sexta-feira, 6 de abril de 2012

Homenagem a um "Herege"

Obs.: Divulgo a “singela homenagem” do colega Pe. Daniel ao grande teólogo A. T. Queiruga que sofre dura perseguição do episcopado espanhol. A intenção é provocar o interesse pela teologia de Queiruga e estar atento ao debate das questões de fé.  Quero registra igualmente a minha tristeza diante do acontecido. Pe. A. T. Queiruga é, para mim, um dos teólogos mais lúcidos e humanos que muito me ajudou para entender as questões atuais de teologia. Eis o texto do Pe. Daniel:


Uma singela homenagem “ao mestre herege”

Sexta-feira santa, não é um dia qualquer, mas dia de silêncio e reflexão interior. “A hora mais “misteriosa do Gólgota de todos os tempos”. Mas, o tempo mais escuro não pode impedir o novo amanhecer. Ainda que muitos anseiam reviver um passado “tormentoso e ao mesmo tempo vergonhoso”.
O catolicismo espanhol tem, a partir da última sexta-feira, um novo herege. Trata-se de Andrés Torres Queiruga, nascido em 1940 na paróquia de Aguiño, Ribeira (A Coruña).
Ele é professor de teologia no Instituto Teológico Compostelano e de filosofia da religião na Universidade de Santiago de Compostela. Os bispos espanhóis, mediante uma chamada Notificação, o acusam de sete erros que se referem ao “realismo da ressurreição de Jesus Cristo, enquanto acontecimento histórico (milagroso) e transcendente”, ao “caráter indedutível da Revelação” e à “unicidade e universalidade da mediação salvífica de Cristo e da Igreja”.
Eu particularmente achava que os tempos da inquisição e das perseguições já tinham acabado na Igreja Católica. Mas pelo jeito, a cada vez que um teólogo tenta ajudar a mudar a mentalidade do povo, sempre renasce aquela velha e antiquada forma de chamar um pensador de: “hereges”. O termo é tão antiquado que as novas gerações, nem conhecem esse termo.
A Notificação, de apenas 20 páginas, defende que o teólogo galego “quer romper com uma concepção da Revelação como ditado e entende como uma descoberta de Deus já presente e, nesse sentido, não mais misteriosa do que outro conhecimento. Deus não precisa ‘chegar’, porque já está sempre. Por isso, a revelação efetiva é sempre uma experiência já realizada, algo com o qual o sujeito religioso se encontra no próprio ato de tomar consciência dela. [...] Tomada nessa estrutura original e sob esse aspecto, a revelação não é nem mais misteriosa nem menos simples do que um ato cognitivo qualquer”.
Convencido da ortodoxia de seus escritos, Torres Queiruga desafia seus inquisidores para que, se em algum escrito veem que se possa danificar a fé, o demonstrem “com razões que corrijam ou refutem” as que o condenado oferece. Ele também diz que está vivendo essa censura como "uma desqualificação pessoal” que, objetivamente, o expõe “a uma calúnia pública em matéria muito grave”.
Segundo Andrés Torres Queiruga, a condenação irá causar “uma perturbação desnecessária nos fiéis e é um duro golpe para a credibilidade pública da fé, que muitas julgarão, mais uma vez, como sobrecarregada por um peso autoritário e por uma negação da liberdade intelectual”, segundo o teólogo Galego.
Desde sua casa em Santiago de Compostela, Andrés Torres Queiruga, se mostra francamente surpreendido: “Não sei de nada e estranho muito, porque ninguém falou comigo. Não tive nenhum tipo de diálogo sobre questões que mereçam ser esclarecidas ou discutidas. Por outra parte, minha teologia é sempre positiva: não somente é dialógica e nunca agressiva, mas também porque nunca questionei a interpretação tradicional de alguma verdade de fé, esforçando-me ao mesmo tempo em buscar uma alternativa construtiva e atualizada” afirmou o teólogo Católico.
Caro Professor Andrés Torres Queiruga, eu sou um privilegiado, porque tenho lido todos os seus livros, acompanhados suas inúmeras palestras, suas entrevistas, sei da sua simplicidade, aquele sorriso um tanto tímido, mas ao mesmo tempo carregado de amor pela Igreja de Jesus.

Seu discurso caro Professor Torres Queiruga é, sobretudo, um discurso para dar razão à esperança. Este discurso se encontra tanto em seus artigos e ensaios teológicos em relação à conjuntura, como em suas reflexões teológicas e homilias em relação ao ano litúrgico. O Senhor, é um “profeta da esperança” que guia, conforta, exorta e anima seus leitores e seus ouvintes, em meio a tantas vozes de “conservadorismo ultrapassado” que gostam de reviver os piores fantasmas da historia da Igreja do passado.
O senhor, Professor Andrés não é um “pensador herege”, o senhor é um cristão autentico porque baseada na fé da ressurreição, surge sua convicção de que é a vida e não a morte que tem a última palavra na história. Isto foi o que lhe motivou como “teólogo na sombra da violência” dar razão à esperança em uma situação de violência e muita incerteza, pela qual o senhor hoje esta crucificado.
Aqueles que os acusam de “heresia” professor Torres Queiruga, talvez, não tiveram tempo de ler aquelas sabias palavras de Jesus Cristo: “Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai por vós mesmas e por vossos filhos..., pois, se assim tratam a árvore verde, que se não fará à seca?” (Lc 23,28.31).

Padre Daniel Andrés Baez Brizueña. É Licenciado em Teologia. Bacharel em Ciências das Religiões. Licenciado em Letras. Pós Graduado em Ciências Políticas. Atualmente cursa Filosofia na UNESPAR Campus União da Vitoria FAFI/UV. Aluno do Curso de Marketing da UNINTER/Polo São Mateus do Sul. Aluno de Pós-graduação de Filosofia e Ciências Sociais da UNESPAR Campus União da Vitoria FAFI/UV.

Um comentário:

  1. Infelizmente, ainda temos muito conservadorismo como um aparelho ideológico do Estado que oprime, presente em grande parte da Igreja Católica.

    ResponderExcluir