua grande maioria entendendo o clamor do Espírito que desafiava a Igreja, a partir das sábias e inspiradas palavras de João XXIII, se empenharam para fazer da Igreja a “Igreja dos pobres”. Havia um grupo de bispos que defendiam a “Igreja dos pobres”. Os bispos brasileiros se uniram ao grupo que defendia essa visão. Mas, não ficaram somente no grupo que defendia a Igreja dos pobres; como que fazendo um “concílio paralelo” estes bispos se reuniam no local onde estavam alojados, na Domus Mariae, e planejavam a recepção concreta do Concílio no Brasil. Por isso formularam compromissos práticos e os assinaram antes do encerramento do Concílio. Esses compromissos passaram a se chamar “Pacto das Catacumbas”. Na introdução eles dizem: “Nós, bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados uns pelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a singularidade e a presunção; unidos a todos os nossos irmãos no episcopado; contando, sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento, e pela oração, diante da Trindade, diante da Igreja de Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, na humildade e na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e toda a força de que Deus nos quer dar a graça, comprometermo-nos ao que segue”. A seguir colocam 12 pontos, que iremos tomar um por um. Agora, no entanto, queremos nos ater à intenção que se percebe nas palavras introdutórias e no que ela pode ter produzido para os sinais que estão diante de nós.
            É de capital importância o fato de que os bispos reunidos no Concílio estarem conscientes das deficiências de suas vidas de pobreza segundo o Evangelho. Sem esta consciência, que humildemente confessam dizendo-se esclarecidos, não poderiam propor nada. Os bispos perceberam que os nossos tempos não aceitam mais discursos feitos das alturas para os outros que estão nas baixezas. Era preciso se igualar: falar olhando nos olhos das pessoas. Quando os bispos estavam de volta em suas dioceses tomaram atitudes importantes. Saíram de seus palácios para estarem no meio do povo e com o povo; e, principalmente junto aos mais necessitados. Colocaram-se com o povo na luta pela vida e pela justiça. Não mediam esforços e sofreram terrivelmente por isso. A Igreja, incentivada por esses bispos comprometidos com o Evangelho, deu saltos enormes no testemunho e na transformação da sociedade. Pena que, com o passar dos anos esse fervor diminuiu. Os bispos do Pacto das Catacumbas foram envelhecendo e dando lugares para outros, já não tão corajosos e tão decididos. Mas, a Igreja e a sociedade, como que iluminada pelo Espírito, exige também hoje de seus líderes religiosos o testemunho da vida pobre, simples e comprometida. O bispo, o padre ou mesmo o pastor, que não estiver disposto a testemunhar concretamente suas palavras está fadado ao fracasso. Esta exigência do povo deve ser vista como muito positiva.
            Os bispos contaram com a graça de Cristo, com o apoio e as orações de seus fiéis. Era a confiança humilde, tanto na força do alto como na compreensão e ajuda das pessoas de boa vontade que os alimentava.
            Talvez os sinais dos tempos para toda a Igreja e para o mundo que mais nos fazem pensar, 50 anos depois do Concílio vaticano II, são os esmorecimentos de muitos bispos, padres e líderes religiosos diante dos imensos desafios que o mundo globalizado nos coloca; mas não se pode deixar passar em branco os acontecimentos marcantes dos últimos tempos quando um Papa, por reconhecer sua incapacidade para levar adiante o ministério petrino, renuncia humildemente. Ele, para o bem da Igreja, coloca a missão ao dispor de outro mais capaz, e pede as orações e a compreensão de todos. O seu sucessor, desde o primeiro instante, dá inúmeros sinais de humildade e compromisso. Mas o gesto mais marcante foi o fato de se inclinar diante da multidão na Praça de São Pedro (e de todos os fiéis do mundo inteiro) solicitando suas preces. O nome que escolheu para si não é menos significativo: Francisco! Como interpretar e acolher esses sinais?

Esperar e renovar
            Os bispos do Pacto das Catacumbas fizeram a sua parte, uns mais, outros menos. As igrejas e a sociedade deram suas respostas nesse meio século, também com mais ou menos entusiasmo. 50 anos depois do Pacto das Catacumbas os papas deram novamente seus sinais; fizeram e estão fazendo a sua parte. Cabe também hoje às igrejas e à sociedade interpretar, acolher e dar suas respostas favoráveis. Que o primeiro compromisso de cada um seja o humilde reconhecimento das deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho. Estamos muito atarefados em buscar bens e o bem estar egoísta, esquecendo os milhões de necessitados que estão ao nosso lado clamando por nossa compaixão. Os papas não escondem suas “pobrezas” diante do mundo, agora é nossa vez! A esperança deve nos converter. A conversão deve ser renovação. Esperar renovando e renovar esperando. (Continua).
Pe. Mário Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Olá Pe. Mário! Tudo certo?
    Muito bom esse artigo sobre o "Pacto das Catacumbas", espera-se que muitos clérigos e leigos sigam o exemplo iniciado pelo papa Francisco, de uma Igreja realmente voltada para os pobres, escrevo pobres em todos os sentidos, mas principalmente os pobres carentes de recursos materiais para subsistirem enquantos pessoas humanas!
    Opção preferencial pelos pobres! Será???

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