UNIDADE
NA DIVERSIDADE
“E todos nós os escutamos, anunciando as
maravilhas de Deus em nossa própria língua” (At 2,11). É assim que se descreve
a maravilha de Pentecostes após o Espírito ter repousado sobre os que estavam
reunidos em Jerusalém. O espanto e a perplexidade dos que ouviam esta maravilha
foi enorme. Que significa isso? Perguntavam-se. Porém outros não viam nada de
extraordinário, faziam pouco caso e até zombavam.
Unidade
e divisão
Diante
do acontecido em Pentecostes é fácil perceber que existe diferença entre
unidade e divisão. O fruto do Espírito foi a unidade para os que o receberam,
seja na descida, seja no testemunho dos apóstolos. O contrário – a divisão –
foi o que aconteceu com os que zombavam. Uns se admiravam e, mesmo espantados,
viam um sinal do alto; e sentiam-se cheios do Espírito de Deus. Outros, mais do
que não ver, se opunham. Criticavam maldosamente e classificavam todos de
bêbados.
Assim aconteceu, e assim continua a
acontecer. Por um lado, existem as pessoas que se abrem aos apelos do espírito,
e por outro os que se opõem, tentando destruir o que o Espírito constrói. Como
se pode constatar, também hoje temos construtores de união, assim como
destruidores dela. Os que acolhem o Espírito, nem sempre conseguem superar
todos os obstáculos que se interpõem. Porém, os adversários, além de não ajudar,
sempre destroem, e fazem tudo para que as coisas vão de mal a pior. Sentem-se
perturbados quando encontram pessoas unidas. Contudo, não é sobre isso que
queremos refletir. A questão é outra.
Diversidade
– Ouviam em sua própria língua
Às vezes, quando se coloca o Pentecostes em
paralelo ao acontecido em Babel (cf. Gn 11,1-9), cai-se na tentação de pensar
que o Espírito fez com que todos falassem a mesma língua (até pode-se dizer que
falavam todos a mesma língua do amor!), mas na verdade, não é isto que diz o
texto sagrado. Lá se fala que todos entendiam em sua própria língua. Caso a
língua do Espírito seja a língua do amor; o que se diz, é que este é entendido
por cada grupo na sua própria cultura, na sua maneira de ver as coisas. Sempre
à luz do Espírito inspirador. É justamente aí que reside a diversidade das
línguas, a diversidade do amor que une em um só Espírito. Bem diferente da
confusão ou da divisão que tomou conta dos orgulhosos que quiseram construir a
Torre de Babel. Estes se dispersaram por toda terra, pois não se entendiam
mais: estavam confusos. Não se entendiam em sua própria língua.
Então, a maravilha que provocou pasmos e
perplexidades nas numerosas nações que ouviam os discípulos de Jesus cheios do
Espírito Santo, não cancelou de suas próprias línguas. Superou as limitações de
cada nação. Criou unidade na diversidade. É bom saber que o Espírito não abole
as línguas, não instaura uma língua única, permite a cada um entender na sua
própria língua a boa notícia do Evangelho. Esta verdade é assaz importante para
a Igreja e para qualquer grupo cristão. Nunca se deve abolir a língua – os
valores – dos povos, das tradições e dos costumes. O que é preciso, à luz do
Espírito, é procurar entender, cada um em sua própria língua, o que o mesmo
Espírito Santo produz em cada um e em cada grupo, sejam eles cristãos ou não. O
Espírito age como o vento: ouve-se sua voz, mas não se sabe de onde vem, nem
para onde vai (cf. Jo 3,8). Não queiramos, por causa da unidade, passar por
cima da diversidade. O Espírito não se deixa prender em nossas maneiras de ver,
em nossos grupos. Ele é o Espírito da Liberdade que quer nos conduzir para a
Verdade plena.
Pe. Mário Fernando Glaab.
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