ENTÃO É NATAL
Pe. Mário Fernando Glaab
Mesmo sendo o Natal a festa mais bonita de todo o ano litúrgico, às vezes fica-se um pouco desnorteado quanto o seu real significado para a caminhada cristã. O Natal se reveste de tantas luzes e de tantas mensagens a tal ponto que a mensagem central perde a centralidade. Tudo fala do Natal, mesmo antes de iniciar o Advento. Os sentimentos das pessoas são desafiados em todos os sentidos, principalmente as emoções. Explora-se muito o aspecto econômico, dando aquela impressão de que é preciso adquirir muitas coisas que irão proporcionar sensação de bem estar e de paz. Dentro desta visão acentua-se em demasia a necessidade de presentear as pessoas que se quer bem. Parece que somente dando presentes, - e presentes de valor! – os amigos são valorizados e os laços de amizade são apertados. O Natal não pode ser Natal se a ceia ou o almoço não for exagerado. Gasta-se muito além do que se pode sem graves conseqüências. Outros ainda fazem viagens que, de uma vez, eliminam o verdadeiro sentido natalino.
Como pista para uma atitude correta diante do mistério celebrado no Natal, sugerimos a proposta que se encontra na solenidade da Imaculada Conceição. Na leitura do Gênesis (3,10), depois que Adão comera do fruto da árvore e foi chamado por Deus, ele se esconde. Foge do Criador. O ser humano decidiu seguir por outro caminho: errou. É o pecado, a desobediência, o egoísmo. Mesmo estando nu, isto é, não tendo mais nada ao que se apoiar, o homem não é abandonado por Deus. Ele é chamado. O chamado de Deus é revelação do coração de Deus que não se deixa vencer em misericórdia. É o sinal da esperança, ou então, a promessa do Todo-poderoso. No entanto, o homem, fragilizado pelo pecado, precisa que Deus lhe faça as vestes. Adão não tem coragem para se colocar diante do Criador e olhá-Lo de frente. Assim a história do ser humano vai avançando por entre caminhos bastante tortuosos. A esperança, colocada pelo próprio Criador no homem, o faz avançar. Mas, às vezes ele quase esquece por completo dela. Isso o leva para bem longe da meta.
A resposta se encontra em Lucas 1,38. Quando Deus quis, preparou alguém entre os seres humanos que lhe pudesse responder “sim”, sem fugir. Uma jovem chamada Maria. Deus, para não assustar o ser humano tão pequeno diante de sua grandeza, manifesta-se através do Anjo. Explica os seus planos até onde esta pobre criatura os possa compreender. A resposta que recebe não é a de alguém que entendeu, mas de alguém que creu: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!”. Se fôssemos usar critérios humanos, diríamos que essa atitude surpreendeu ao próprio Senhor. Não havia mais dúvidas, Deus encontrou alguém que o “enfrentou”. Já podia vir morar com os humanos: ao menos um entre a humanidade não se escondia em seu egoísmo: “E o Verbo se fez carne e veio morar entre nós” (Jo 1,14).
Acolher, viver e testemunhar o Natal do Senhor, mais do que se preocupar com muitas coisas, é colocar-se na atitude de Maria. Isso não implica em grandes projetos pastorais, enormes planejamentos, grandes obras, mas sim, num profundo ato de fé. Fé em Deus que também hoje pode e quer vir morar conosco. Morar entre os humanos de nossos dias que estão tão ocupados com as suas atividades, com o mundo que se agita cada vez mais. Acreditar que Deus ainda pode fazer maravilhas. A fé, todavia, para ser autêntica, como a de Maria, não pode ficar somente na primeira parte; ela implica compromisso: “faça-se!”. Olhar para Deus que se revela tão humanamente em Jesus Cristo e dizer-lhe “sim” é, no mínimo, colocar-se ao lado dele lá onde Ele está: entre os mais humildes das criaturas. Com eles irá aprender o que significa tomar a cruz de todos os dias e seguir o Salvador. Entre eles o “faça-se” transformar-se-á em vida cristã. E o Natal terá atingido o seu significado: “então é Natal!”.
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