quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Meditar e refletir

CRER É PRECISO, PENSAR TAMBÉM

            Sem entrar na complicada discussão da relação entre razão e fé, entre conhecimento científico e conhecimento infuso, queremos refletir e meditar sobre “crer” e “pensar”. Pois se alguém afirma que hoje, mais do que nunca, é preciso crer, devemos completar, e pensar também. Aliás, os tempos e as situações, no percorrer da história, mudam, mas os desafios são sempre os mesmos. O ser humano não deixa de ser impulsionado a procurar respostas para os questionamentos mais existenciais, tanto na dimensão da fé quanto na dimensão racional.

            Se acreditar é fruto da fé, é consequência da adesão consciente a Alguém ou a algo que escapa da demonstração científica. Neste caso, ter fé é mais do que aceitar simplesmente. Na verdade, a doutrina cristã ensina que a fé é uma das três virtudes teologais, isto é, infusas por Deus na pessoa que acolhe Jesus Cristo como Senhor no batismo. É, então, um dom que o fiel recebe, mas que ele precisa desenvolver. Claro que não se pode restringir a fé somente aos cristãos, achando que outras pessoas não possam ter fé.  Deus não está amarrado aos nosso esquemas sacramentais; eles, porém, são o caminho ordinário que por meio de Jesus Cristo nos levam ao mistério de Deus.
            Não resta dúvida de que o ser humano, sempre foi e sempre será convidado a sair de si, de suas respostas imediatas, e se elevar a uma outra esfera, a esfera do sobrenatural. Nem mesmo as respostas da filosofia satisfazem o profundo desejo de conhecer o sentido da vida, do Transcendente e do mundo. Justamente aí entra o convite à fé. Deus, de mil e uma maneiras se comunica aos humanos – sempre em “linguagem” humana -, para que saiam de si e tenham fé. No entanto, Ele não obriga ninguém a fazer isso. Ele não dá sinais que possam ser comprovados em laboratório ou calculados matematicamente. Ele propõe, convida e aguarda adesão. É misterioso o fato de alguns crerem e outros não crerem. Mas, a fé igualmente não pode ser mensurada com medidas humanas. Quem pode entrar no íntimo do coração alheio para lhe medir a fé ou a falta de fé? Na verdade há dois tipos de pessoas que afirmam a necessidade da fé: aqueles que a possuem e aqueles que não a têm mas a confundem com sua preguiça de pensar. Estes últimos justificam seu comodismo ou sua incapacidade de pensar dizendo que é preciso crer, uma vez que as coisas são muito complicadas para ser entendidas.

Razão
            É próprio da razão humana pensar. Seu pensamento, quando bem ordenado, busca respostas para os mais diversos questionamentos da vida. No decorrer da história o pensamento humano fez enormes progressos, conquistou muitos conhecimentos, desenvolveu os mais diversos saberes que, além de satisfazerem muitas curiosidades, tornam mais digna e mais prazerosa a vida humana. A tecnologia – fruto do desenvolvimento científico -, quando colocada a serviço do bem de todos, facilita a comunicação e a colaboração entre as pessoas, tornando a vida mais alegre e menos assustadora diante de tudo que se lhe opõe.
            Como o ser humano é ser-pensante, nada justifica renunciar a tal propriedade. Quanto mais humano alguém quer ser, mais pensante deve ser. Nada o dispensa de procurar respostas diante de sua “curiosidade” frente ao mundo e frente aos desafios da própria vida, da vida dos outros e de toda a criação. Passar por esta vida sem pensar seria o mesmo que passar por inúmeras oportunidades de se realizar e de ajudar na realização dos outros, e nada fazer. Seria dizer: eu não posso ajudar, mas creio que Deus o faz por mim. Isto, na verdade, seria covardia. Seria atribuir a Deus o que é da responsabilidade humana.

Meditar e refletir
            O homem de fé medita, o homem que pensa reflete. Isto, todavia, é muito esquemático, pois a meditação conta com a reflexão, e a reflexão conta com a meditação. Somente medita quem reflete e, a reflexão abre portas para a meditação. Como vimos, a fé é um dom gratuito de Deus, aceito e cultivado livremente pelo ser humano. Mas isso não o dispensa da busca incessante de respostas para os desafios da vida e do mundo. E, o ser humano que reflete, mesmo que não tenha fé, pode se sentir impulsionado a dar um passo para o além, para o Transcendente. Seria o passo para a fé.
            Crer é preciso, no entanto, pensar também o é. E, pode-se dizer mais ainda: ninguém pode ser forçado a crer, mas quem não quer pensar, também não pode exigir nada do relacionamento humano, uma vez que ele não colabora com nada. Crer é graça, pensar é dever humano.

               Crer por não querer pensar é covardia; pensar para crer é heroísmo.
Pe. Mário Fernando Glaab

www.marioglaab.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário