QUEM
É ESTE JESUS? (3)
Ao se afirmar que Jesus é o grande mestre da humanidade,
muitas vezes se passa a idéia de que é alguém muito esperto. Pode até ser. Mas
é bom verificar o que se entende por “esperto”. Se for no sentido de saber
levar vantagem, com certeza não pode ser aplicado a ele. Ele, na verdade, como
já vimos em outras coisas, surpreende por não ser esperto ou politiqueiro,
manipulador ou enrolador. Ele deixa as coisas claras e diz a verdade; doa a
quem doer. Mesmo se isso lhe custa a popularidade ou a fama.
Jesus
não sabe atrair discípulos!
Jesus não sabe atrair discípulos. Mas como, se ele é o
Mestre? De fato, ele é o Mestre, mas sua maestria deixa claro que o discípulo
deve saber das coisas e optar livremente no seguimento dele, na condição de
discípulo. Ele, na verdade, não atrai ninguém prometendo sucesso e prosperidade
como recompensa. Não esconde que o convertido, ou seu seguidor, necessita
negar-se a si mesmo e tomar sobre si a cruz. E ainda mais, diz que o discípulo
não é maior que o mestre. Por ser mestre que toma o caminho de Jerusalém; o
caminho da rejeição, da perseguição e da condenação e da cruz.
Foi surpresa para aqueles pobres de seu tempo; surpresa
ainda maior para nós hoje. Se os desvalidos do tempo de Jesus esperavam um
pouco de importância junto ao homem de Nazaré, muito mais o homem de hoje sonha
com riquezas, poder e prazer em reconhecimento de sua fé. Jesus que fala desse
jeito, como, aliás, sempre foi proclamado pelo evangelho, desnorteia a muitos.
Ele atrai os pobres quando se faz presente a eles sendo um com eles. Porém,
quando insiste em mostrar que estar com os pobres suscita incompreensão e
perseguição, os próprios pobres se escandalizam. Eles sonham com outra
realidade. Aquele pregador ambulante, no entanto, deixa claro que não se pode
estar com os que sofrem e buscar o bem dos últimos, sem provocar a rejeição e a
hostilidade daqueles aos quais não interessa nenhuma mudança. É impossível esta
com os crucificados e não ver-se um dia crucificado.
Convoca
para um projeto maior
Jesus surpreende por não resolver os problemas imediatos
de seus seguidores. Mais, por alertá-los dos entraves que irão encontrar. Mas mesmo
assim, os convoca para um projeto maior. Ele quer que o ajudem a combater todo
tipo de mal que aflige a humanidade. Se isso custar, a questão é outra:
confiança em Deus, que o bem vai vencer as investidas do mal. A Igreja, desde o
início, se escandalizou com a idéia do Cristo sofredor – do Cristo que convida
a carregar a cruz -, a reação de Pedro o mostra. Contudo, o Reino de Deus é
isto: colocar-se a serviço de um mundo mais humano. A cruz é apenas o
sofrimento que nos virá como conseqüência de assumir o compromisso do Reino. O
destino doloroso que teremos de compartilhar com Cristo, se seguirmos realmente
seus passos. Não se deve confundir o “carregar a cruz” com posturas doentias de
buscar falsas mortificações.
Portanto, Jesus surpreende por não saber atrair
discípulos com palavras bonitas e promessas alvissareiras; surpreende mais
ainda por contar com os que lhe dão assentimento para um projeto bem maior:
colaborar com a implantação do Reino de Deus, ajudando a combater toda forma de
mal, suas conseqüências e pecados. Mesmo que isto custe a própria vida, pois,
quem perde a sua vida pela causa do Reino encontrará a verdadeira Vida.
Este é Jesus – mais uma surpresa para nós.
Pe. Mário F.
Glaab
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