sábado, 4 de abril de 2020

A Economia como serva da Vida.


VIVER OU ECONOMIZAR

            Longe de pretender dar soluções para a questão tão discutida nestes tempos de pandemia sobre o que é mais necessário, proteger a vida das pessoas ou cuidar da economia, apenas quero fazer uma pequena reflexão a partir da fé cristã que se alimenta da Palavra de Deus. Jesus diz: “amai-vos” (Jo 15,12) e “quem quiser salvar a sua vida a perderá” (Mc 8,35), entre muitas outras afirmações que poderiam nos servir como material para pensar.

Viver e economizar para quê?
            Boa pergunta. Quando não se tem clara a resposta a esta pergunta as coisas podem tomar rumos diferentes, e até catastróficos. Se o viver consistir apenas na busca de satisfações, do ter, do poder, do prazer, enfim do consumir desenfreadamente, ele logicamente se preocupa com a economia. Como organizar as coisas para cada vez possuir mais? Caso a economia se justificar pela economia, a vida se torna sua escrava. Mas, por outro lado, se a economia estiver ao serviço da vida, tudo muda. Sua finalidade será viver.
            Popularmente se diz que alguns “comem para viver, outros vivem para comer”. Talvez seja simplório, mas ajuda a entender. Poderia se dizer também que alguns vivem para economizar (acumular bens), outros economizam para viver (trabalham com inteligência e esforço). Qual das duas atitudes vai ao encontro do ensinamento evangélico? Salvar a vida e amar o próximo, conforme o Divino Mestre ensina, vai em que direção? Sabemos que Jesus deu a sua vida para que nós tivéssemos vida. Ele a perdeu, segundo a “economia”, mas a recuperou para nós e para ele, segundo uma outra visão de vida.
            No mandamento do amor Jesus nos ensina que precisamos ir além daquilo que se pode merecer, pois quando ele diz “como eu vos amei”, deixa claro que o nosso amor deve ser gratuito, uma vez que nós não fizemos nada para merecer o que ele fez por nós. Ele não nos perguntou se queríamos sua entrega na cruz, simplesmente se entregou. Amar, então, é para nós o desafio de sairmos de nós mesmos para nos perder no outro. Deixar de ser, para que o outro seja. São João Paulo II, dirigindo-se às famílias, disse: “Amar significa dar e receber aquilo que não se pode comprar nem vender, mas apenas livre e reciprocamente oferecer” (Gratissimam sane, 11), salientando assim a maravilha da gratuidade que o verdadeiro amor contém.

Amar para viver
            A economia, os bens em geral, devem estar ao serviço da vida de todos. E quem ama sabe disso; quem não ama não consegue entende-lo, uma vez que adora os bens, fazendo-se deles servo.
            Todos temos necessidades e contamos com a caridade do próximo para atendê-las. Da mesma forma, sabemos que os outros têm necessidades e que contam conosco para satisfazê-las. No entanto, geralmente raciocinamos assim: eu ajudo conforme as minhas possibilidades e, aí cada um faz os seus cálculos, posso ajudar com tanto, ou não posso, porque tenho estas e aquelas despesas... Partimos de nosso mundo para o mundo do necessitado. Mas, será que é isto que Jesus ensina ao dizer “como eu...”?
            Chama-me a atenção uma passagem do Deuteronômio onde se lê: “Se houver no meio de ti um pobre (...), não endureças teu coração, nem feches tua mão a teu irmão pobre. Ao contrário, abre-lhe generosamente a tua mão e empresta-lhe o que lhe falta em sua necessidade” (Dt 15,7-8). Aí se vê que o pobre é o ponto de partida; é a sua necessidade que importa, não a nossa quantidade de bens ou os nossos projetos. É a vida do pobre que está em jogo, não a nossa economia. Essa foi a motivação de Jesus: ele olhou a nossa necessidade e por ela se doou.
            Portanto, acho não ser justo separar vida e economia, no sentido de se optar ou por uma ou por outra. A vida sempre está em primeiro lugar, e, a economia deve estar ao seu serviço. Todos necessitamos lutar para ter o suficiente para defender a vida de todos, a começar pelos mais pobres e fragilizados. É isto que a Palavra de Deus ensina, que Jesus viveu, e que nós, seus discípulos precisamos aprender e colocar em prática. Que a vida de todos esteja sempre em primeiro lugar e, que ninguém se arvore em achar que pode “sacrificar” a vida dos mais fracos para salvar uma economia!
Pe. Mário Fernando Glaab.

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