QUEM É
ESTE JESUS?! (2)
Apontamos
uma primeira surpresa em Jesus, conforme os evangelhos. Surpresa para quem
sempre esteve acostumado com um Jesus que resolve todos os problemas das
pessoas que o buscam. Um Jesus diferente daquele que é conhecido como o Cristo
Rei, aquele que manda e desmanda; que separa os bons dos maus, e coloca tudo no
seu devido lugar. Mais ainda, aquele que está pronto para castigar os maus, os
pecadores e todos aqueles que não rezam direitinho.
A
primeira surpresa era a de que Jesus não tem boa memória! Explico: quando
perdoa os pecadores, ele se esquece dos pecados. Isso, dizíamos, vai contra as
regras da prudência, da malícia e da esperteza. Como ele pode escolhe
indivíduos que erraram em coisas sérias para fazer parte de seu grupo? Mas
Jesus surpreende a todos com suas palavras e, principalmente, com suas
atitudes. Ele perdoa, esquece e confia.
Outra
surpresa
Aprendemos
desde crianças que Jesus chamou os seus discípulos, instruiu-os, deu-lhes o
Espírito Santo, e mandou-os para evangelizar o mundo todo. E assim, ele fundou
a Igreja. Esta por sua vez, para poder dar conta do recado, precisa estar muito
bem organizada com sua hierarquia, doutrina, moral, e, como suporte para tudo isso,
com uma administração financeira competente. O dinheiro pode ser considerado
“esterco do diabo”, mas é importante e necessário para que a máquina funcione.
Esta é a concepção que a maioria dos cristãos tem e que nem questionam. É
tranqüilo.
Jesus,
no entanto, surpreende! Ele não é bom administrador: por incrível que pode
parecer para um competente administrador, Jesus paga o mesmo salário a quem
trabalha uma hora apenas e a quem passa suando o dia inteiro! E, pior ainda, dá
prioridade a quem pouco trabalhou; dá-lhe o que de fato não mereceu. Seu
critério é outro, não se orienta pela produção, mas pela necessidade.
Certamente
ninguém toleraria em sua empresa, em sua paróquia, ou em qualquer outra
atividade uma atitude assim. Pagar a quem não trabalhou, e mais, a quem não
produziu lucros, isso é no mínimo, não ter visão das coisas.
Jesus,
no entanto, o faz. Ele não está preocupado em acumular cada vez mais. Ele, na
sua confiança sem limites no Pai, ao distribuir entre todos os bens que os
pobres colocam ao seu dispor, ensina que Deus fez tudo para todos. Deus é o Pai
generoso que ama gratuitamente e quer que todos tenham acesso aos bens que
colocou sobre o mundo. Isso se liga à primeira surpresa: perdoa os pecados e
deles se esquece.
O nosso
grande pecado
Diante
dessa surpresa devemos nos questionar sobre o perigo da ganância. Não é difícil
entender que sob a desculpa de sermos previdentes escondemos o grande pecado da
ganância. Jesus, ao ver a multidão faminta, não tem dúvida: é preciso fazer
alguma coisa para eles. Assim era Jesus.
E
Jesus, muito ingenuamente, manda que os discípulos dêem pão aos famintos. Mas
quem eram os discípulos? Todos pobres! Todavia, Jesus sabia muito bem que era
preciso fazer algo mais, pois os que têm dinheiro nunca irão resolver o
problema da fome no mundo. Jesus ajuda essa gente a entender que é preciso
encontrar outra saída. Quando alguém passa fome não é certo guardar para si,
mesmo que o pão seja seu e pouco! Lembra Deus, e mostra que é impossível crer
que ele é Pai de todos, se ao mesmo tempo se deixa os irmãos e irmãs famintos
sem se preocupar com eles. O alimento que o Pai dá, ele o dá para ser
compartilhado entre todos. Esquecer isso é o nosso maior pecado.
E
mais: nós que nos orgulhamos por ter ao nosso dispor a Eucaristia – Pão do céu,
alimento dos fortes -, mas não sabemos partilhar o alimento dos fracos, somos
os mais dignos de compaixão. Nessa questão os primeiros cristãos nos dão
testemunho valioso. Eles, ao compartilhar a Eucaristia, sentiam-se alimentados
por Cristo ressuscitado, porém ao mesmo tempo lembravam o gesto de Jesus ao dar
de comer às multidões e repartiam seus bens com os mais necessitados.
Sentiam-se irmãos.
Em
nossa preocupação legalista perturba-nos alguma deficiência no rito das
celebrações – se o celebrante pronunciou as palavras direito; se a hóstia deve
ser recebida na mão ou na boca, de pé ou de joelhos; mas por outro lado,
preocupa-nos bem menos saber se a celebração é sinal de verdadeira fraternidade,
nem impulso para buscá-la.
Deixemo-nos
surpreender por Jesus, sempre de novo. Caso ainda não tomamos consciência da
implicação que o Evangelho e a Eucaristia têm no relacionamento com os
necessitados de todos os tipos, tenhamos coragem para crer que Jesus propõe um
novo caminho, outra solução. Ele é o enviado do Pai para alimentar o povo
faminto, mas ele nos convida também a trazer o que cada um pode ter na sua
pobreza para alimentar-nos a todos.
Pe. Mário Fernando Glaab
WWW.marioglaab.blogspot.com
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