FORMAÇÃO
TEOLÓGICO-PASTORAL PARA GESTORES PAROQUIAIS
Os gestores paroquiais sabem muito bem que na sociedade
onde pululam ofertas religiosas por toda parte, num ambiente plural como o
nosso, a visibilidade e beleza das igrejas, seus cultos e atendimentos
paroquiais simpáticos não podem faltar, pois para competir com tudo isso, eles são
essenciais. Isso está claro. Templos, celebrações, equipes litúrgicas, padres e
funcionários paroquiais que não atraem pela beleza, pela simpatia pela leveza,
não conseguem seu lugar em meio à esfomeada concorrência da oferta do mercado
religioso no mundo plural em que vivemos.
Pastoral
de conversão
Porém, só isso é pouco. A preocupação do gestor não pode ficar
somente neste aspecto. Ela necessita estar atenta, pois o gestor deve estar em
comunhão com todo o andamento pastoral e teológico da Igreja, no mundo, e,
principalmente no Brasil. Assim, sua ação estará carregada de conteúdo sólido
e, de fato, poderá responder às questões das pessoas de hoje, em seus anseios e
incertezas, próprias da turbulência que agita a sociedade hodierna, e também à
Igreja nas suas mais diferentes comunidades.
Para tal, o gestor precisa conhecer os modelos
teológico-pastorais que norteiam a ação evangelizadora da Igreja. É de extrema
importância, a partir do Documento de Aparecida e, ultimamente, da Encíclica Evangelii Gaudium, para citar apenas
dois, que se conceba a Igreja como “Igreja de Igrejas”, ou ainda, a paróquia
como “comunidade de comunidades”; pois, o Papa Francisco não se cansa de
convocar todos para uma “pastoral de conversão missionária”. Francisco desafia
a Igreja, no nosso caso as paróquias com seus primeiros responsáveis, para sair
da sacristia e ir para as periferias onde estão as pessoas.
A pastoral de conversão missionária é um processo – não
está terminado. O gestor precisa saber que não possui um “pacote” de verdades a
oferecer a quem o procurar. Ele, necessariamente, deve entrar na dinâmica do
encontro direto, tanto com Jesus Cristo quanto com o povo, também com aquele
que não vem à sacristia ou à missa dominical. Nesse duplo encontro é que se
efetua a conversão do agente, e consequentemente, das pessoas que são tocadas
“corpo a corpo”, não como massa. Para isso, no entanto, o gestor, além de se utilizar
dos meios modernos de comunicação, e além de conhecer suas técnicas; não pode
deixar de se aprofundar nos conhecimentos teológicos; assim ter mais teologia
que doutrina, mais princípios que dogmas, e ser mais pastor que administrador
ou organizador.
Paróquia
missionária
A metodologia que orienta a conversão missionária é a de
Jesus e das comunidades cristãs primitivas. Convidam-se as pessoas concretas –
os indivíduos – para o discipulado. À medida que o processo mestre-discípulo se
concretiza, acontece a organização, a estruturação e a instituição da entidade.
Contudo, também o mestre aprende com os discípulos. Conforme as necessidades e
questionamentos deles, ele se adapta e se forma. Nas igrejas embrionárias foi
assim, e, pelos séculos afora não foi diferente. O perigo está em se fechar no
passado, pensando que já se sabe tudo e, que não é preciso crescer e se renovar
continuamente.
Para não se deixar levar pela onda do momento, é
igualmente importante salientar que conhecimentos teológicos básicos,
fundamentados nos modelos eclesiológicos e pastorais elaborados por mestres
experimentados, protegem os valores evangélicos de interpretações ou de doutrinas
falsas. O gestor é antes de tudo profeta. Isso por ter formação
teológico-pastoral sólida; e por estar inserido na vida, na atividade e na
dinâmica transformadora dos paroquianos.
Administrar com competência uma paróquia e torná-la
visível e bela é, sem dúvida, necessário; contudo, colocá-la ao dispor das
pessoas para ser instrumento de salvação, de libertação, de misericórdia, de
vida plena é mais necessário ainda. Qualquer que seja o gestor paroquial, não
deve nunca se furtar de aprofundamentos teológico-pastorais. Além de participar
dos encontros de formação em sua comunidade, deve estudar e refletir por conta
própria, e fazer a experiência com o povo com o qual convive.
Sugestões:
1-
Deve-se
investir para que o conjunto que forma uma paróquia - templo, liturgia, equipes
de celebração, cantos, desenvolvimento dos ritos, funcionários, secretários...
– seja belo e visível para que os fiéis possam ver e se sintam bem;
2-
Deve-se,
no entanto, não ficar somente nesse primeiro aspecto. Os gestores precisam
conhecer os fundamentos teológicos e eclesiológicos da Igreja, especialmente da
Igreja no Brasil nos tempos atuais;
3-
Os
últimos documentos da Igreja convidam à “pastoral de conversão missionária”,
isto é, desafiam a todos, mas diretamente os gestores, a fazer a experiência do
encontro pessoal com Jesus Cristo e com as pessoas concretas. A partir de Jesus
colocar-se no caminho do discipulado com os irmãos, e com eles procurar na Igreja
respostas para as perguntas e saída para as angústias que os atormentam;
4-
Os
gestores devem ter mais teologia que doutrinas; mais espírito de pastoreio que
de administração;
5-
Os
gestores, baseados em fundamentos sólidos, nunca “negociam” os valores
evangélicos, mas como profetas os apresentam, com novas roupagens ou novas
interpretações para a defesa do homem todo e de todos os homens. Esta é a
presença da Igreja – da paróquia – no mundo, junto às pessoas – também nas
periferias da humanidade.
Pe. Mário Fernando Glaab