quinta-feira, 5 de março de 2015

Páscoa: experiência de misericórdia divina

VIVER A PÁSCOA

            Se viver a quaresma é abrir-se à misericórdia divina, viver a páscoa é experimentar a misericórdia divina. A propósito, a Campanha da Fraternidade nos lembra que é no serviço que a vocação cristã se realiza. Jesus, o Filho do Homem, veio para servir e não para ser servido; esse serviço lhe custou a morte na cruz, mas o levou à ressurreição. Enquanto estava a serviço dos irmãos, podemos dizer que estava continuamente se abrindo à misericórdia do Pai: deixou que o Pai amasse misericordiosamente a nós por ele. Ao ressuscitar ele compartilha com os seus a misericórdia de Deus e lhes oferece a paz. Paz que é a sua, pois agora já é o Vencedor. A misericórdia do Pai o envolveu infinita e plenamente.
            O papa Francisco, na Exortação Apostólica A Alegria do Evangelho, diz: “A nossa tristeza infinita só se cura com um amor infinito” (265). Talvez seja difícil entender uma “tristeza infinita”, mas ela é própria do ser humano pecador. Todos nós, como criaturas, somos limitados, e em conseqüência das limitações, sujeitos a errar. Pecamos. Fechamo-nos ao amor de Deus, nosso Criador. Em nossa finitude somos vencidos pela tristeza. Quem poderá nos libertar? Quem poderá nos salvar? Somente um amor infinito. Além de tudo que se pode pensar, almejar ou realizar. E este amor infinito nos é apresentado pela vida, paixão e morte de Jesus Cristo. E, na quaresma somos convidados a percorrer este caminho com ele, abrindo-nos à misericórdia de Deus. No entanto, somente pela fé na Ressurreição daquele que foi crucificado, Jesus de Nazaré, é que podemos fazer a experiência desse amor infinito que é derramado sobre nós.

A pedagogia de Jesus vale para a Igreja
            Jesus, várias vezes durante sua vida mortal, convidou os discípulos a se abrirem ao amor de Deus sem reservas. Mas a dificuldade para crer com todo coração os deixou muito aquém dessa experiência. Ele, lavando os pés de seus amigos, deu-lhes o exemplo, mas eles ainda não podiam entender. Foi, porém, quando o Ressuscitado aparece no meio deles – confusos e medrosos -, ao invés de lhes censurar a covardia por terem-no abandonado na hora da perseguição, os saúda com o “A paz esteja convosco” (Jo 20,19), que os faz “experimentar” o amor infinito, que somente pode ser o amor de Deus. De agora em diante, também o ser humano pode participar responsavelmente do amor que cura a tristeza infinita do mundo pecador. É Páscoa de Jesus; é Páscoa dos cristãos.
            Como a Igreja a partir da Campanha da Fraternidade, vai experimentar o amor infinito de Deus? Somente quando se deixar renovar, quando assumir corajosamente que, como seu Mestre, ela precisa servir, pois não está neste mundo para ser servida. É justamente isso que o Papa Francisco nos diz quando insiste na “Igreja em saída”. Necessita-se urgentemente de conversão da mentalidade do “tirar proveito” de tudo. Também nos membros da Igreja existe esta tentação: acham que a sociedade deve servir à Igreja, quando é justamente o contrário. Infelizmente ainda há pessoas que sonham em se aproveitar de privilégios que adquirem ao “subir os degraus do altar”.
            Se no mundo, cada vez mais atacado pelo mal, pela corrupção, pela violência, pela pobreza, existem milhares de caídos, a Igreja deve se sentir cada vez mais desafiada para amar e servir a este mundo concreto. O seu serviço não pode ser em vista do proselitismo, mas gratuito. Aliás, como nos lembrava o Papa Bento XVI, “a Igreja não faz proselitismo. Ela cresce muito mais por ‘atração’: como Cristo ‘atrai todos a si’ com a força do seu amor (...), ela cumpre a sua obra conformando-se em espírito e concretamente com a caridade do seu Senhor” (Homilia de abertura da Conferência de Aparecida).

