sábado, 8 de setembro de 2018

Céus e Terra em Deus


Um Deus para o Mundo e um Mundo para Deus

            É verdade o que se diz: “O mundo sem Deus está perdido”, ou “Estas coisas (violência, corrupção, injustiças...) acontecem por falta de Deus no mundo”, ou ainda, “Precisamos colocar tudo nas mãos de Deus”. Porém, estas afirmações merecem algumas considerações. Será que existe distância entre Deus e o mundo, um aqui, outro lá; pode existir um mundo sem Deus? O que fazer para que volte de novo a ter harmonia entre os dois?

Somos da terra e do céu
            Nós, seres humanos dotados de consciência, é que fazemos perguntas assim. Às vezes nos sentimos demais da terra, outras vezes demais do céu. Da terra, quando julgamos que todas as situações de impasses daqui de baixo devem ser enfrentadas com as capacidades e forças que adquirimos ao desenvolver nossas dimensões humanas. Do céu, quando confiamos demais em forças do alto em detrimento de nossas iniciativas aqui da terra; às vezes sonhando com um futuro no além que nos deixa acomodados diante das questões mais complicadas deste mundo. É também verdade que o mundo pode prender, e que o céu pode alienar. Todavia, para que isso não aconteça deve haver equilíbrio. Um justo meio. Nós somos de Deus, mas somos do mundo; somos espirituais, como corporais; somos santos e somos pecadores.
            Da mesma forma deve-se entender que somos do céu e somos da terra. Não podemos ficar somente no céu, pois isto nos abstrai de nossa história concreta onde nascemos, crescemos e vivemos; como também não podemos ficar somente na terra, pois assim perderemos o rumo de nossa existência. Que sentido tem uma vida – mesmo que bem sucedida – se no fim tudo acaba na doença e na morte? Portanto, somos da terra e somos do céu. Estamos de pé: os pés bem fixos no chão da existência histórica, no mundo das contradições e acertos; mas com a cabeça na altura, apontada para o céu. É de lá que vem a luz e a coragem para continuar a caminhada. Não é possível caminhar se não se está na posição correta: os pés no chão e a cabeça no alto. Todo o resto do corpo está em meio aos pés e a cabeça; e tudo avança harmonicamente.

Novos Céus e nova Terra
            O cristianismo, a partir da tradição judaica, espera “novos céus e nova terra”; uma realidade nova onde Deus mesmo está “na” terra. Ali ele fixa sua morada, e tudo será transformado. Já não haverá mais alienação nem fixação no egoísmo, pois tudo será recriado conforme o plano do Criador. A criatura assumirá sua condição de criatura e não mais dominará sobre sua igual. Haverá paz e verdadeira igualdade. Deus será tudo em todos.
            Talvez, ao invés de dizer que se precisa um Deus para o mundo, ou um mundo para Deus, seja melhor está outra visão: deixar que Deus e mundo se unam cada vez mais. Assumir cada vez mais no mundo a presença de Deus. A esperança dos novos céus e da nova terra fazem a história de hoje ser história nova, pois já brilha no horizonte a grande Novidade. Mesmo que ainda existem muitas ambiguidades, uma vez que a história é limitada, já existe a certeza da esperança que está transformando o mundo e a história da humanidade, hoje. É o “já, mas ainda não” da esperança cristã que orienta a história de Deus com o Mundo por Ele criado e por Ele conduzido, até chegar ao Fim Definitivo: a glória de Deus e a glória do Mundo.

Unidade no Espírito
            Esta reflexão pode parecer abstrata, uma vez que nossa concepção de Deus e de Mundo são tão antagônicas. No entanto, não podemos esquecer de que o Espírito de Deus foi derramado sobre o Mundo; e, a partir de então, tudo será possível. Ele está no Mundo, apesar de o Mundo não o querer. Toda a criação é permeada pelo Espírito de Deus. Sua intervenção é criadora e consumadora. É o modo como Deus e o próprio Senhor Jesus entram na história e a impulsionam para o seu fim.
            Portanto, a unidade entre Deus e Mundo não é construída por forças humanas, mas pela própria força do Espírito de Deus. Nós, os seres humanos com todos as criaturas, colaboramos nesta obra maravilhosa livre e espontaneamente. Que cada um faça a sua parte nesta grande obra da criação que vem das mãos amorosas de Deus Criador, Salvador e Consumador.
Pe. Mário Fernando Glaab.

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