sábado, 25 de maio de 2019

Pelo Pobre ao Espírito.


ESPÍRITO, COMUNIDADE E POBRE

            Há novo despertar do cristão e dos povos para a presença do Espírito, na Igreja e no mundo, assim como nas atividades diárias da humanidade. Cada vez mais se toma consciência de que a história das pessoas e dos acontecimentos possui uma “alma”, e que esta, mesmo latente, é de grande importância. O cristão, sem esquecer a dimensão trinitária de sua existência, sabe que está na “era do Espírito”. O Espírito, derramado pelo Pai e pelo Filho, está no mundo conduzindo a história para o seu fim, querido por Deus.

Espírito do Ressuscitado
            Existe o risco de se pensar o Espírito separado do Pai e do Filho. Isto deve ser evitado. Sempre se deve falar a partir do Pai que enviou seu Filho Jesus que morreu e ressuscitou. O Pai e o Filho, para completar a obra da salvação, enviam o Espírito Santo. Portanto, o Espírito Santo é sempre o Espírito do Ressuscitado. O mesmo Espírito, doador de vida, que esteve com Jesus desde o início até o fim, e que o ressuscitou dentre os mortos (cf. Rm 8, 11), é o que está e atua também hoje entre nós e no mundo todo.
            O Espírito do Ressuscitado, derramado sobre a nova comunidade, faz com que as mais diversas procedências entendam em sua própria língua a mesma mensagem. A mensagem da igualdade, da fraternidade, do amor. Surge aí, pois, uma nova comunidade, representada pelos mais diversos povos que se reúnem e entendem (cf. At 2,8-12).
            A maravilha do Pentecostes produz o seu fruto na comunidade onde cada um coloca os seus dons ao serviço do Reino. É na comunidade que as coisas acontecem. Então, o Espírito está na comunidade e leva à comunidade. A comunidade se torna o grande sinal eficaz de uma realidade nova. Apesar das limitações de cada uma, na comunidade já está em realização o sonho de Jesus: o Reino de Deus, seu Pai, em andamento.

O Espírito e o pobre
            No Reino de Deus todos têm o seu lugar; todos são chamados a tomar parte. Os últimos serão os primeiros, conforme Jesus ensina. E, para os pobres é anunciada a boa nova: “um ano do agrado do Senhor” (Lc 4,19). Isto é obra do Espírito que está sobre Jesus.
            Quem é o pobre do qual Jesus fala e que é possuído pelo Espírito? Partindo de Jesus que diz “eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10), e de seu projeto de libertar os necessitados, podemos afirmar que o pobre é aquele que menos vida tem. Hoje em nossa realidade, pobre é todo aquele que não consegue viver bem: o doente, o idoso, a criança desamparada, o carente de bens, de justiça, de cidadania, de cultura, de dignidade, todos os excluídos da sociedade, os que vivem nas “periferias sociais” e até religiosas. Existem os que são discriminados por serem diferentes, por racismo, por intolerância; alguns são perseguidos e até torturados. Tudo isso sem falar dos inúmeros desempregados, dos sem-terra, dos sem-teto, dos sem-educação e dos sem-saúde, dos sem-liberdade. A cada dia estamos em contato com o pobre. Perguntamos: o que o Espírito tem a nos dizer sobre tudo isso? Onde está Ele? Em nós? No pobre? Onde podemos experimentá-lo como renovador da face da Terra?

Dinamismo espiritual
            O Espírito é força, é dinamismo. Jesus, na força do Espírito nunca parou e nem desistiu. Ele agiu até o fim. Assim também acontece com quem se deixa encontrar pelo Espírito hoje. Ele o transforma e o faz agir. Não fica alheio ao irmão pobre. Junta-se a ele, com ele, e forma comunidade.
            Todas as iniciativas, sejam elas conscientes ou não, quando promovem o bem das pessoas, da sociedade, do mundo, são manifestações da ação do Espírito. Em toda pequena oferta, na força da união, no pobre que se liberta está o Espírito de Deus com o seu dinamismo. Quanto mais movimentos de libertação começam, tanto mais o Espírito é experimentado. Ele está aí, basta ter os olhos da fé bem abertos para enxergá-lo, ter um pouco de boa vontade para senti-lo, um pouco de esperança para aguardá-lo.
            Toda a coragem que homens e mulheres testemunham quando enfrentam maledicências, perseguições, violências, prisões, torturas, exílios, assaltos e assassinatos, representam a força do Espírito Santo sustentando as comunidades na luta e na esperança.
            O Espírito não foi embora do nosso mundo, mas está aí, agindo, iluminando e conduzindo. É claro que os poderosos desse mundo não o conhecem, mas os que são pobres, humildes e misericordiosos o conhecem e colaboram com Ele. É na comunidade onde vivem e que defendem a vida que encontram o Espírito.
            Vinde Espírito Santo, e renovai a face da Terra.
Pe. Mário Fernando Glaab

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