CRER
É PRECISO, PENSAR TAMBÉM
Sem entrar na complicada discussão da relação entre razão
e fé, entre conhecimento científico e conhecimento infuso, queremos refletir e
meditar sobre “crer” e “pensar”. Pois se alguém afirma que hoje, mais do que
nunca, é preciso crer, devemos completar, e pensar também. Aliás, os tempos e
as situações, no percorrer da história, mudam, mas os desafios são sempre os
mesmos. O ser humano não deixa de ser impulsionado a procurar respostas para os
questionamentos mais existenciais, tanto na dimensão da fé quanto na dimensão
racional.
Fé
Se acreditar é fruto da fé, é consequência da adesão
consciente a Alguém ou a algo que escapa da demonstração científica. Neste
caso, ter fé é mais do que aceitar simplesmente. Na verdade, a doutrina cristã
ensina que a fé é uma das três virtudes teologais, isto é, infusas por Deus na
pessoa que acolhe Jesus Cristo como Senhor no batismo. É, então, um dom que o
fiel recebe, mas que ele precisa desenvolver. Claro que não se pode restringir
a fé somente aos cristãos, achando que outras pessoas não possam ter fé. Deus não está amarrado aos nosso esquemas
sacramentais; eles, porém, são o caminho ordinário que por meio de Jesus Cristo
nos levam ao mistério de Deus.
Não resta dúvida de que o ser humano, sempre foi e sempre
será convidado a sair de si, de suas respostas imediatas, e se elevar a uma outra
esfera, a esfera do sobrenatural. Nem mesmo as respostas da filosofia
satisfazem o profundo desejo de conhecer o sentido da vida, do Transcendente e
do mundo. Justamente aí entra o convite à fé. Deus, de mil e uma maneiras se
comunica aos humanos – sempre em “linguagem” humana -, para que saiam de si e
tenham fé. No entanto, Ele não obriga ninguém a fazer isso. Ele não dá sinais
que possam ser comprovados em laboratório ou calculados matematicamente. Ele
propõe, convida e aguarda adesão. É misterioso o fato de alguns crerem e outros
não crerem. Mas, a fé igualmente não pode ser mensurada com medidas humanas.
Quem pode entrar no íntimo do coração alheio para lhe medir a fé ou a falta de
fé? Na verdade há dois tipos de pessoas que afirmam a necessidade da fé:
aqueles que a possuem e aqueles que não a têm mas a confundem com sua preguiça
de pensar. Estes últimos justificam seu comodismo ou sua incapacidade de pensar
dizendo que é preciso crer, uma vez que as coisas são muito complicadas para
ser entendidas.
Razão
É próprio da razão humana pensar. Seu pensamento, quando
bem ordenado, busca respostas para os mais diversos questionamentos da vida. No
decorrer da história o pensamento humano fez enormes progressos, conquistou
muitos conhecimentos, desenvolveu os mais diversos saberes que, além de
satisfazerem muitas curiosidades, tornam mais digna e mais prazerosa a vida
humana. A tecnologia – fruto do desenvolvimento científico -, quando colocada a
serviço do bem de todos, facilita a comunicação e a colaboração entre as
pessoas, tornando a vida mais alegre e menos assustadora diante de tudo que se
lhe opõe.
Como o ser humano é ser-pensante, nada justifica
renunciar a tal propriedade. Quanto mais humano alguém quer ser, mais pensante
deve ser. Nada o dispensa de procurar respostas diante de sua “curiosidade” frente
ao mundo e frente aos desafios da própria vida, da vida dos outros e de toda a
criação. Passar por esta vida sem pensar seria o mesmo que passar por inúmeras
oportunidades de se realizar e de ajudar na realização dos outros, e nada
fazer. Seria dizer: eu não posso ajudar, mas creio que Deus o faz por mim.
Isto, na verdade, seria covardia. Seria atribuir a Deus o que é da
responsabilidade humana.
Meditar
e refletir
O homem de fé medita, o homem que pensa reflete. Isto,
todavia, é muito esquemático, pois a meditação conta com a reflexão, e a
reflexão conta com a meditação. Somente medita quem reflete e, a reflexão abre
portas para a meditação. Como vimos, a fé é um dom gratuito de Deus, aceito e
cultivado livremente pelo ser humano. Mas isso não o dispensa da busca incessante
de respostas para os desafios da vida e do mundo. E, o ser humano que reflete,
mesmo que não tenha fé, pode se sentir impulsionado a dar um passo para o além,
para o Transcendente. Seria o passo para a fé.
Crer é preciso, no entanto, pensar também o é. E, pode-se
dizer mais ainda: ninguém pode ser forçado a crer, mas quem não quer pensar,
também não pode exigir nada do relacionamento humano, uma vez que ele não
colabora com nada. Crer é graça, pensar é dever humano.
Crer por não querer pensar é covardia; pensar para crer é heroísmo.
Crer por não querer pensar é covardia; pensar para crer é heroísmo.
Pe. Mário
Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com.br
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