quarta-feira, 17 de junho de 2015

Os médicos: sacerdotes do corpo

(Aos nossos amigos médicos: homenagem e gratidão)
                Obs.: Não costumo copiar artigos de outros, mas achei muito oportuno transcrever este, pois nunca teria condições para desenvolver tão magnificamente a o valor e a importância da medicina e dos médicos. Pe. Mário Glaab.

DEUS E OS MÉDICOS
Por Pe. Zezinho, SCJ
            É doutrina católica afirmar que Deus é perfeito. Somos combatidos por isso, mas é isso o que ensinamos. Ele sabe o que faz e porque faz o que faz. Criou tudo o que existe e tem lá suas razões para permitir a doença n mundo e o sofrimento humano. Não sabemos explicar por que, mas Deus, que poderia erradicar qualquer mal, em alguns casos liberta dele ou impede que aconteça; noutros, permite que a doença aconteça e siga seu curso. O Deus que é perfeito, não criou tudo perfeito. Eu gostaria de explicar a dor e a morte, mas estou longe de qualquer explicação nascida de minha inteligência. Simplesmente, não sei explicar a dor nem a cruz. Sei crer, mas não discursar diante de uma mãe que perdeu sua menina de nove anos seqüestrada por um bandido de dezessete anos.
            Deus não criou tudo perfeito, mas deu ao ser humano a capacidade de saber o porquê de muitas coisas e de continuar querendo saber mais. Deu ciências ao ser humano. Uma delas é a ciência do médico. O médico não raciocina sobre o porquê de seu paciente ter contraído uma doença terminal. Ele usa seu raciocínio para buscar soluções lendo as potentes máquinas modernas e tratando de achar os fármacos que poderiam dar certo, se injetados naquele corpo. Médico faz filosofia e teologia, mas primeiro faz medicina. Esta é sua arma. E vai ao corpo enfermo ou ao corpo sarado, mas agora, com uma séria disfunção.
            Dizem que a medicina como ciência nasceu com Hipócrates e que o famoso juramento dos médicos, o juramento de Hipócrates, é nada mais que uma adaptação do texto de amor à vida que seu pai, sacerdote do deus Esculápio lhe teria ensinado. Verdade ou não, a medicina tem muito a ver com a religião e esta com a medicina. O médico ensina a viver, conserta atitudes, melhora a qualidade de vida, devolve esperança, corta e cura, prolonga a vida, intervém e muda um corpo, mostra os riscos e por tudo o que aprendeu tornou-se um doutor, alguém que sabe e ensina. Das ciências, as mais bonitas são as que ensinam a viver. A religião pode ser uma delas, a medicina também.
            Falo isso como padre que aprendeu e aprende com os médicos. Somos irmãos de luta. Corpo e alma necessitam de cuidados. Eles me ensinaram a cuidar de minha voz, de meus ouvidos, de meus dentes, do pulmão, do estômago, da pele, dos rins e dos pés. Fui sentindo dores e eles foram me ensinando a curá-las e a evitá-las. De todos ouvi uma palavra amiga e paciente de quem conhece o corpo humano, mas sabe dos limites e do mistério de cada corpo. Conheço inúmeros médicos por ter ido a eles ou levado pacientes a eles e devo dizer que nunca conheci um que não fosse humilde. Como em toda classe pode haver algum orgulhoso, tolo e interesseiro como em qualquer profissão, mas tive a sorte de conhecer os melhores.
            Deus tem muitos filhos que o ajudam a melhorar sua obra. Os médicos são certamente do grupo de elite. Falo como religioso, alguns médicos são mais sacerdotes que os que deveriam cuidar das coisas da alma. Infelizmente para os sacerdotes agressivos, insensíveis e insensatos. Cuidam melhor do que muitos pregadores que, de tanto fanatismo, chegam a provocar enfermidades. E há os vaidosos que negam que outro ser humano ou outra ciência possa curar alguém. Se eles acham que podem em nome de Deus, por a mão sobre uma cabeça, então, os médicos também podem, prescrevendo um remédio ou pondo um bisturi em uma barriga, abrindo-a e depois, fechando-a. Aquilo também pode ser milagre e, muitas vezes, é.
            Respeitemos os médicos e sua ciência, se nós, religiosos, quisermos que respeitem a nossa. Então, na hora em que a alma lhes doer, eles nos procurarão, e quando nosso corpo ou nossa lama doerem, poderemos procurá-los sem susto. Eles também conseguem com as mãos o que achamos que conseguimos com os joelhos ou com nossos rituais. Erram e acertam como nós. É crer um no outro, porque o dono da vida é Deus e é ele quem dá os dons e faz os convites. Ser médico é coisa séria, difícil, mas extraordinariamente bonita. Reverencio, inclusive, os médicos ateus. Fazem mais pelo povo do que muitos pregadores cheios de unção, mas sem cuidado com os mais frágeis. Deus os ama de um modo assaz especial. Foram chamados a ensinar a viver. E ensinam!

(Revista Paróquias e Casas Religiosas, nº 54, p. 40)

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