“Experimentar” também hoje
            Sendo assim, quem sabe a Igreja, a partir da experiência pascal, ajudada pelos apelos da Campanha da Fraternidade em servir à sociedade como seu Senhor serviu os discípulos, descubra novamente a ver as multidões que se debatem com as injustiças e com as desgraças do mundo globalizado “como ovelhas sem pastor”: pessoas sem guias para descobrir o caminho, sem profetas para ouvir a voz de Deus. Quem sabe, a Igreja tenha coragem para revisar diante do Senhor Ressuscitado a maneira de olhar para essas multidões que estão abandonando silenciosamente a Igreja, talvez porque não podem ouvir nela a verdadeira Boa Nova ou porque os discursos cheios de filosofia, de economia e outros tantos, já não lhe dizem mais nada. Quem sabe, a Igreja deixe de decepcionar pessoas simples que já não veem mais nela a compaixão de Jesus. Crentes que não sabem a quem recorrer nem que caminhos seguir para encontrar-se com um Deus mais humano do que aquele que percebem nos hierarcas. Quem sabe, na experiência pascal o rosto desta Igreja mudará, conforme o desejo de Cristo e do Papa Francisco. Ela aprenda a agir com mais compaixão; esquecer-se de seus próprios discursos e pôr-se a ouvir o sofrimento das pessoas. A Páscoa de Jesus – sua Paz - tem força para transformar nossos corações e renovar nossas comunidades. Voltemos à experiência pascal.
Pe. Mário F. Glaab

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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Reflexão quaresmal


QUARESMA: TEMPO DE RENOVAÇÃO

 

            O Papa Francisco, preocupado com a Cúria romana, que, segundo ele, apresenta algumas “doenças” e que necessita de renovação, elaborou um “catálogo de doenças” que podem atingir cúrias, e talvez também as secretarias ou até as comunidades. Podemos usar as reflexões para uma meditação sobre a necessidade que, como povo de Deus nós temos, de nos renovarmos sempre, principalmente no período quaresmal. Aliás, Francisco lembra que qualquer cúria, entendendo também secretarias, organizações estruturais, ou qualquer corpo organizado, necessita cotidianamente se renovar, ser mais viva, mais saudável, mais harmoniosa e mais unida em si mesma e com Cristo; precisa ser um pequeno modelo de Igreja. Trazendo este ensinamento para as nossas comunidades que estão no processo de renovação nesta quaresma, vamos tomar um ponto citado pelo Papa que é sinal de doença: o “sentir-se imortal ou imune”.

            Existe nas cúrias, nas secretarias ou mesmo nos líderes comunitários, nos movimentos e organizações o perigo de se julgar “eterno”. Quem sofre dessa doença pensa que está tudo bem, do jeito como está. Nunca faz uma avaliação e, menos ainda, sabe se autocriticar. As críticas que podem vir de fora não são aceitas. Erguem-se verdadeiros muros de proteção para que nada possa atingir o seu sossego. Atualizações são consideradas desnecessárias. Por quê? – se tudo vai bem! Os que controlam a situação se acham superiores a todos, pois os demais não sabem das coisas; são todos de fora. É doença grave, uma vez que é insensatez e orgulho. O evangelho retrata tal questão com a história do rico que pensava poder viver sem mais se preocupar com nada (cf. Lc 12,13-21). O orgulho, por sua vez, não aceita colaboração, pois os outros são todos inferiores e incapazes.

            A partir da Palavra de Deus, e agora concretamente pela Campanha da Fraternidade, a Igreja é convocada a se renovar para estar, como Jesus, a serviço da humanidade. Nesta quaresma a Campanha da Fraternidade lembra, ou melhor, quer relembrar, que se a Igreja não está para servir, então ela não é de Cristo! Tratando da questão Igreja e Sociedade, a Campanha da Fraternidade leva a todos os seus membros o apela a se perguntarem seriamente sobre o sentido que dão a sua pertença à mesma. Basta ir à missa aos domingos, basta rezar, fazer alguma boa obra, receber os sacramentos costumeiramente, buscar intercessão dos santos ou o apoio espiritual nas diversas dificuldades da vida; é suficiente dar o dízimo e colaborar com as obras da Igreja? Dar respostas a essas perguntas é material para muita reflexão; ou, como se diz na boca do povo, “pano para muita manga”.

