Um
Deus para o Mundo e um Mundo para Deus
É verdade o que se diz: “O mundo sem Deus está perdido”,
ou “Estas coisas (violência, corrupção, injustiças...) acontecem por falta de
Deus no mundo”, ou ainda, “Precisamos colocar tudo nas mãos de Deus”. Porém,
estas afirmações merecem algumas considerações. Será que existe distância entre
Deus e o mundo, um aqui, outro lá; pode existir um mundo sem Deus? O que fazer
para que volte de novo a ter harmonia entre os dois?
Somos
da terra e do céu
Nós, seres humanos dotados de consciência, é que fazemos
perguntas assim. Às vezes nos sentimos demais da terra, outras vezes demais do
céu. Da terra, quando julgamos que todas as situações de impasses daqui de
baixo devem ser enfrentadas com as capacidades e forças que adquirimos ao
desenvolver nossas dimensões humanas. Do céu, quando confiamos demais em forças
do alto em detrimento de nossas iniciativas aqui da terra; às vezes sonhando
com um futuro no além que nos deixa acomodados diante das questões mais
complicadas deste mundo. É também verdade que o mundo pode prender, e que o céu
pode alienar. Todavia, para que isso não aconteça deve haver equilíbrio. Um
justo meio. Nós somos de Deus, mas somos do mundo; somos espirituais, como
corporais; somos santos e somos pecadores.
Da mesma forma deve-se entender que somos do céu e somos
da terra. Não podemos ficar somente no céu, pois isto nos abstrai de nossa
história concreta onde nascemos, crescemos e vivemos; como também não podemos
ficar somente na terra, pois assim perderemos o rumo de nossa existência. Que
sentido tem uma vida – mesmo que bem sucedida – se no fim tudo acaba na doença
e na morte? Portanto, somos da terra e somos do céu. Estamos de pé: os pés bem
fixos no chão da existência histórica, no mundo das contradições e acertos; mas
com a cabeça na altura, apontada para o céu. É de lá que vem a luz e a coragem
para continuar a caminhada. Não é possível caminhar se não se está na posição
correta: os pés no chão e a cabeça no alto. Todo o resto do corpo está em meio
aos pés e a cabeça; e tudo avança harmonicamente.
Novos
Céus e nova Terra
O cristianismo, a partir da tradição judaica, espera
“novos céus e nova terra”; uma realidade nova onde Deus mesmo está “na” terra.
Ali ele fixa sua morada, e tudo será transformado. Já não haverá mais alienação
nem fixação no egoísmo, pois tudo será recriado conforme o plano do Criador. A
criatura assumirá sua condição de criatura e não mais dominará sobre sua igual.
Haverá paz e verdadeira igualdade. Deus será tudo em todos.
Talvez, ao invés de dizer que se precisa um Deus para o
mundo, ou um mundo para Deus, seja melhor está outra visão: deixar que Deus e
mundo se unam cada vez mais. Assumir cada vez mais no mundo a presença de Deus.
A esperança dos novos céus e da nova terra fazem a história de hoje ser
história nova, pois já brilha no horizonte a grande Novidade. Mesmo que ainda
existem muitas ambiguidades, uma vez que a história é limitada, já existe a
certeza da esperança que está transformando o mundo e a história da humanidade,
hoje. É o “já, mas ainda não” da esperança cristã que orienta a história de
Deus com o Mundo por Ele criado e por Ele conduzido, até chegar ao Fim
Definitivo: a glória de Deus e a glória do Mundo.
Unidade
no Espírito
Esta reflexão pode parecer abstrata, uma vez que nossa
concepção de Deus e de Mundo são tão antagônicas. No entanto, não podemos
esquecer de que o Espírito de Deus foi derramado sobre o Mundo; e, a partir de
então, tudo será possível. Ele está no Mundo, apesar de o Mundo não o querer.
Toda a criação é permeada pelo Espírito de Deus. Sua intervenção é criadora e
consumadora. É o modo como Deus e o próprio Senhor Jesus entram na história e a
impulsionam para o seu fim.
Portanto, a unidade entre Deus e Mundo não é construída
por forças humanas, mas pela própria força do Espírito de Deus. Nós, os seres
humanos com todos as criaturas, colaboramos nesta obra maravilhosa livre e
espontaneamente. Que cada um faça a sua parte nesta grande obra da criação que
vem das mãos amorosas de Deus Criador, Salvador e Consumador.
Pe. Mário
Fernando Glaab.