quinta-feira, 30 de abril de 2020

Por que ir à missa?


A MISSA DOMINICAL

            Nestes tempos de pandemia, quando, por questões de cuidado, as igrejas estão fechadas e muitos fiéis estão angustiados por não poderem participar das missas dominicais, vem-me à mente o caso da mulher que disse ao pároco: “Mas padre, o senhor não vai exigir que o meu filho que vai fazer a primeira Eucaristia venha à missa todos os domingos. O domingo é para nós o dia do descanso. E não vamos permitir que a Igreja perturbe esse nosso direito!”. Talvez poucos dizem isto, mas muitos pensam assim.

Dia do Senhor
            Infelizmente são muitos que pensam desta forma. As crianças estão todos os dias na escola, têm atividades esportivas e, no domingo querem descansar e sair com os pais ou amigos para passear, para se divertir. Eles têm esse direito, e não sobra mais tempo para a Igreja.
            Lembremos que o domingo, como dia livre dos trabalhos, é primeiramente um presente do cristianismo. Na tradição judaica, conforme a Lei, era o sábado que devia ser santificado. Para os cristãos, o primeiro dia da semana, por ser o dia da ressurreição do Senhor e o dia da vinda do Espírito Santo, tornou-se um dia de festa. Cada domingo é uma “pequena Páscoa”. Já com o imperador Constantino, em 313, este dia foi declarado como tal para todo o império romano. Em seguida se estendeu para as outras nações pelo mundo afora.
            Porém, para nós cristãos, não se trata apenas do dia em que não se trabalha ou do dia livre. Não trabalhar, dormir mais e descansar é muito pouco para caracterizar o domingo. Temos um jeito de descansar com o qual somos presenteados de paz; que nos renova interiormente, nos dá força interior e nos revigora. Aos domingos nos reunimos para celebrar a Morte e a Ressurreição de Cristo; encontramo-nos com Deus na Santa Missa. Em cada domingo, na missa e no encontro com os irmãos, acolhemos as graças de Deus que nos renovam. Acolhemos o amor de Deus e nos orientamos para os verdadeiros valores da vida; rezamos uns pelos outros, com Cristo Jesus em nosso meio. Celebramos a Vida em todas as suas dimensões, com grande alegria.

Preceito que liberta
            Participar da missa aos domingos continua sendo preceito; mas, se não deve visto como um peso, e assim, se tornará uma causa de alegria, uma libertação. Existem, sim, dificuldades, principalmente para crianças e adolescentes, em certas celebrações, onde não há envolvimento, onde não se entende o que está acontecendo. As vezes as equipes de liturgia não atuam bem, ou se fala demais sobre coisas que não são atualização da Palavra de Deus...
            Contudo, tudo isso não há de justificar a não-participação. Cada um, como fiel, pode e deve se sentir responsável para que tudo funcione bem. Existem oportunidades para se manifestar: são tantas as reuniões que as paróquias oferecem onde os paroquianos podem falar.
            Preceito pode ser algo bom, pois se fizermos somente o que gostamos seremos escravos de nossos próprios desejos. Isso não convém para o nosso caráter. O preceito da missa dominical realiza o cristão, e ele se sente bem quando pode participar da Eucaristia em sua comunidade. Que tal, se diante das desculpas dos filhos para não irem à missa os pais dissessem: “Até pode ser, mas você vai conosco, não primeiramente por obrigação, mas por causa do amor de Deus e da Igreja”? Talvez as coisas tomariam outro rumo.

Motivação
            Nós, os fiéis, temos o dever de participar da missa dominical, para que Jesus Cristo, cuja Morte e Ressurreição celebramos e que está vivo entre nós, possa tocar os corações humanos. A missa deve ser atrativa. Isso nem sempre acontece. Então precisamos lembrar que cada missa é resposta ao “Fazei isto em memória de mim!”. A missa dominical é nosso encontro sacramental com Jesus. Ao menos uma vez por semana necessitamos desse encontro mais íntimo. São muitas as maneiras de estar perto de Deus, mas a missa é única. Quem entende a missa dominical desta forma e se dispõe para este encontro com Deus, este encontra um verdadeiro descanso para si. O domingo lhe traz força, renovação e paz interior. Quem não vai à missa perde algo de grande importância para sua vida.
            Portanto, neste tempo de pandemia, que é todo diferente, em que as pessoas desejam ir à missa, mas por precauções com a saúde pública não podem, é oportuno fazer uma reflexão mais profunda sobre os verdadeiros valores que buscamos. O que de fato orienta a nossa vida de cristãos? É Cristo, a Igreja, a comunidade, o próximo? Os nossos domingos ainda se caracterizam como o “dia do Senhor”, ou...? Quando terminar o tempo da pandemia (se ainda estivermos entre os vivos!), como será o nosso domingo? O que podemos fazer hoje para não nos sentirmos longe da Igreja, das missas e do Cristo que bate à nossa porta nos necessitados? Aproveitemos este tempo. Certamente será uma oportunidade para conversão.
            Que Maria, a Mãe de Jesus, nos ajude a guardar estas coisas em nosso coração, meditando sobre elas.
Pe. Mário Fernando Glaab.

sábado, 4 de abril de 2020

A Economia como serva da Vida.