            Renovar-se, tendo Jesus de Nazaré como mestre a ser seguido, não quer dizer deixar estas coisas de lado; mas ter coragem de ir muito além. O Papa fala que o corpo vivo – Igreja – procura diariamente ser mais vivo. Jesus não se preocupou com a observância fiel da lei de seu tempo, mas buscava estar onde estava o povo. Lá, entre as multidões, ele se colocava junto dos mais necessitados, dos excluídos, dos sem vida, dos sem vez e sem voz. Mesmo sabendo que não podia resolver todas as graves “doenças” do povo, fez o que podia fazer. Não perdia nenhuma oportunidade para dizer a todos que Deus, que é Pai, ama a todos e quer que todos tenham vida, e vida plena. Para não ficar sozinho nesta obra imensa, já que as multidões se aglomeravam junto dele, convidava seus discípulos a se lançarem em seu seguimento. Segui-lo consistia em se converter: pensar como ele pensava, confiar como ele confiava, e agir como ele agia: servir como ele servia.

            Caso quisermos que a nossa “cúria”, a nossa comunidade, a nossa “pequena igreja” se renove nessa quaresma, quem sabe seja conveniente que nos voltemos sem medo para o Homem de Nazaré; que tenhamos um verdadeiro encontro com ele, que permaneçamos uma tarde e uma noite vigiando com ele. Depois, que aproveitemos todas as nossas organizações, toda a nossa piedade, todo o nosso entusiasmo, e também nossas qualidades pessoais e comunitárias para colocá-las a serviço. Mas, a serviço de quem? Da igreja que irá servir, não a si mesma, mas à humanidade. A Igreja, também conforme Francisco, há de estar “em saída” – deve sair de si mesma, da sacristia onde o mofo cheira a conservadorismo, a estagnação. No entanto, não é possível fazer isso – colocar-se ao serviço da Igreja e consequentemente à humanidade, caso não formos humildes: quem não se reconhece pecador e servo inútil pouco irá conseguir. O soberbo irá, de antemão, apresentar suas soluções, suas qualidades e projetos, que, com certeza, não irão somar para resolver os graves problemas dos mais sofridos, dos mais explorados, dos mais injustiçados e dos mais pobres.

            Portanto, renovemo-nos nesta quaresma a partir de Jesus Cristo, aquele que veio não para ser servido, mas para servir (cf. Mc 10,45); sejamos servidores de todos, a começar pelos menos favorecidos da sociedade, os pobres, os pecadores, os doentes, os injustiçados, os excluídos. Não nos preocupemos em “defender” o nosso grupo, a nossa “pequena Igreja”, mas em ser como o Cristo que se entrega pela salvação de todos, e, dessa maneira, daremos testemunho da verdadeira Igreja, a Igreja dos discípulos do Mestre Jesus de Nazaré que serve sempre e em toda a parte.

Boa Quaresma e boa Páscoa.

Pe. Mário F. Glaab

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sábado, 27 de dezembro de 2014

Fim de ano, Ano Novo

TOMAR O TEMPO

            O tempo corre! Outra vez fim de ano e começo de outro ano: festas e férias, novos planos e muito sonhos. Mas, o tempo corre, e, parece correr cada vez mais rápido. É o que quase todos dizem e experimentam. Todavia, as coisas não mudam tanto assim com o tempo que passa. O que de fato deveria mudar não são tanto as coisas, mas nós, os que temos a responsabilidade sobre as coisas. Aliás, talvez não seja tão acertado dizer que o tempo passa, mas poderia ser melhor dizer que nós passamos. Ontem não éramos, hoje somos, e, amanhã... Bem, amanhã, esperamos e veremos.
            Já que é assim, que tal se nos tornássemos donos de nosso tempo? Digo donos, não no sentido de mandar e desmandar ao bel prazer, mas já que o recebemos de Deus como um dom, usá-lo ao nosso favor, ao invés de deixá-lo ser nosso senhor. Tomar o tempo, em nossas mãos. Eis o desafio.

