sábado, 2 de julho de 2016

Deus ama gratuitamente.

Gratuidade do amor de Deus por nós

            Sentir-se abandonado por Deus é desesperador. Qualquer criatura não amada por ninguém, nem mesmo por Deus, entra em desespero. Nada mais a sustém. Ela morre, uma vez que não faz sentido viver assim.

Contradição lógica
            O Novo Testamento traz dois textos que parecem se excluir mutuamente. Um diz: “Nós que cremos, reconhecemos o amor que Deus tem para conosco” (1Jo 4,16); o outro, de Jesus moribundo, traz o grito: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mc 15,34). Não seria este uma afirmação de falta de fé em Jesus no auge de sua entrega pela sua causa? A lógica pura não funciona. Por traz destas palavras inspiradas fala mais alto, não a lógica, mas o amor vivido e experimentado na fé.
            Ao se dizer que o amor de Deus é reconhecido pela fé, sabe-se que foi esta a experiência de Jesus e de seus discípulos em todos os tempos. Também hoje. Quem não adere, comprometendo-se com Ele, nunca vai reconhecer o mistério deste amor. Deus, em Jesus ama gratuitamente. Exclui os méritos, a observância das leis, das normas ou da religião, mas para todos tem uma mensagem de paz. À medida em que alguém se deixa tocar por Jesus é envolvido na experiência do amor de Deus, que não se explica com palavras e argumentos humanos. No grito de Jesus coloca-se o confronto com o máximo da miséria humana. O abandono de tudo e de todos. Não se justifica o grito! Contudo, no mais profundo da miséria experimentada por Jesus, naquele momento dramático da cruz, vislumbramos a mais pura fé, a mais esplêndida confiança. “Meu Deus, meu Deus, por que...?” Somente pode gritar assim, nas condição desse abandono, quem viveu, vive e viverá sempre na confiança de que Deus estava e estará presente. O abandono é ausência, mas de Alguém que, com certeza, estava aqui, e, que o estará novamente. Alguém que escuta, apesar de não se vê-lo e senti-lo. É morte física, sim; morte para Deus, não; desespero humano, sim; desconfiança no Pai, não.

Amor gratuito
            O mundo tem muita dificuldade para crer no amor de Deus. Mentalidade esta que afeta também as religiões, que ensinam, com seus preceitos, sua moral, suas leis, como se deve proceder para ter a bênção e as graças de Deus. Aquele que faz tudo conforme as regras da religião será amado por Deus. A partir dessa visão se estabelecem critérios para avaliar as religiões como mais ou menos eficientes. Provas de eficiência são bem-vindas!
            Deus, no entanto, age diferentemente. Ele não se submete aos critérios dos sábios e dos prudentes ou poderosos deste mundo. Ele se revela como o Deus que é “só-amor” nos e pelos pequenos e humildes (cf. Mt 11,25-26). Faz com que estes experimentam gratuitamente seu amor, não porque são melhores que os ricos, sábios e poderosos, mas porque lhe estão mais disponíveis. Creem mais facilmente porque não têm os muros do orgulho (bens, sabedoria humana, força e poder) trancando o espaço interior – o coração – de sua vida. Deus ama gratuitamente, oferece os segredos de seu amor. Aquele que crer, experimenta e, consequentemente participa do círculo amoroso. O amor de Deus é para que o ser humano possa amar. Deus pede o que dá e dá o que pede.
            A gratuidade do amor do Pai surpreendeu até mesmo a Jesus. Jesus bendiz ao Pai, surpreso, por fazer o contrário daquilo que todos fazem. Para Jesus a eleição dos simples e pobres para experimentar “estas coisas” já é parte dos mistérios do Reino de Deus. Quem sabe acolher o amor gratuito de Deus, como os simples e os pobres, estará colaborando na atualização do Reino definitivo de Deus; onde prosperará somente o amor.

Pe. Mário Fernando Glaab

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