CURADOS
PARA CURAR
A Congregação para a Doutrina da Fé na conclusão da Carta
Samaritanus Bonus, publicada em julho
passado, falando sobre o cuidado das pessoas nas fases críticas e terminais da
vida, diz: “Curados por Jesus, tornamo-nos homens e mulheres chamados a
anunciar o seu poder que cura, a amar e a cuidar do próximo como Ele nos
testemunhou”. É um forte apelo para que os cristãos, como Jesus, estejam
próximos com seu amor e seu cuidado, a todos os sofredores. Porém, parte da
própria cura: “curados”. Assim, antes de curar alguém é necessário fazer a
experiência de ser curado.
Curados
Somente quem se sente curado pode curar. Todos nós
sofremos com doenças físicas, psíquicas e espirituais. Isto é próprio da
limitação humana, pois somos todos criaturas, e como tal, imperfeitos. E além
de tudo, erramos tantas vezes, causando sofrimentos a nós e a outros.
Então, antes de mais nada, cada um deve se humilhar e
acolher a cura que lhe é oferecida. Claro que existem inúmeras formas de curas.
As doenças mais leves podem ser curadas com meios ordinários; outras com a
ajuda de profissionais da saúde; ainda outras, através de orientações espirituais
e intercessões, e assim por diante. No entanto, o conjunto de todo sofrimento que
se abate sobre o ser humano somente pode ser curado por alguém que está acima
dele. Somente por alguém que tem “palavras de vida eterna”, uma vez que a
morte, humanamente falando, dá a última palavra para esta vida terrestre.
A fé em Jesus Cristo que, como Deus e como homem, está
entre nós a nos conduzir para a vida plena onde “não haverá mais choro, nem
grito, nem dor” cura todo sem-sentido, e dá um sentido que vai para o além.
Portanto, antes de pretender curar alguém, dando-lhe um sentido que transcende
a todas as dores humanas, é preciso que se faça a experiência de ser curado.
Uma vez curados por Ele, é possível ajudar na cura de tantos “doentes” que
estão pelos caminhos do mundo. O verdadeiro cristão – curado por Cristo –
torna-se anunciador do poder curador de Jesus Cristo. Bem mais que dizê-lo, ele
o anuncia, para que todos também o possam acolher.
A
cruz do sofrimento
A dor e o sofrimento são simbolizados pela cruz. Tomar a
cruz significa assumir o desafio do sofrimento. Mas também as cruzes de
madeira, de metal ou que qualquer outro material que usamos sobre nós, que
estão em nossas mesas e em nossas paredes, são sinais muito fortes da confiança
em Jesus; este que carregou sua cruz até o Calvário, morreu nela, e
ressuscitou. Assim, a cruz dá um sentido transcendente às nossas cruzes. Mostra
que, apesar de sofrermos e sabermos que iremos passar pela morte, com Ele
seremos vencedores. Até mesmo a morte não terá a última palavra. A cruz nos
leva para além da morte.
Neste mês de novembro, quando iremos visitar os cemitérios,
certamente veremos muitas cruzes sobre as sepulturas. Elas podem até nos dar a
impressão da derrota, da morte. Mas não. Na verdade, quando os familiares
colocam uma cruz sobre as sepulturas onde jazem seus entes queridos que já
partiram, estão expressando sua fé e sua esperança naquele que passou pela
morte e voltou à vida. Podemos dizer que colocar uma cruz sobre as sepulturas é
“curar” aquele que aí está sepultado. É entregá-lo com confiança, sob a sombra
da cruz, nas mãos de quem ressuscitou; e que nos fez experimentar um novo céu e
uma nova terra que se aproximam.
Carregar
a cruz
Ter coragem de abraçar e carregar a cruz é bem mais do que
fazer alguma renúncia ou penitência. É colocar-se junto à dor do próximo; é
curá-lo com a cruz que nós assumimos. Não a nossa cruz, mas a cruz de Jesus;
amar e cuidar do próximo como ele o fez. Não é fácil levar a cruz para onde o
sofrimento pesa mais. Bem mais fácil seria - se possível fosse - eliminar com
um toque de mágica tudo o que faz sofrer. Mas, levar a cruz é ajudar o sofredor
a olhar para frente com esperança, é fazê-lo sentir que é amado por Deus, mesmo
que a dor parece negá-lo.
Da mesma forma, vir ao encontro dos falecidos com a cruz,
não somente como um objeto, mas como vida na esperança, é gesto de coragem
curador. É preciso, portanto, ter muita coragem para colocar uma cruz no
sofrimento do irmão, assim como colocar a cruz sobre uma sepultura. Somente os
“curados” por Jesus o fazem com sentido. Tudo mais não passa de ritualismo
vazio. Sintamo-nos curados e curemos com a cruz de Jesus.
Pe. Mário Fernando Glaab.