NATAL
– O VERBO SE FEZ CARNE
Todos os anos, ao se aproximar a solenidade do Natal do
Senhor, ressoa em nossos ouvidos o que o evangelista João escreveu no prólogo
de seu evangelho: “E o Verbo se fez carne e veio morar entre nós” (1,14). Esta
afirmação da fé cristã é o motivo de toda celebração natalina. Se assim não
for, o que se comemora não é Natal cristão. Pode ser qualquer outra coisa,
menos o que os cristãos celebram nesta festa.
Verbo
de Deus
Verbo (Palavra)
de Deus é, conforme o mesmo evangelista, Deus mesmo (Jo 1,1). Poderíamos dizer,
em palavras mais acessíveis para nós que não somos especialistas em teologia
bíblica, que o Verbo é a comunicação do próprio Deus – Ele que vem como o
Deus-Amor. Não se trata de um “aviso” ou de uma notícia que Deus manda através
de alguém; mas dEle mesmo. A Comunicação é Deus em pessoa.
Estamos aqui no mistério da Trindade, um Deus em três
Pessoas. Mas, ao professar que o Verbo se fez carne, crê-se na entrada deste
mistério na história limitada das criaturas. A Eternidade tocando o tempo;
melhor ainda, o Eterno entrando no tempo, para fazer história com o ser humano
que, com as criaturas, caminha na direção de uma meta que lhe foi proposta pelo
Criador.
O Verbo de Deus é, portanto, o mistério do próprio Deus.
É este Deus que habita em luz inacessível, e que justamente por isso, só pode
ser vislumbrado pela fé. Aliás, todos os povos de todos os tempos sempre estão
à busca deste Deus. É o que todas as religiões fazem. As religiões almejam
“religar” as pessoas (também as coisas) a Deus – estabelecer contato com Ele.
Cada uma o faz como “descobriu” ser o melhor caminho. Daí as inúmeras doutrinas
e práticas religiosas que, quando seguidas por pessoas de boa vontade, levam a
Deus.
Nós cristãos, ao falar do Verbo de Deus já estamos nos
apoiando na revelação de que Deus é comunicação. Ele se comunica no mistério
trinitário, mas também se comunica para suas criaturas. E “Verbo” foi o termo
que o evangelista encontrou para apresentar esta comunicação divina.
Se
fez carne
É o que se chama de “Encarnação”. Quer dizer, Deus Eterno
se faz um de nós: “em tudo semelhante a nós, menos no pecado” (Hb 4,15). Este,
que é Deus, é carne: um de nós! Com “carne” se entende a totalidade do ser
humano. Ou então, “verdadeiro homem”. Poderíamos dizer ainda que Ele – Jesus -
é o Homem Verdadeiro. O homem assim como Deus o concebeu ao criá-lo, e assim
como Deus quer que seja cada um e todos os homens de todos os tempos e de todos
os lugares.
Mas não podemos esquecer que Deus não deixou de ser Deus,
uma vez que se encarnou. A fé cristã professa que Jesus Cristo é verdadeiro
Deus e verdadeiro homem, consubstancial ao Pai pela divindade, e consubstancial
a nós pela humanidade (Concílio de Calcedônia, 451). Deste modo cremos que em
Jesus Cristo o Eterno se encontra com o tempo, com a história. O tempo e a
história são próprios de nosso mundo criado, que por sua vez é limitado. É
neste mundo que existe a bondade, o amor e a misericórdia; mas igualmente a
maldade, o ódio e a injustiça. Contudo, a partir da Encarnação Ele está no meio
de nós; nós, no aqui e no agora, nos comunicamos com o Mistério de Deus. Mais
que comunicar, comungamos com Ele e nEle: “pois nEle vivemos, nos movemos e
existimos” (At 17,28).
Natal
cristão
Natal cristão é fazer memória de tudo isso. É tornar
presente esta riqueza da fé lá onde estão os cristãos. Natal não é recordar o
que aconteceu a mais de 2.000 anos em Belém, mas muito mais do que isso, é
deixar que o mistério do Deus Encarnado toque a todos os humanos e que nos
renove para sermos verdadeiramente homens e mulheres plenos de Deus,
construtores de um mundo novo, livre da injustiça, da maldade, da corrupção e
da morte, uma vez que Ele veio, vem e virá sempre de novo para morar conosco.
Feliz Natal. Natal de Jesus, que é Natal dos cristãos, e
que quer ser Natal para toda a humanidade.
Pe. Mário
Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com