Trabalhar
            Tomar o tempo para trabalhar. Porém trabalhar não é atividade cansativa? Não é algo negativo? Sem dúvida, quando o trabalho é visto como obrigação fastidiosa, ele se torna um peso. Mas, será sempre assim? Olhando com profundidade a obra da criação, descobrindo aí a possibilidade da contribuição humana, perceber-se-á outra realidade. O trabalho, mesmo aquele que exige grande esforço, leva a realizações inexplicáveis. Ninguém consegue dizer quanta satisfação sente o pai de família ou a mãe que trabalhou dias e dias para poder colocar o alimento na mesa onde os filhos se reúnem; não se pode descrever com palavras humanas o que sente o cientista que trabalhou duro por anos e anos para descobrir o remédio que alivia o sofrimento das pessoas. Então, tomar o tempo para trabalhar é pagar o preço valioso da própria realização, e colaborar para a felicidade de outros, tornar seus fardos são mais leves.

Pensar
            Tomar o tempo para pensar. Pensar é próprio do ser humano, pois ele é racional. Quem não pensa ou não quer pensar está negando sua humanidade racional. Por que pensar se os outros fazem tudo para nós? Hoje já está tudo pronto, basta perguntar, e as resposta estão aí, aos milhares. Pensar, no entanto, é fonte da força para a ação. Somente quem entende o que é convidado a fazer, pode fazê-lo bem. O pensar oferece a luz para se automotivar. Agir com consciência é agir com liberdade. Quem não pensa torna-se escravo das atividades que não consegue evitar. Sofre terrivelmente. Tomar o tempo para pensar é então fonte da forças; forças que movem grandes obstáculos no caminho da realização. Quem pensa, além de se tornar forte para agir livremente, ajuda aos demais a serem livres e ter critérios sólidos para escolherem bem.

Simpatizar
            Tomar o tempo para ser amigo, ser simpático. Todos passam pela vida relacionando-se uns com os outros. Ninguém está sozinho. Nem pode estar. Ser amigo, ser simpático com os outros é estreitar as relações. Quanto mais amigo for, tanto mais o ser humano soma com os semelhantes. Sempre se diz: povo unido jamais será vencido, ainda mais quando a união está amarrada por sincera amizade, pois o amigo é sempre fiel. Sem medo de errar, pode-se se afirmar que o tempo tomado para ser amigo é tempo transformado em felicidade. Felicidade, longe de ser egoísta, mas felicidade para todos os amigos.

Sonhar
            Tomar o tempo para sonhar. Sonhar é preciso, pois ele aproxima as estrelas, dizia um poeta. Verdade! Os sonhos abrem novas possibilidades, animam e despertam a criatividade. Quando alguém deixa de sonhar, a vida se enfadonha e nada mais se pode esperar. O sonho se torna o primeiro passo para a esperança. E, a esperança dá combustível para aproveitar bem o tempo atual, mas abre sempre novos horizontes; novos tempos que ultrapassam o futuro. Os sonhos transcendem até mesmo o tempo, já possibilitam estar hoje no “mundo das estrelas”.

Olhar ao redor
            Tomar o tempo para olhar ao redor. O tempo é curto demais para olhar apenas para si. O olhar egoísta limita e apequena o mundo. Quem olha somente para si não vê nada mais que suas próprias carências, seus problemas que deseja mentirosamente defender como importantes. Descobrir que ao redor de nós existem outras realidades, outras pessoas, outros sentimentos enriquece-nos infinitamente. O tempo é para isso, ele impulsiona para fora do olhar egoísta.

Rir – rir muito
            Tomar o tempo para rir. O tempo aproveitado para rir se faz a música da alma. A alma, entendida como vida, não pode se expressar diferentemente, ou chora ou ri. Ela sente tudo: alegria, realização, amor, fraternidade, comunhão, é a música que se transforma em riso; tristeza, frustração, ódio, violência, egoísmo, é o lamento que se transforma em choro. Façamos com que o tempo não seja levado tão a sério, mas com que ele nos leve a sério. Que ele se sujeite a nós, e que nós possamos rir dele abundantemente. Ele será tomado por nós, não nós por ele.

O tempo é nosso, não somos do tempo
            Ao invés de nos apavorar diante do fluxo irreversível do tempo que passa tão de pressa, vamos nos alegrar por mais e mais oportunidades que temos para passar pelo tempo. Ele está sendo colocado diante de nós como um presente do qual nos utilizamos. Se mais um ano passou, outro veio! Mais tempo de graça do Deus que nos ama. Mais experiências adquirimos nos meses que se foram e mais maduros nos tornamos. Não sabendo como será o futuro, deixemos que ele nos surpreenda. Confiemos na bondade de Deus, colaboremos com ele colocando nossas parcas forças e humildes iniciativas ao seu dispor; tomemos o tempo para trabalhar, para pensar, para ser simpáticos, para sonhar, para olhar ao redor e, principalmente para rir – rir bastante. O tempo é nosso! Não somos do tempo, estamos no tempo; mas, Deus nos fez para a eternidade. A alegria e o riso antecipam a Eternidade. Sejamos felizes!
Pe. Mário Fernando Glaab

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domingo, 21 de dezembro de 2014

Natal

O Filho de Deus nasceu na periferia da sociedade religiosa, política e econômica; somente os pobres o reconheceram: Maria, José, os pastores e, mais tarde os Magos, que eram estrangeiros. Ele nasceu para todos, mas os ricos não o acolheram. Quem somos nós: pobres ou ricos?
Feliz Natal. Que Jesus encontre acolhida em cada um de nós! Sejamos simples, humildes e, estejamos entre os pobres de todas as periferias, pois lá ele se manifestará.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Natal: a festa da luz

NATAL – A NOITE SE ILUMINOU

            Natal é mais que “noite abençoada”. É voltar-se para a criança que vem. Criança que é o Filho de Deus feito humano. Olhar sobre o seu nascimento. Todo o mais dessa festa vive desse olhar ou acaba em ilusão. Natal nos diz: Ele chegou! Ele iluminou a noite. Iluminou a noite de nossas trevas, a noite de nossas incompreensões, a noite do terror de nossos medos e desesperos. Ele a transformou em noite abençoada, em noite santa.
            Irrompeu no mundo e em nossa vida um acontecimento que transformou nossa noite angustiosa e fria em noite santa e abençoada. Pois o Senhor está aqui. O Senhor da criação e de minha vida está aqui. Ele não está mais na “eternidade do infinito”, mas aqui. O Eterno passou a ser tempo, o Filho passou a ser humano. Toda a imensidão do universo de Deus passou a ser carne. O tempo e a vida humana se transformaram, porque Deus mesmo se fez homem. Agora não necessitamos mais procurar no infinito dos céus, lá onde nosso espírito e nosso coração se perdem, pois ele agora está em nosso mundo. Está no nosso mundo onde nem ele tem privilégio algum, mas, como todo ser humano, está sujeito à fome, ao cansaço, à inimizade, à agonia mortal e à morte mais ignominiosa. Que o Deus Infinito, o Deus infinitamente Santo, o Deus da Vida, aceitou a finitude humana, a tristeza mortal da terra e a própria morte é a mais incerta verdade. Mas somente ela – a duvidosa luz da fé – transforma nossas noites e pleno dia, somente ela abençoa toda noite.
            Deus veio. Ele está aqui. Tudo é diferente do que nós o imaginamos. A eternidade entrou no tempo e lhe deu um sentido novo. Agora nós e o mundo podemos estar diante da face desvelada de Deus.
            Quando dizemos que é natal, dizemos que Deus pronunciou sua última Palavra, sua mais profunda e mais bonita Palavra. Sua Palavra se pronunciou na carne, isto é, no mundo dos homens. Ele a pronunciou para dentro do mundo. Ela não a retorna mais, pois Deus a disse definitivamente, quando Ele mesmo entrou no mundo. E essa Palavra se chama: “eu te amo”, você mundo e você ser humano...
            Tudo, a partir do nascimento dessa criança, se transformou. O tempo está envolto em eternidade, que se fez tempo. Todas as lágrimas secaram desde sua própria fonte, pois Deus mesmo chorou com o ser humano e enxugou as lágrimas. Toda esperança está plenificada porque Deus está no mundo dos homens. A noite do mundo já está clara.
            Quando então o nosso coração pronunciar igualmente a palavra sim para a Palavra amorosa do Menino de Nazaré se realiza a noite abençoada - o natal – de verdade. Essa palavra do coração estará plena da santa graça de Deus. E a Palavra de Deus nascerá também em nosso coração. Deus mesmo estabelecerá sua morada em nosso coração, assim como a estabeleceu em Belém.
            A noite se iluminou! Feliz Natal!

