O bem e o mal sob o olhar de Jesus
No tempo de Jesus, como aliás em todos os tempos, o mal
estava presente na vida das pessoas, e não era preciso fazer esforço para
percebê-lo e senti-lo na própria pele. Como Jesus viu e se comportou diante do
mal? Ele, que só fez o bem, conseguiu eliminar toda maldade dentre os seus
seguidores?
Diante
do mal
Não iremos aqui nos preocupar com conceitos filosóficos
de mal, mas queremos refletir sobre o mal concreto, experimentado por nós, e
que faz sofrer a qualquer um.
Jesus,
com atitudes decididas, com ensinamentos e principalmente com sua entrega total
na cruz, lutou contra toda e qualquer forma de mal. Ele não ignora o mal e o
sofrimento que atingem as pessoas. Muito pelo contrário, vai ao encontro dos
que são suas maiores vítimas. Ele mesmo sofre. Sente a maldade em sua própria
carne, ao ponto de morrer gritando. Mas não é somente a dor física que ele
experimenta, também a dor da rejeição e do desprezo, do abandono. Ele,
portanto, conhece muito bem a situação miserável em que a humanidade se
encontra.
Jesus
não foge desta dura realidade. Não se fecha no seu relacionamento com o Pai, ou
se recolhe em um lugar solitário. Quanto mais intimidade experimenta de seu relacionamento
com o Pai na oração, tanto mais se conscientiza que sua missão é estar onde
está o homem sofredor. Ele, no entanto, não dá explicações filosóficas ou
teológicas sobre a presença da precariedade e da miséria no mundo. Sua atitude
é outra. Seu jeito de ser e de agir revelam algo novo, que a mentalidade
mundana não sabe nem quer saber.
Fazendo
o bem
Na verdade, Jesus não enumera situações ideais, sonhos
irreais, onde não há maldades. Ele revela que é possível lutar contra as
diversas formas de maldades porque existe um Deus que é Pai e que está próximo
do ser humano atingido pela miséria. Jesus ensina e mostra com atitudes
concretas este cuidado de Deus. Põe as mãos à obra. Ele mesmo faz tudo para que
as pessoas sejam libertadas de toda forma de mal; mas também convida a todos
que têm boa vontade, para que se juntem ao mesmo trabalho em favor dos
necessitados. Confiança no Pai que é bondoso, e luta contra a precariedade, o
sofrimento, a dor, o pecado (corrupção) e a morte.
Os milagres que Jesus fez não resolveram o problema do
mal, pois as pessoas continuavam a sofrer suas consequências. Eram, no entanto,
sinais da presença do Reino que se instaura com ele e continua seu crescimento
em toda pessoa de boa vontade. Mesmo não rompendo o movimento de degradação da
maldade no mundo, os milagres colocam o mal em evidência, mais do que o
eliminam. Desta forma, Jesus mostrou quanto é necessário lutar contra o mal
colocando-se ao lado do caído sob o peso dele. Não adianta querer justificar
porque isto ou aquilo aconteceu ao sofredor; o que interessa é ajudar; é
compadecer-se, assim como o fez o samaritano junto ao viajante despojado. Os
gestos, palavras e milagres mostram justamente isso: Jesus estende as mãos a
todos os caídos à beira do caminho.
Com isso, ele convida todos para que se unam no mesmo
projeto de cuidar, assim como o Pai cuida. Jesus é o Revelador deste cuidado do
Pai, porém ele compartilha a missão com os que o aceitam. Todos os que se
sentem vítimas do mal que está no mundo são convidados a confiar no amor do Pai
que cuida de todos, e, a partir desta experiência, ir lá onde estão os irmãos
que também são vítimas. Como vítima o seguidor de Jesus, na confiança, olha
para o outro que também é vítima; estende-lhe a mão para caminhar em direção de
um mundo melhor. Jesus, na verdade, declara feliz, quando fala a todas as
vítimas do mal, aquele que não usa sua situação de sofredor, abandonado ou
despossuído para duvidar que alguém se preocupe com ele, mas que tem a coragem
de se dirigir a Deus como uma vítima, e lhe coloca sua situação e a de seus
semelhantes diante de sua face paterna.
Em toda esta luta contra o mal, a fé cristã nos diz que
nem o mal, nem a adversidade têm a última palavra se Jesus ressuscitou, depois
de ter enfrentado todo tipo de maldades até o fim.
Pe. Mário Fernando Glaab.