JESUS
SOFRE CONOSCO
Viciada pela mentalidade capitalista, grande parte dos
cristãos procura um deus que liberta do sofrimento, da dor e da morte. Como
cada vez mais se compra o prazer, o poder e o domínio sobre todas as situações,
também se busca, através da barganha pecuniária, a solução para o problema do
sofrimento humano.
Sem dúvida, é bom se preocupar com a eliminação dos
sofrimentos que atingem as pessoas, tanto físicos como espirituais, psicológicos
e de tantas outras maneiras. Mas que não se pode é negociar com Deus, para que
ele resolva o que cabe a nós, seres humanos inteligentes e capazes, resolver.
Na verdade, Deus, ou Jesus mesmo, não pode nos ajudar naquilo que é próprio
nosso. Parece uma afirmação de alguém que não confia no poder de Cristo. Mas é
pura verdade.
Deus, em Jesus Cristo, está sempre com todos nós. Ele não
nos abandona nos momentos felizes, como nos momentos de dor e de desespero. Se
assim não fosse, ele não seria o “Deus Conosco”. Porém, também para os mais
santos e devotos, o sofrimento é nua e crua realidade. Por quê?
O sofrimento e a dor sempre serão a grande incógnita da
vida dos humanos. Nem mesmo a fé cristã nos dá uma resposta como nós
gostaríamos; ainda mais, influenciados pelo mundo que tudo quer explicar
científica e tecnicamente. No entanto, esta mesma fé responde de outra maneira.
Ela desafia mais nossa capacidade limitada e pede confiança total. Confiança
não em alguma teoria ou em explicações racionais. Confiança naquele em quem
acreditamos.
Nós, os cristãos, cremos que Deus veio fazer história
conosco. Ele se revelou e continua a se revelar. A revelação de Deus tomou
forma humana na pessoa de Jesus de Nazaré. Ele veio, em momento histórico e
localização geográfica precisos. Teve a sua história concreta. A fez com o seu
povo. Mas não ficou restrito àquele momento histórico e àquela região da
Palestina. Ele, o Filho do Pai Eterno encarnado na pessoa de Jesus, veio para
ficar com todos os seres humanos de todos os tempos e de todos os lugares. Ele
entrou na eternidade de Deus pela ressurreição. A história humana está
perpassada pela história de Deus. Tudo o que acontece neste mundo, é afirmação
ou negação desta verdade. Os acontecimentos que dão vida, favorecem a vida (não
só dos humanos, mas também das demais formas de vida no Planeta) e a defendem,
são verdadeiras, e sinalizam para a presença de Deus na história; os
acontecimentos que matam, destroem ou dificultam a vida, são mentirosos, e
negam a presença de Deus na caminhada histórica do mundo.
O desafio do cristão está em se posicionar a favor da
verdade. Isto pode lhe custar imensos sofrimentos, pois o mundo não quer ver a
Deus. O mundo se sente perturbado pela presença de Deus. Ele quer se deliciar
com a história longe da verdade. Quer viver na mentira, quer se esconder atrás
dos próprios erros. O cristão, porém, sabendo que Deus está presente em Jesus
que assumiu sobre si as dores e os sofrimentos da humanidade, não se acovarda.
Assume a vida na verdade, assim como Jesus confiou verdadeiramente em Deus, ao ponto
de lhe entregar o espírito no momento mais drástico da existência: no momento
da morte. Assim também o cristão confia, mesmo que a dor, a incompreensão, a
injustiça e o mal o fazem sofrer as mais terríveis angústias, até mesmo a
morte.
Resumindo tudo isso, podemos afirmar com o grande teólogo
de nossos tempos, A. Queiruga, que “Deus, na história, não nos salva do
sofrimento, mas nos salva no sofrimento”. Deus nos salva para a vida plena,
como salvou a Jesus de Nazaré, ressuscitando-o. A ressurreição ninguém pode
comprar, mas é gratuidade para os que a acolherem. O sofrimento faz parte da
caminhada, mas não tem a última palavra. A última Palavra é Cristo
Ressuscitado, vencedor do mal e da morte.
Pe. Mário
Fernando Glaab
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