Mário Glaab

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

A Igreja e sua mensagem atualizada

NOVOS DESAFIOS PARA A TEOLOGIA E PARA A PASTORAL

            Não adianta esconder o sol com a peneira, pois os raios dele passam pelos seus furos e atingem áreas desprotegidas, tanto de nosso corpo quanto de nossos ambientes fora ou dentro de casa. Ainda mais quando se reside em regiões bastante ensolaradas, como é a nossa.
            Mas não é sobre os raios solares que pretendo discorrer; quero na verdade chamar a atenção para alguns desafios da teologia e da pastoral de nossa Igreja. Até alguns anos passados, tudo parecia tranquilo. A teologia tinha suas verdades que pareciam perenes e a pastoral não fazia muito mais do que aplicar essas verdades para os fiéis. Os fiéis recebiam essas verdades de seus pastores, orientavam-se por elas e se sentiam seguros. Hoje, no entanto, as coisas mudaram, e não pouco. Parece que os desafios e as perguntas que vêm do mundo atual já não se deixam mais conter por tais certezas que eram tão resistentes. As questões penetram por todas as frestas e começam a queimar as peles. Quanto mais sensíveis forem as peles, tanto mais sofrerão as queimaduras.

Igreja: sinal universal de salvação
            Para evitar que as questões provoquem maiores consequências, podendo levar a tumores insanáveis, quero considerar como desafio pregações e fundamentações latentes, que quase sempre, norteiam as mensagens em nossas igrejas. Partindo da necessidade de se ter uma igreja na qual se vive e à qual se pertence, apresenta-se a verdade da Igreja: ela é o sinal universal de salvação para o mundo. Tudo certo. Todavia, a teologia tem como tarefa deixar claro que sinal é sempre sinal para alguém. Ou melhor, deve orientar as pessoas que querem avançar. Quando o sinal ocupa o lugar daquilo que sinaliza, perde seu sentido. Quantas vezes as pregações voltam-se para a Igreja, apresentam-na em sua pureza ideal. Não vão muito além. Não respondem às reais perguntas do homem de hoje. Assim, na prática, a intenção tem como meta “encher” as igrejas de fiéis que formam um grupo seleto e protegido. Estas pessoas que participam das celebrações ordinárias das paróquias estão “salvas”. Fecha-se a Igreja diante do mundo, tanto teológica como pastoralmente. Quem está no mundo, se quiser ter contato com a Igreja, necessariamente vai ter que entrar pela porta da sacristia. Essa porta para ser aberta, geralmente exige cursos, encontros, preparações de todo tipo; pior ainda, certificados de cursos! O pregador que mais consegue chamar a atenção sobre a beleza de sua igreja, que mais atrai, leva vantagem com relação ao que não tem esses dotes. A concorrência torna-se o motor que move todo trabalho pastoral, escondendo uma teologia subjacente que se baseia em princípios certos, mas mal atualizados.