VIVER OU ECONOMIZAR

            Longe de pretender dar soluções para a questão tão discutida nestes tempos de pandemia sobre o que é mais necessário, proteger a vida das pessoas ou cuidar da economia, apenas quero fazer uma pequena reflexão a partir da fé cristã que se alimenta da Palavra de Deus. Jesus diz: “amai-vos” (Jo 15,12) e “quem quiser salvar a sua vida a perderá” (Mc 8,35), entre muitas outras afirmações que poderiam nos servir como material para pensar.

Viver e economizar para quê?
            Boa pergunta. Quando não se tem clara a resposta a esta pergunta as coisas podem tomar rumos diferentes, e até catastróficos. Se o viver consistir apenas na busca de satisfações, do ter, do poder, do prazer, enfim do consumir desenfreadamente, ele logicamente se preocupa com a economia. Como organizar as coisas para cada vez possuir mais? Caso a economia se justificar pela economia, a vida se torna sua escrava. Mas, por outro lado, se a economia estiver ao serviço da vida, tudo muda. Sua finalidade será viver.
            Popularmente se diz que alguns “comem para viver, outros vivem para comer”. Talvez seja simplório, mas ajuda a entender. Poderia se dizer também que alguns vivem para economizar (acumular bens), outros economizam para viver (trabalham com inteligência e esforço). Qual das duas atitudes vai ao encontro do ensinamento evangélico? Salvar a vida e amar o próximo, conforme o Divino Mestre ensina, vai em que direção? Sabemos que Jesus deu a sua vida para que nós tivéssemos vida. Ele a perdeu, segundo a “economia”, mas a recuperou para nós e para ele, segundo uma outra visão de vida.
            No mandamento do amor Jesus nos ensina que precisamos ir além daquilo que se pode merecer, pois quando ele diz “como eu vos amei”, deixa claro que o nosso amor deve ser gratuito, uma vez que nós não fizemos nada para merecer o que ele fez por nós. Ele não nos perguntou se queríamos sua entrega na cruz, simplesmente se entregou. Amar, então, é para nós o desafio de sairmos de nós mesmos para nos perder no outro. Deixar de ser, para que o outro seja. São João Paulo II, dirigindo-se às famílias, disse: “Amar significa dar e receber aquilo que não se pode comprar nem vender, mas apenas livre e reciprocamente oferecer” (Gratissimam sane, 11), salientando assim a maravilha da gratuidade que o verdadeiro amor contém.

Amar para viver
            A economia, os bens em geral, devem estar ao serviço da vida de todos. E quem ama sabe disso; quem não ama não consegue entende-lo, uma vez que adora os bens, fazendo-se deles servo.
            Todos temos necessidades e contamos com a caridade do próximo para atendê-las. Da mesma forma, sabemos que os outros têm necessidades e que contam conosco para satisfazê-las. No entanto, geralmente raciocinamos assim: eu ajudo conforme as minhas possibilidades e, aí cada um faz os seus cálculos, posso ajudar com tanto, ou não posso, porque tenho estas e aquelas despesas... Partimos de nosso mundo para o mundo do necessitado. Mas, será que é isto que Jesus ensina ao dizer “como eu...”?
            Chama-me a atenção uma passagem do Deuteronômio onde se lê: “Se houver no meio de ti um pobre (...), não endureças teu coração, nem feches tua mão a teu irmão pobre. Ao contrário, abre-lhe generosamente a tua mão e empresta-lhe o que lhe falta em sua necessidade” (Dt 15,7-8). Aí se vê que o pobre é o ponto de partida; é a sua necessidade que importa, não a nossa quantidade de bens ou os nossos projetos. É a vida do pobre que está em jogo, não a nossa economia. Essa foi a motivação de Jesus: ele olhou a nossa necessidade e por ela se doou.
            Portanto, acho não ser justo separar vida e economia, no sentido de se optar ou por uma ou por outra. A vida sempre está em primeiro lugar, e, a economia deve estar ao seu serviço. Todos necessitamos lutar para ter o suficiente para defender a vida de todos, a começar pelos mais pobres e fragilizados. É isto que a Palavra de Deus ensina, que Jesus viveu, e que nós, seus discípulos precisamos aprender e colocar em prática. Que a vida de todos esteja sempre em primeiro lugar e, que ninguém se arvore em achar que pode “sacrificar” a vida dos mais fracos para salvar uma economia!
Pe. Mário Fernando Glaab.