sexta-feira, 8 de maio de 2015

Outra surpresa de Jesus de Nazaré.

QUEM É ESTE JESUS?! (2)

            Apontamos uma primeira surpresa em Jesus, conforme os evangelhos. Surpresa para quem sempre esteve acostumado com um Jesus que resolve todos os problemas das pessoas que o buscam. Um Jesus diferente daquele que é conhecido como o Cristo Rei, aquele que manda e desmanda; que separa os bons dos maus, e coloca tudo no seu devido lugar. Mais ainda, aquele que está pronto para castigar os maus, os pecadores e todos aqueles que não rezam direitinho.
            A primeira surpresa era a de que Jesus não tem boa memória! Explico: quando perdoa os pecadores, ele se esquece dos pecados. Isso, dizíamos, vai contra as regras da prudência, da malícia e da esperteza. Como ele pode escolhe indivíduos que erraram em coisas sérias para fazer parte de seu grupo? Mas Jesus surpreende a todos com suas palavras e, principalmente, com suas atitudes. Ele perdoa, esquece e confia.
           
Outra surpresa
            Aprendemos desde crianças que Jesus chamou os seus discípulos, instruiu-os, deu-lhes o Espírito Santo, e mandou-os para evangelizar o mundo todo. E assim, ele fundou a Igreja. Esta por sua vez, para poder dar conta do recado, precisa estar muito bem organizada com sua hierarquia, doutrina, moral, e, como suporte para tudo isso, com uma administração financeira competente. O dinheiro pode ser considerado “esterco do diabo”, mas é importante e necessário para que a máquina funcione. Esta é a concepção que a maioria dos cristãos tem e que nem questionam. É tranqüilo.
            Jesus, no entanto, surpreende! Ele não é bom administrador: por incrível que pode parecer para um competente administrador, Jesus paga o mesmo salário a quem trabalha uma hora apenas e a quem passa suando o dia inteiro! E, pior ainda, dá prioridade a quem pouco trabalhou; dá-lhe o que de fato não mereceu. Seu critério é outro, não se orienta pela produção, mas pela necessidade.
            Certamente ninguém toleraria em sua empresa, em sua paróquia, ou em qualquer outra atividade uma atitude assim. Pagar a quem não trabalhou, e mais, a quem não produziu lucros, isso é no mínimo, não ter visão das coisas.
            Jesus, no entanto, o faz. Ele não está preocupado em acumular cada vez mais. Ele, na sua confiança sem limites no Pai, ao distribuir entre todos os bens que os pobres colocam ao seu dispor, ensina que Deus fez tudo para todos. Deus é o Pai generoso que ama gratuitamente e quer que todos tenham acesso aos bens que colocou sobre o mundo. Isso se liga à primeira surpresa: perdoa os pecados e deles se esquece.

O nosso grande pecado
            Diante dessa surpresa devemos nos questionar sobre o perigo da ganância. Não é difícil entender que sob a desculpa de sermos previdentes escondemos o grande pecado da ganância. Jesus, ao ver a multidão faminta, não tem dúvida: é preciso fazer alguma coisa para eles. Assim era Jesus.
            E Jesus, muito ingenuamente, manda que os discípulos dêem pão aos famintos. Mas quem eram os discípulos? Todos pobres! Todavia, Jesus sabia muito bem que era preciso fazer algo mais, pois os que têm dinheiro nunca irão resolver o problema da fome no mundo. Jesus ajuda essa gente a entender que é preciso encontrar outra saída. Quando alguém passa fome não é certo guardar para si, mesmo que o pão seja seu e pouco! Lembra Deus, e mostra que é impossível crer que ele é Pai de todos, se ao mesmo tempo se deixa os irmãos e irmãs famintos sem se preocupar com eles. O alimento que o Pai dá, ele o dá para ser compartilhado entre todos. Esquecer isso é o nosso maior pecado.
            E mais: nós que nos orgulhamos por ter ao nosso dispor a Eucaristia – Pão do céu, alimento dos fortes -, mas não sabemos partilhar o alimento dos fracos, somos os mais dignos de compaixão. Nessa questão os primeiros cristãos nos dão testemunho valioso. Eles, ao compartilhar a Eucaristia, sentiam-se alimentados por Cristo ressuscitado, porém ao mesmo tempo lembravam o gesto de Jesus ao dar de comer às multidões e repartiam seus bens com os mais necessitados. Sentiam-se irmãos.
            Em nossa preocupação legalista perturba-nos alguma deficiência no rito das celebrações – se o celebrante pronunciou as palavras direito; se a hóstia deve ser recebida na mão ou na boca, de pé ou de joelhos; mas por outro lado, preocupa-nos bem menos saber se a celebração é sinal de verdadeira fraternidade, nem impulso para buscá-la.
            Deixemo-nos surpreender por Jesus, sempre de novo. Caso ainda não tomamos consciência da implicação que o Evangelho e a Eucaristia têm no relacionamento com os necessitados de todos os tipos, tenhamos coragem para crer que Jesus propõe um novo caminho, outra solução. Ele é o enviado do Pai para alimentar o povo faminto, mas ele nos convida também a trazer o que cada um pode ter na sua pobreza para alimentar-nos a todos.
Pe. Mário Fernando Glaab

WWW.marioglaab.blogspot.com

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