COMUNHÃO,
RELAÇÃO E AMOR
Comunhão, relação e amor são palavras que não chamam
muito a nossa atenção. Isto porque são muito usadas, mas na verdade, não são
entendidas em profundidade. Fala-se delas como se fossem algo tão comum: alguém
está em comunhão com o outro porque concorda nisto ou naquilo; tem relação
porque faz algum negócio; e, ama porque gosta de alguma qualidade ou tem algum
interesse. A mentalidade que cada vez mais se impõe na sociedade é totalmente
contrária à profundidade destes termos.
Individualismo,
ganância e ódio
Basta abrir os olhos para ver que cada vez mais cresce o
individualismo, a ganância e o ódio ao invés de comunhão, relação e amor. Isto
chega a nos surpreender, pois deram um jeito de manipular a tal ponto nossas
consciências de apresentar estes males como bens. O individualismo é defendido
como causa de sucesso: quem cuida de si, este prospera, quem não o faz, é
culpado de sua derrota; quem busca sofregamente ter mais, este é louvado,
porque sabe trabalhar (mesmo que passe por cima de qualquer princípio de
justiça), sabe investir, quem não o faz é vagabundo e pobre por sua própria
culpa; quem odeia os bandidos é bom, mas aquele que vai ao encontro dos caídos
à beira da sociedade egoísta, este é um deles! Assim soa o novo evangelho da
sociedade capitalista e liberal. Esta sociedade tem a seu favor os grandes
meios de comunicação que tem um poder imenso para fazer “as cabeças”, e mais
ainda, para fazer “os corações”. Explicando melhor: de confundir as cabeças e
de endurecer os corações.
Analisando o comportamento de muitas pessoas percebe-se
um crescimento assustador desses sentimentos que são destruidores da comunidade
humana. Mesmo gente que foi educada nos valores humanos e cristãos desde a
infância, como família, sociedade e Igreja, deixa-se encantar pelo anúncio dos
falsos valores. E, quando toma consciência (se é que ainda tem capacidade para isso),
já está totalmente viciada.
Resposta
cristã
Contrariamente ao que muitos pensam, o cristianismo não é
uma doutrina moral que dá alguns bons conselhos, mas é Revelação de um Deus que
é Comunhão, Relação e Amor. Este é o mistério do Pai, do Filho e do Espírito
Santo. A partir desse mistério se pode dizer algo sobre o ser humano, seu
projeto de vida e sobre a criação como um todo. Estamos falando do mistério
central da fé cristã: Deus-Trindade. O Pai Criador; o Filho Salvador; o
Espírito Santo Santificador. É próprio da essência do Deus cristão se revelar
como Pai Criador, que cria por amor para estabelecer comunhão entre todas as suas
criaturas. Para isso chama o ser humano para colaborar nesta obra. Revela-se
como Filho que se encarna na carne humana para ser o caminho, a verdade e a
vida, estabelecendo assim um relacionamento amoroso, no qual oferece a salvação
ao homem perdido por sua própria culpa. Revela-se como Espírito de Amor para
conduzir, para iluminar e para dar força a todo aquele que de boa vontade
procura o bem e quer evitar o mal.
Portanto, o cristianismo tem, também hoje, algo a dizer
para o mundo. Ao invés de concordar com a mentalidade de morte que se apresenta
como a saída para os fortes, ele aponta, a partir da fé no mistério do Deus que
é Criador, Salvador e Santificador, para a comunhão, a doação sem limites e o
amor até as últimas consequências. A fé cristã, que não é, insisto, tradição
sem compromisso, mas testemunho do Deus Uno e Trino, assume também hoje, diante
do mundo injusto, corrupto, excludente e que despreza os mais fracos, os
valores da vida, da justiça, da igualdade e da fraternidade. A fé cristã continua
a ensinar que quando se olha para qualquer ser humano, seja ele o mais humilde,
o mais desprezível, o doente, o idoso, o escravo, o preso, a criança que ainda
nem nasceu, enfim o pobre, nele Deus-Trindade está nascendo. Deus fez nele o
seu templo. Mas dá para cada um a tarefa de se deixar envolver por este
mistério: descobrir que a Trindade Comunhão-Doação-Amor não está distante,
acessível apenas para iniciados, mas lá onde estão os últimos, nas periferias
da existência.
Deus Trindade continua a se revelar para nós e para o
mundo, também hoje, mas precisamos estar atentos para não passar ao largo sem
percebê-lo, como fizeram o sacerdote e o levita na história que Jesus contou; e
como a grande mídia nos convida a fazer. Deixar-nos compadecer, como fez o
samaritano.
Pe. Mário
Fernando Glaab