FALAR
COM AUTORIDADE
Conforme os evangelhos, as pessoas ficavam admiradas com
os ensinamentos do Divino Mestre, pois eles diziam: “ensinava como quem tem
autoridade e não como os doutores da Lei” (Mc 1,22). Mas, será que Jesus tinha
mais preparo que os tais doutores? Donde lhe vinha essa autoridade para
maravilhar o povo? Muito mais que examinar, por curiosidade, o que de fato
aconteceu naquele contexto, fazemo-nos estas perguntas para que as respostas
sejam úteis a nós e aos pregadores de hoje. Como deve ser a pregação para que
tenha autoridade e atraia também hoje as pessoas, chame a atenção principalmente
dos pobres, dos excluídos, e dos necessitados de todo tipo, que são os que hoje
aguardam a Boa Notícia de Deus, rico em misericórdia?
Indiferença?
Diante de tantas palavras ditas ao vento por uma multidão
de pregadores; pregadores dos mais variados tipos, tem-se a impressão que a
maioria das pessoas fica indiferente. As mensagens são tantas que não chamam
mais a atenção. Tantas vozes e tantos apelos que se misturam e confundem, e
isto dos mais diversos modos. Diretamente, corpo a corpo, nos púlpitos, nas
praças, na mídia, nos meios de comunicação, de dia, de noite, aos domingos e
durante a semana. Conforme, chegam até a perturbar o sossego. Os métodos usados
também são os mais variados possíveis, alguns bem sofisticados, outros nem
tanto.
Seria este o motivo da indiferença? Mas, será que de fato
reina indiferença na maioria do povo quando o assunto é pregação religiosa ou
evangélica? Como se explica que alguns pregadores, mesmo não tendo preparo
sofisticado, atraem multidões, apesar de frequentemente ser por pouco tempo?
Questões a serem pensadas.
Não dá para esquecer que existe muito anúncio tendencioso
e até falso. Isto sempre houve, mas hoje parece ser mais perceptível, são as
famosas fake News, que enganam
facilmente os mais incautos. No entanto, entre os ouvintes há atitudes bem
variadas. Uns peneiram com cuidado para dar atenção ao que de fato lhes pode
trazer algum bem, outros vão atrás do que querem ouvir; aquilo que os justifica
no seu jeito de viver. Estes últimos procuram a sua própria verdade, não
interessa se é ou não verdade. E há os que se fazem surdos a tudo.
Autoridade
do Mestre
Jesus era verdadeiramente mestre. E, ele era diferente dos
mestres da Lei. Mas o que o diferenciava deles? Eles tomavam como argumento a
Lei e sabiam argumentar citando os pais (patriarcas, profetas, legisladores).
Jesus, na verdade, não fazia assim. Ele repetidas vezes diz: “Eu, porém, vos
digo...” Donde lhe vinha esta autoridade?
Jesus falava daquilo que tinha em seu coração, aquilo que
era a sua vida. Falando de Deus, seu Pai, ou do Reino de Deus, ele não se
apoiava no que outros disseram, mas o que ele próprio experimentava e vivia.
Era a sua experiência de Filho e de possuidor do Reino de Deus. Identificava-se
com o que dizia. Vivenciava o que pregava. Observando a pregação e os gestos de
Jesus, pode-se dizer que ele fala com autoridade não por citar as palavras das
autoridades ou concordar com elas, mas sim pelo fato de a sua palavra ter raiz
no coração, onde se encontra com seu Pai.
Claro que Jesus não agradou a todos. Alguns se opunham à
sua pregação procurando desmoralizá-lo. Porém, talvez seja justamente aí que está
a questão da autoridade. As palavras de Jesus e seu modo de ser perturbavam. Os
mais humildes, pobres e puros viam nele a ação de Deus; os orgulhosos, os ricos
e os contaminados pela maldade viam nele alguém que os desmascarava. A
autoridade de Jesus incomodava.
Também hoje, certos pregadores não chamam a atenção por
não terem nem autoridade e nem jeito: falam para as paredes; outros pregam com
artimanhas e vão ao encontro do que as pessoas querem ouvir, enganam seus
ouvintes, e estes lhes dão ouvidos motivados por interesses particulares. Neste
caso, dá para questionar as intenções, tanto dos pregadores quanto dos
ouvintes. Porém, existem também hoje pregadores que, como o Divino Mestre,
falam do que têm no coração. Sua autoridade é sua experiência e sua vivência
dos valores do Reino de Deus. Igualmente estão aí os ouvintes – agora fiéis –
que sintonizam, não primeiramente, com o pregador, mas com o Mestre. Esta é a
verdadeira autoridade no falar e no ouvir.
Portanto, diante de muitas ofertas e tanta indiferença,
fica o desafio para quem se sente chamado à pregação, assim como para todo
aquele que quer ouvir o que Deus tem a dizer, para que purifiquem seus corações
de intenções espúrias, de interesses egoístas, do desejo de tirar vantagens da
Palavra e da vontade de Deus. Ouvir vivendo, vivendo pregando; tudo a partir do
coração e para o coração, onde mora Deus.
Pe. Mário Frenando
Glaab.