ESPERANÇA
EM TEMPOS DE CRISE
Em tempos de crise, nada mais necessário que esperança.
As crises, em qualquer situação da vida, da história individual, familiar,
comunitária, social, nacional ou mundial, estão sempre a nos perseguir. Muitas
vezes se apresentam com proporções assustadoras, que escapam de nossas pobres
capacidades de resistência. Nestas horas, o que nos resta e que não pode
esmorecer, é a esperança de superação, mesmo que não enxergamos nenhuma saída.
Esperança
Mas afinal, o que se pode entender por esperança em
momentos de crise? A esperança não é uma simples e ingênua saída com a qual se
sonha quando as coisas não funcionam mais normalmente. Ela é algo que vai bem
mais longe. Estamos falando, não de pensamento positivo (valor da psicologia,
que fica, no entanto no nível humano), mas da esperança cristã; virtude que
acompanha a fé e a caridade, e junto com elas compõe as virtudes teologais;
infusas por Deus no batismo e desenvolvidas pelo cristão durante toda a vida.
A virtude da esperança não traz soluções mágicas para
situações angustiantes de crises, mas não abandona as pessoas diante dos
desafios, muitas vezes, bem acima das possibilidades de solução. Ela é a
certeza de que as forças contrárias não são invencíveis, ou melhor, que o mal
não é mais forte que o bem. O possuidor da esperança sabe muito bem que pode sucumbir,
mas que, com a força de Deus, lá no fundo do poço haverá uma resposta. Resposta
que somente Deus pode dar, mas que será a resposta definitiva. Sabe que
intervenções imediatas podem não acontecer, que as forças do mal farão muito
estrago, porém, Deus haverá de recuperar o direito e a justiça. É isso que se
aprende ao contemplar a vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus.
Quando Jesus estava na cruz, gritaram: “Desce da cruz, e nós acreditaremos em
ti”. Ele, no entanto, não desceu! Mesmo assim, confiou no Pai, e morreu. Teve
esperança contra toda a esperança. A ressurreição é a resposta do Pai; a
resposta definitiva.
Em que, então, a esperança se baseia? O que a alimenta ou
a sustém? Quanto maiores forem as crises, menos sinais de solução aparecem.
Para Jesus, como para tantos justos, quanto mais perto da morte tanto mais
sinais de fracasso e de derrota surgiam. Alimentar a esperança em quê? Apenas
uma resposta convincente: a esperança é sustentada pela fé e pela caridade. A
fé é adesão confiante em Deus, Senhor do Bem e Criador de todas as coisas. Ele
não está sob o domínio do mal. A caridade é a relação íntima com esse Deus e
com todas as criaturas, em Deus. Quanto mais caridade experimentada, tanto mais
a força do Bem se expressa; e a pessoa que a possui ultrapassa as forças
malignas.
Se por um lado a esperança se sustenta na fé e na
caridade, por outro, estas duas virtudes são sustentadas por ela. É sua larga,
humilde e sofrida paciência que reaviva sempre de novo a fé e, impulsiona concretamente
a caridade. Esperar, humilde e pacientemente, nas mais duras provações, em Deus
que é maior, desperta enormemente a fé e exercita a caridade. Enquanto espera,
vive com fé e caridade todos os instantes da existência, e da crise.
A
oração em momentos de crise
Para
alguns, nos momentos de crise, a saída está na oração. Verdade. No entanto,
como rezar diante das cruzes?
Em
primeiro lugar, o cristão não ora somente em momentos de provação, ele reza
sempre, todos os dias. Contudo, a fé que leva a rezar, também nas situações
mais complicadas, não pode ser ingênua. Apesar de pedir o afastamento do cálice,
deve dispor a assumir, até as últimas consequências, as lutas contra o mal a
que está submetido. Neste exato momento entra em cena a esperança, como virtude
cristã que vai além da cruz que se carrega Calvário acima. A fé e a esperança
sustentam a caridade que assume num esforço transformador a dor e o peso da
cruz. Somente assim, a oração se torna resposta autêntica do cristão diante da
cruz, a Deus que o fez para o bem, sem restrições. Pois, a ressurreição não
assegura o desaparecimento da cruz nem sequer a vitória histórica sobre ela,
mas alimenta a esperança, sustenta a fé e, fortifica a caridade.
Uma vez dito isso, pode-se concluir
que a oração cristã não pode ser um mendigar intervencionismos divinos perante
as necessidades, os abusos ou as desgraças humanas, mas deve ser a confiante e
segura busca de soluções para todos os males que afligem a humanidade, contando
com a força que vem do alto, manifestada na ressurreição de Jesus, e de tantos
mártires que não hesitaram em doar a vida por uma causa maior do que eles
próprios. Assim como Deus não interveio para tirar Jesus da cruz – nem podia,
pois estaria negando o amor testemunhado por ele – também não intervém naquilo
que cabe a nós fazermos para tornar este mundo mais justo, fraterno e habitável
por todos. Se o mal, causado pelos erros e egoísmos humanos, faz sofrer; o
cristão reza para ter forças e não esmorecer na luta contra tais sofrimentos. Para
com sua fé, esperança e caridade, vencer o mal com o bem.
Pe.
Mário Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com