quarta-feira, 13 de outubro de 2021

ESPÍRITO DA UNIDADE NA DIVERSIDADE.

 

UNIDADE NA DIVERSIDADE

 

                        “E todos nós os escutamos, anunciando as maravilhas de Deus em nossa própria língua” (At 2,11). É assim que se descreve a maravilha de Pentecostes após o Espírito ter repousado sobre os que estavam reunidos em Jerusalém. O espanto e a perplexidade dos que ouviam esta maravilha foi enorme. Que significa isso? Perguntavam-se. Porém outros não viam nada de extraordinário, faziam pouco caso e até zombavam.

Unidade e divisão

                        Diante do acontecido em Pentecostes é fácil perceber que existe diferença entre unidade e divisão. O fruto do Espírito foi a unidade para os que o receberam, seja na descida, seja no testemunho dos apóstolos. O contrário – a divisão – foi o que aconteceu com os que zombavam. Uns se admiravam e, mesmo espantados, viam um sinal do alto; e sentiam-se cheios do Espírito de Deus. Outros, mais do que não ver, se opunham. Criticavam maldosamente e classificavam todos de bêbados.

                        Assim aconteceu, e assim continua a acontecer. Por um lado, existem as pessoas que se abrem aos apelos do espírito, e por outro os que se opõem, tentando destruir o que o Espírito constrói. Como se pode constatar, também hoje temos construtores de união, assim como destruidores dela. Os que acolhem o Espírito, nem sempre conseguem superar todos os obstáculos que se interpõem. Porém, os adversários, além de não ajudar, sempre destroem, e fazem tudo para que as coisas vão de mal a pior. Sentem-se perturbados quando encontram pessoas unidas. Contudo, não é sobre isso que queremos refletir. A questão é outra.

Diversidade – Ouviam em sua própria língua

                        Às vezes, quando se coloca o Pentecostes em paralelo ao acontecido em Babel (cf. Gn 11,1-9), cai-se na tentação de pensar que o Espírito fez com que todos falassem a mesma língua (até pode-se dizer que falavam todos a mesma língua do amor!), mas na verdade, não é isto que diz o texto sagrado. Lá se fala que todos entendiam em sua própria língua. Caso a língua do Espírito seja a língua do amor; o que se diz, é que este é entendido por cada grupo na sua própria cultura, na sua maneira de ver as coisas. Sempre à luz do Espírito inspirador. É justamente aí que reside a diversidade das línguas, a diversidade do amor que une em um só Espírito. Bem diferente da confusão ou da divisão que tomou conta dos orgulhosos que quiseram construir a Torre de Babel. Estes se dispersaram por toda terra, pois não se entendiam mais: estavam confusos. Não se entendiam em sua própria língua.

                        Então, a maravilha que provocou pasmos e perplexidades nas numerosas nações que ouviam os discípulos de Jesus cheios do Espírito Santo, não cancelou de suas próprias línguas. Superou as limitações de cada nação. Criou unidade na diversidade. É bom saber que o Espírito não abole as línguas, não instaura uma língua única, permite a cada um entender na sua própria língua a boa notícia do Evangelho. Esta verdade é assaz importante para a Igreja e para qualquer grupo cristão. Nunca se deve abolir a língua – os valores – dos povos, das tradições e dos costumes. O que é preciso, à luz do Espírito, é procurar entender, cada um em sua própria língua, o que o mesmo Espírito Santo produz em cada um e em cada grupo, sejam eles cristãos ou não. O Espírito age como o vento: ouve-se sua voz, mas não se sabe de onde vem, nem para onde vai (cf. Jo 3,8). Não queiramos, por causa da unidade, passar por cima da diversidade. O Espírito não se deixa prender em nossas maneiras de ver, em nossos grupos. Ele é o Espírito da Liberdade que quer nos conduzir para a Verdade plena.

Pe. Mário Fernando Glaab.