sábado, 6 de outubro de 2018

Uma resposta para o mundo.


COMUNHÃO, RELAÇÃO E AMOR

            Comunhão, relação e amor são palavras que não chamam muito a nossa atenção. Isto porque são muito usadas, mas na verdade, não são entendidas em profundidade. Fala-se delas como se fossem algo tão comum: alguém está em comunhão com o outro porque concorda nisto ou naquilo; tem relação porque faz algum negócio; e, ama porque gosta de alguma qualidade ou tem algum interesse. A mentalidade que cada vez mais se impõe na sociedade é totalmente contrária à profundidade destes termos.

Individualismo, ganância e ódio
            Basta abrir os olhos para ver que cada vez mais cresce o individualismo, a ganância e o ódio ao invés de comunhão, relação e amor. Isto chega a nos surpreender, pois deram um jeito de manipular a tal ponto nossas consciências de apresentar estes males como bens. O individualismo é defendido como causa de sucesso: quem cuida de si, este prospera, quem não o faz, é culpado de sua derrota; quem busca sofregamente ter mais, este é louvado, porque sabe trabalhar (mesmo que passe por cima de qualquer princípio de justiça), sabe investir, quem não o faz é vagabundo e pobre por sua própria culpa; quem odeia os bandidos é bom, mas aquele que vai ao encontro dos caídos à beira da sociedade egoísta, este é um deles! Assim soa o novo evangelho da sociedade capitalista e liberal. Esta sociedade tem a seu favor os grandes meios de comunicação que tem um poder imenso para fazer “as cabeças”, e mais ainda, para fazer “os corações”. Explicando melhor: de confundir as cabeças e de endurecer os corações.
            Analisando o comportamento de muitas pessoas percebe-se um crescimento assustador desses sentimentos que são destruidores da comunidade humana. Mesmo gente que foi educada nos valores humanos e cristãos desde a infância, como família, sociedade e Igreja, deixa-se encantar pelo anúncio dos falsos valores. E, quando toma consciência (se é que ainda tem capacidade para isso), já está totalmente viciada.

Resposta cristã
            Contrariamente ao que muitos pensam, o cristianismo não é uma doutrina moral que dá alguns bons conselhos, mas é Revelação de um Deus que é Comunhão, Relação e Amor. Este é o mistério do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A partir desse mistério se pode dizer algo sobre o ser humano, seu projeto de vida e sobre a criação como um todo. Estamos falando do mistério central da fé cristã: Deus-Trindade. O Pai Criador; o Filho Salvador; o Espírito Santo Santificador. É próprio da essência do Deus cristão se revelar como Pai Criador, que cria por amor para estabelecer comunhão entre todas as suas criaturas. Para isso chama o ser humano para colaborar nesta obra. Revela-se como Filho que se encarna na carne humana para ser o caminho, a verdade e a vida, estabelecendo assim um relacionamento amoroso, no qual oferece a salvação ao homem perdido por sua própria culpa. Revela-se como Espírito de Amor para conduzir, para iluminar e para dar força a todo aquele que de boa vontade procura o bem e quer evitar o mal.
            Portanto, o cristianismo tem, também hoje, algo a dizer para o mundo. Ao invés de concordar com a mentalidade de morte que se apresenta como a saída para os fortes, ele aponta, a partir da fé no mistério do Deus que é Criador, Salvador e Santificador, para a comunhão, a doação sem limites e o amor até as últimas consequências. A fé cristã, que não é, insisto, tradição sem compromisso, mas testemunho do Deus Uno e Trino, assume também hoje, diante do mundo injusto, corrupto, excludente e que despreza os mais fracos, os valores da vida, da justiça, da igualdade e da fraternidade. A fé cristã continua a ensinar que quando se olha para qualquer ser humano, seja ele o mais humilde, o mais desprezível, o doente, o idoso, o escravo, o preso, a criança que ainda nem nasceu, enfim o pobre, nele Deus-Trindade está nascendo. Deus fez nele o seu templo. Mas dá para cada um a tarefa de se deixar envolver por este mistério: descobrir que a Trindade Comunhão-Doação-Amor não está distante, acessível apenas para iniciados, mas lá onde estão os últimos, nas periferias da existência.
            Deus Trindade continua a se revelar para nós e para o mundo, também hoje, mas precisamos estar atentos para não passar ao largo sem percebê-lo, como fizeram o sacerdote e o levita na história que Jesus contou; e como a grande mídia nos convida a fazer. Deixar-nos compadecer, como fez o samaritano.
Pe. Mário Fernando Glaab

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