OLHAR
O CRUCIFICADO, VER O RESSUSCITADO
Quaresma e Páscoa. Mais uma vez estão diante de nós estes
tempos litúrgicos fortes que a Igreja nos propõe. No tempo quaresmal tudo se
volta para a morte de Jesus na cruz, para o Crucificado; no tempo pascal tudo se
volta para a ressurreição de Jesus, para o Ressuscitado.
Quaresma:
tempo de penitência
Tradicionalmente a quaresma é vista como um tempo de
penitência que pretende levar a uma sincera conversão. Refletir sobre os
sofrimentos de Cristo, e, a partir deles, viver intensamente como cristão,
preparar a semana santa, para na sexta-feira da Paixão se reconciliar com Deus
e com os irmãos.
São muitas as propostas para se viver bem este tempo:
renúncias, orações, meditações da Palavra de Deus, via-sacras, obras de
caridade (Campanha da Fraternidade) etc. Tudo isto dentro do espírito
penitencial. Existem também superstições que acompanham tais exercícios, mas
não hão de nos perturbar.
As pregações quaresmais, quando sérias, pretendem levar
as pessoas a ver que também hoje continuam o sofrimento e morte de Cristo lá
onde tem gente sofrendo e morrendo. Sempre que algum ser humano é vítima de
violência, quando lhe faltam dignidade e respeito, quando não consegue viver na
liberdade, ter sua família, cuidar de seus filhos, ter apoio da sociedade, a
paixão de Jesus de Nazaré continua também hoje. O apelo da Igreja é para que
cada pessoa de boa vontade, principalmente neste tempo quaresmal, una seus
esforços aos demais para, ajudando, diminuir o peso da cruz que pesa sobre
eles.
Olhar para o Crucificado faz ver o sofrimento humano;
assim como olhar para o sofrimento humano faz ver o Crucificado. Isto acontece
para quem olha com olhar de fé. Faltando a fé, não se vê nada. Aliás, sem ela,
não faz sentido algum ter crucifixos espalhados pelas igrejas, pelas casas,
sobre os peitos e em qualquer lugar. São simples enfeites – se é que alguém
pode se enfeitar com o sinal de sofrimento e morte!
Páscoa:
tempo de alegria
Na Páscoa e no tempo pascal, tudo convida à alegria. É
vida nova: Jesus ressuscitou. Ele venceu o sofrimento, a morte; e, deu-nos a
possibilidade de recomeçar e esperar também a vitória sobre tudo o que nos faz
sofrer.
Se os sinais do sofrimento e da morte são bem visíveis,
por sua vez os sinais da alegria e da vida plena não o são tanto. Mesmo que tem
muita coisa boa ao nosso redor, ainda existe muita coisa má. Sabe-se muito bem
que o mal continua afligindo as pessoas, e que o pecado ainda produz muita
confusão, tem consequências terríveis sobre a vida das pessoas. Como fazer para
viver na alegria da Ressurreição hoje?
É bom lembrar que não são os discípulos que veem o
Ressuscitado, mas é o Ressuscitado que se faz ver aos discípulos. O ser humano
por si não consegue ver a Páscoa. Quem a mostra é Aquele que foi crucificado.
Jesus Ressuscitado se faz ver somente aos discípulos. Isto é, àqueles que o
contemplaram na cruz, no sofrimento do pobre, do injustiçado, do excluído, do
faminto e de todos os desvalidos do mundo. Somente estes, por crerem que Ele
amou até o fim e se colocam junto aos sofredores, o verão, na fé, também em sua
glória.
Portanto, para experimentar a alegria da Páscoa é
necessário passar pelo sofrimento da Quaresma; para ver o Ressuscitado é
preciso ver o Crucificado. Se o Crucificado é visto no sofrimento do mundo, o
Ressuscitado é visto na vitória sobre ele, mas tudo isto somente pode ser
percebido com os olhos da fé, com os olhos do coração. Com os olhos do coração
contemplar o Crucificado e os crucificados; com os mesmos olhos deixar que o
Ressuscitado e os ressuscitados se façam ver (aos discípulos).
Boa Quaresma e Feliz Páscoa.
Pe. Mário Fernando Glaab.
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