segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Diálogo

SE SOUBÉSSEMOS DIALOGAR
Pe. Mário Fernando Glaab
            Alguém, após uma explanação catequética sobre os mandamentos, pergunta: “por que a Igreja é contra tantas coisas que para a maioria das pessoas não são ruins?” Outra pessoa constata que muitas vezes, na Igreja, idéias e concepções particulares são apresentadas como ensinamentos oficiais, isso quando não são impostas. O que pode haver por trás disso tudo? Será que é e deve ser assim mesmo?
            Em primeiro lugar é bom lembrar que a Igreja nunca pode ser “contra”, mas sempre “a favor”. Em segundo lugar, imposições de pontos de vista ferem a dignidade do ser humano. Nem mesmo os ensinamentos oficiais podem ser impostos, muito menos, idéias ou concepções, que são apenas instrumentos particulares que nunca podem ocupar o lugar da verdade.
            O que carece de fato, nesses casos, não é capacidade intelectual para compreender, mas a humilde disposição para o diálogo sincero. Somente através do diálogo é que se estabelecem compreensões entre os seres humanos. Monólogos não levam à compreensão, apenas passam, quando muito, informações que, conforme o caso, são somadas e acumuladas. Mudam a quantidade, mas não a qualidade do receptor, e somente dele; o emissor não é mudado. Diálogo, ao invés, é bem mais do que palavras jogadas ao vento ou que se cruzam sem produzir efeitos. Diálogo é compartilha. Dar do que se tem e receber daquilo que o outro possui. Quando se estabelece diálogo entre dois interlocutores, tanto um como o outro doam e recebem ao mesmo tempo. Os dois são transformados qualitativamente. Isso é, são enriquecidos de fato. Mas para que isso aconteça é preciso abertura ao diferente, ao que pensa diferente. Quem parte do princípio de que ele sabe e o outro não, nunca pode participar de um verdadeiro diálogo. Infelizmente entre nós, também entre os cristãos, o diálogo não é tão comum. Quase sempre estamos convencidos de que precisamos e devemos ensinar, somente; dificilmente admitimos a necessidade do aprendizado.
            E o que tem haver diálogo com a “Igreja do contra” ou com a “Igreja a favor”? Ao se afirmar que a Igreja é sempre “a favor” quer se mostrar que tudo o que é bom para o ser humano, assim como para todo o criado, é defendido pela Igreja. Isso porque, como o seu Mestre, ela tem como meta a instauração do Reino de Deus já neste mundo, mesmo ciente de que a plenitude depende do “dia do Senhor”. Dele ela é sinal. O Reino de Deus é a realização plena da criação. Isso quer dizer que tudo o que leva à plenitude é buscado pela Igreja. Diríamos, seguindo o linguajar ecológico, que a Igreja sempre é a favor da vida de todas as criaturas. Ela nunca pode ser contra aquilo que verdadeiramente colabora para que haja mais vida. Todas as manifestações de vida são valorizadas, mesmo as das criaturas mais humildes e ocultas. É o positivo que lhe interessa. Diálogo é justamente isso: todos têm vez e voz. Ninguém sabe tudo, ninguém é excluído como não prestável para nada. Ser “contra” é atitude de não dar chances para ouvir (diálogo). Corta-se a possibilidade dialogal antes de começar. Seria o mesmo que dizer “não tenho nada a aprender com você! Você para mim não é!”.
            As questões que mais afligem as pessoas em nossos dias estão relacionadas com perguntas concretas sobre o que se pode ou não se pode fazer, se é moralmente bom ou não. Aí entram as questões éticas relacionadas com a vida (bioética). Geralmente as perguntas dependem da maneira como são formuladas, por exemplo: a Igreja permite o uso de anticoncepcionais? Permite a manipulação de embriões, permite o aborto, o casamento gay etc.? Dessa forma cerceia-se a resposta ao “sim” e ao “não”. E o “não” justifica o “contra”. Em um diálogo sincero pode-se, no entanto, chegar a concluir que tanto o que pergunta quanto o que responde, estão buscando soluções para melhor viver. A confusão, então, deve estar no que entendem por melhor viver. Os objetos das perguntas devem ser analisados antes de qualquer tentativa de resposta. O que de fato se quer quando se procede usando anticoncepcionais, manipulando embriões ou praticando aborto? Esses procedimentos são valores que enriquecem a toda a criação ou fecham seus autores egoisticamente, no afã de alcançar mais prazer, mais poder, mais ter? No diálogo franco entre a Igreja e o ser humano de hoje é mister mostrar que sempre se deve estar a favor da vida para todos. Dos que questionam, mas também dos que não podem questionar. Também eles precisam ser “ouvidos” e deles se precisa aprender. A Igreja sempre quer aprender e compartilhar com o mundo para que tudo o que for bom possa florescer e dar frutos. Ser do contra nunca justifica; mas somente ser a favor daquilo que é verdadeiramente humano. No diálogo todos podem aprender a se colocar em sintonia com o que ajuda a todos, superando egoísmos que somente empobrecem e destroem.
            Nada de imposição! Sempre proposta, diálogo, compreensão, colaboração e enriquecimento mútuo.

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