ACONTECEU
NO NATAL
Foi nos dias que antecedem o Natal. O pároco fez questão
de visitar todos os doentes de sua paróquia para lhes levar um pouco de
conforto e, ao mesmo tempo, preparar-se para a grande comemoração do nascimento
de Jesus. Até então ainda não sentira em profundidade a expectativa do “Senhor
que vem”. É verdade que a havia buscado na meditação da Palavra de Deus, nas
orações, nas mensagens natalinas, na alegria das crianças; mas tudo isso ainda
lhe parecia superficial. Seria mesmo mais um Natal que se aproximava? Seria de
fato mais uma oportunidade para experimentar que Deus se havia feito um de nós
na figura daquela criança de Nazaré? Tudo parecia tão distante.
Algo marcante aconteceu quando o sacerdote chegou a uma
casa simples do interior onde jazia uma senhora idosa, totalmente
impossibilitada de se locomover. Humanamente falando, o estado era lastimável. Como
já estava bem acostumado com casos assim, foi logo se colocando à disposição
para que a senhora confessasse e, para então, após algumas breves orações, lhe
administrar o Sacramento da Eucaristia. A mulher, no entanto, não sabia
confessar em Português. Um pouco desapontado, o padre a deixou confessar em sua
própria língua, ou melhor, na língua de seus pais e avós que vieram da Polônia.
Sem entender uma única palavra, depois de alguns instantes, o padre rezou a
fórmula da absolvição, traçando um grande sinal da cruz sobre a pobre
penitente. Terminado o rito, o sacerdote, para descontrair um pouco, pediu para
que a enferma rezasse por ele, uma vez que sua missão não era nada fácil; ainda
mais, atender paroquianos que nem sequer sabiam se confessar em Português. A
idosa prometeu que iria orar, mas o faria somente em polonês. Continuando a
brincadeira, o sacerdote perguntou: “Mas será que Deus entende esta sua língua
tão difícil?”. A boa senhora não deixou esperar, e com grande certeza de fé
retrucou ao padre: “Deus entende melhor em polonês; isso porque eu rezo em
polonês, e ele sempre me entende, pois ele sempre está comigo!”.
Este foi o testemunho mais convincente de que de fato
Deus se fez um de nós, e que ele estava aí, onde estão as pessoas mais simples,
mais humildes e mais confiantes, junto àquelas pessoas que, mesmo não podendo
fazer grandes coisas, acreditam piamente em sua presença amorosa. Essa foi a
experiência mais marcante do pároco naquele Natal. Fez-lhe muito bem, e ele
voltou para casa sentindo grande alegria – aquela que os anjos anunciaram aos
pastores na noite de Natal. Não havia visto grandes coisas, mas sentiu o
mistério do Menino-Deus bem próximo dele. Todos os enfeites, os papais-noéis e
as músicas que se escutavam na cidade não o encantaram mais, ouvia, no entanto,
lá no fundo de seu ser “ele sempre me entende, pois ele sempre está comigo”.
Pe. Mário Fernando Glaab
marioglaab.blogspot.com.br
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