sábado, 17 de outubro de 2020

Finados - Cura pela Cruz.

 

CURADOS PARA CURAR

 

            A Congregação para a Doutrina da Fé na conclusão da Carta Samaritanus Bonus, publicada em julho passado, falando sobre o cuidado das pessoas nas fases críticas e terminais da vida, diz: “Curados por Jesus, tornamo-nos homens e mulheres chamados a anunciar o seu poder que cura, a amar e a cuidar do próximo como Ele nos testemunhou”. É um forte apelo para que os cristãos, como Jesus, estejam próximos com seu amor e seu cuidado, a todos os sofredores. Porém, parte da própria cura: “curados”. Assim, antes de curar alguém é necessário fazer a experiência de ser curado.

Curados

            Somente quem se sente curado pode curar. Todos nós sofremos com doenças físicas, psíquicas e espirituais. Isto é próprio da limitação humana, pois somos todos criaturas, e como tal, imperfeitos. E além de tudo, erramos tantas vezes, causando sofrimentos a nós e a outros.

            Então, antes de mais nada, cada um deve se humilhar e acolher a cura que lhe é oferecida. Claro que existem inúmeras formas de curas. As doenças mais leves podem ser curadas com meios ordinários; outras com a ajuda de profissionais da saúde; ainda outras, através de orientações espirituais e intercessões, e assim por diante. No entanto, o conjunto de todo sofrimento que se abate sobre o ser humano somente pode ser curado por alguém que está acima dele. Somente por alguém que tem “palavras de vida eterna”, uma vez que a morte, humanamente falando, dá a última palavra para esta vida terrestre.

            A fé em Jesus Cristo que, como Deus e como homem, está entre nós a nos conduzir para a vida plena onde “não haverá mais choro, nem grito, nem dor” cura todo sem-sentido, e dá um sentido que vai para o além. Portanto, antes de pretender curar alguém, dando-lhe um sentido que transcende a todas as dores humanas, é preciso que se faça a experiência de ser curado. Uma vez curados por Ele, é possível ajudar na cura de tantos “doentes” que estão pelos caminhos do mundo. O verdadeiro cristão – curado por Cristo – torna-se anunciador do poder curador de Jesus Cristo. Bem mais que dizê-lo, ele o anuncia, para que todos também o possam acolher.

 

A cruz do sofrimento

            A dor e o sofrimento são simbolizados pela cruz. Tomar a cruz significa assumir o desafio do sofrimento. Mas também as cruzes de madeira, de metal ou que qualquer outro material que usamos sobre nós, que estão em nossas mesas e em nossas paredes, são sinais muito fortes da confiança em Jesus; este que carregou sua cruz até o Calvário, morreu nela, e ressuscitou. Assim, a cruz dá um sentido transcendente às nossas cruzes. Mostra que, apesar de sofrermos e sabermos que iremos passar pela morte, com Ele seremos vencedores. Até mesmo a morte não terá a última palavra. A cruz nos leva para além da morte.

            Neste mês de novembro, quando iremos visitar os cemitérios, certamente veremos muitas cruzes sobre as sepulturas. Elas podem até nos dar a impressão da derrota, da morte. Mas não. Na verdade, quando os familiares colocam uma cruz sobre as sepulturas onde jazem seus entes queridos que já partiram, estão expressando sua fé e sua esperança naquele que passou pela morte e voltou à vida. Podemos dizer que colocar uma cruz sobre as sepulturas é “curar” aquele que aí está sepultado. É entregá-lo com confiança, sob a sombra da cruz, nas mãos de quem ressuscitou; e que nos fez experimentar um novo céu e uma nova terra que se aproximam.

 

Carregar a cruz

            Ter coragem de abraçar e carregar a cruz é bem mais do que fazer alguma renúncia ou penitência. É colocar-se junto à dor do próximo; é curá-lo com a cruz que nós assumimos. Não a nossa cruz, mas a cruz de Jesus; amar e cuidar do próximo como ele o fez. Não é fácil levar a cruz para onde o sofrimento pesa mais. Bem mais fácil seria - se possível fosse - eliminar com um toque de mágica tudo o que faz sofrer. Mas, levar a cruz é ajudar o sofredor a olhar para frente com esperança, é fazê-lo sentir que é amado por Deus, mesmo que a dor parece negá-lo.

            Da mesma forma, vir ao encontro dos falecidos com a cruz, não somente como um objeto, mas como vida na esperança, é gesto de coragem curador. É preciso, portanto, ter muita coragem para colocar uma cruz no sofrimento do irmão, assim como colocar a cruz sobre uma sepultura. Somente os “curados” por Jesus o fazem com sentido. Tudo mais não passa de ritualismo vazio. Sintamo-nos curados e curemos com a cruz de Jesus.

Pe. Mário Fernando Glaab.

 

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