A verdade que protege e faz crescer
            O Papa Francisco e muitos teólogos e pastores sérios ensinam que a Igreja não pode chamar a atenção sobre si, mas deve, cada vez mais, ser uma Igreja “em saída”. Ela precisa ir às periferias da sociedade onde estão os desafios das multidões. A verdade da Igreja se atualiza lá, onde as pessoas são mais carentes dos sinais de salvação, que lhe são próprios. A Igreja é verdadeiramente sinal de salvação quando leva Jesus Cristo, o Salvador da humanidade, aos ambientes que mais carecem dele. Ela, portanto, antes de se preocupar consigo mesma, consciente de Jesus que veio para dar vida abundante, se coloca sempre em defesa da vida de todos e, em todas as situações. Jesus de Nazaré não veio ensinar uma religião, mas ao constituir a sua Igreja deu-lhe a tarefa de fazer de todos os povos discípulos seus, isto é, convocá-los a defender a vida e a dignidade de todo ser humano diante das forças destruidoras. A Igreja e qualquer religião são verdadeiras quando saem de si e vão para o mundo com a missão de servir à vida. A vida, conforme o Criador a dispôs, que, sem dúvida, leva à realização plena; não só nesta terra, mas também na vida futura. É a verdade que protege e faz crescer.
            Nas periferias da sociedade estão os pobres: os pobres de bens necessários para viver com dignidade, os explorados, os excluídos, os perdidos nos vícios, os grupos minoritários etc.
            Se a teologia e a pastoral da Igreja quiserem proteger a “pele” da sociedade de hoje, não podem se furtar da tarefa de ir aos desvalidos. Desmascarar qualquer pregação que visa somente o sucesso e a aparência da comunidade fechada; mostrar o caminho para que, saindo de seu comodismo, vá para onde a vida é mais ameaçada. Lá, envolvendo-se com a “escória” da humanidade, mesmo que se suje com sangue contaminado, transfundir com sangue novo os corpos dilacerados e malcheirosos. Apontar para Cristo que morreu entre malfeitores, porém, mesmo assim, teve a ousadia de gritar: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Teologia e pastoral que não favorecem uma Igreja “em saída” e envolvida nas dores do mundo estão tentando esconder o que é próprio da Igreja: levar luz para quem está na escuridão. Se isso não acontecer pelos caminhos ordinários, por outros caminhos os raios de luz irão penetrar, mas podem causar graves queimaduras.
Pe. Mário Fernando Glaab

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sábado, 1 de novembro de 2014

HUNSRICKISCH SPESSJE

IN DE KATEKISMUSUNNERICHT

Dat Fritzje wo doch imma son traurich Guriiche, dat hat jedem die Nerven uff di Haut gebrun. De Podda, wo son strenge Mann wo, de hot oach seine Last mit dem Fritzje gehat. Wat dem Geistliche doch gonet gefal hot dat wo des das Fritzje imma so mit sei Hund dorum gestribt is. Dat Fritzje un de Pororoo, wie de Hund gehees hot, die woore doch nie weit vonanna. Wo dat Fritzje hin is, do wo aach de Pororoo dehinna. De Pfarr soat imma: “Loss doch de stingiche Hund dehem!”, awa das nutz iwahaupt nicks.
En scheene Toach woa Katekismusunnericht. De Podda hot die Kinna in die Kerich geruf un hot dan mo oangefang se parlamentiere. Dat Fritzje hat ruich do gehuckt. Es hat net lang gedauet, un de Hund woa oach schun unna de Bank. Dat wo doch zu viel fa de Vigario. Ganz bees horra gefroat, un aach schun nohm Fritzje geguckt: “Warum is schon witta de stingiche Hund in de Kerich?” Die Kinna hon sich all oangeguckt un gelacht. Dat Fritzje is awa dann mo uffgeschtie un hot geantwot: “Ei, herr Pfarra, de Pororro is in de Kerich weil die Tea uff geschtan hot. Dat is doch leicht se veschteen”. All hon’se gelacht, blos de Podda is enscht geblieb.
Dat wo halt mo so. Die Hunn solle jo dehem bleiwe, awa wen’se de Guriizade noch lowe in die Kerich, dat is oach net die End de Welt.

Glaabsmário