DÍZIMO
E PARTILHA COM OS POBRES
Nada mais justo e acertado que afirmar que o dízimo é
gesto gratuito de “devolução” a Deus por tudo o que dele recebemos. Quem possui
consciência de que tudo vem de Deus, como manifestação de seu infinito amor,
não tem dificuldade para fazer do seu dízimo a resposta amorosa e gratuita. No
entanto, onde e como é possível devolver a Deus os inúmeros dons que dia após
dia ele dá a cada filha e filho seu? É suficiente colocar o nome na relação dos
dizimistas da paróquia e descontar um valor considerável da renda cada mês, e
pronto?
Dízimo:
devolução generosa
Diante das muitas
iniciativas de conscientização, empreendidas nas últimas décadas, para
esclarecer a importância e o verdadeiro sentido do dízimo; ficou claro, para os
que dão – e não pagam – o dízimo, que ele é devolução generosa, conforme a fé e
a possibilidade de cada um. Fica, porém, algo de estranho no ar: se Deus dá com
tanta abundância ao ponto de não reter nada para si – o ser humano é provido de
liberdade para administrar a criação -, ele espera ou aceita algo em troca de
seu gesto amoroso? Já o salmista se pergunta: “Que retribuirei ao Senhor por
todo o bem que me deu?” (Sl 116,12) e se refere à salvação que vem pelo nome do
Senhor, sem responder convenientemente. Generosidade é, neste caso, algo que
vai além da devolução, pois devolução implica necessariamente uma forma de “pagamento”,
mas contém em si mesmo o conceito de gratuidade.
O generoso é generoso, não porque quer ser bom, mas muito
mais, porque experiencia a generosidade gratuita. A generosidade do generoso
não está em vista de provocar outros a serem também generosos, porém parte
daquilo que é experiência vivida e acolhida. Quer dizer que antes de alguém ser
generoso, ele já se experimenta envolvido pela generosidade do outro (Deus).
Quem nunca deixou se enlevar por esta experiência nunca poderá ser
verdadeiramente generoso.
Mas então, por que devolução generosa? Quando alguém é
generoso ele está devolvendo algo para Deus? O dízimo é esta devolução? Deus
precisa dela? Dá o que pensar!
A
generosidade e os pobres
Alguém pode pensar que Deus colocou os pobres no mundo
para que os generosos pratiquem sua virtude. Negativo! Isto seria crueldade da
parte de Deus. Deus, que é Amor, nunca sacrificaria uma criatura sua para que
outra possa ser virtuosa (ainda mais que a generosidade da criatura nunca ser
perfeita). Se existem pobres em nosso meio não é por culpa ou planejamento de
Deus. Deus fez tudo para ser bom; e, a pobreza não é coisa boa. Nem mesmo a
situação de quem é pobre. Se Deus ama o pobre, não é porque Deus o quer pobre.
Deus ama o pobre porque o quer bem. A generosidade de Deus é para com todos. Se
existem pobres, não é porque Deus é mais generoso para com alguns e menos para
com outros. O que acontece é que uns se apossam dos bens que Deus em sua imensa
generosidade, coloca à disposição de todos, isto é, dos outros. Assim se
desequilibra a harmonia querida por Deus. Alguns ficam com o que é dos outros.
A generosidade de Deus é atingida em sua aplicabilidade. É a ganância que tanto
sofrimento acarreta para o mundo todo.
O dízimo como reconhecimento (experiência) da
generosidade de Deus não devolve um pouco do recebido a Deus, que não quer nada
em troca de seu amor. É, no entanto, continuação da obra de Deus, que é o
Generoso. Como ele não pode não amar, ele mesmo, em Jesus Cristo, se identifica
com o pobre, para que a nossa generosidade o atinja lá onde está o pobre.
Todavia, o pobre – Jesus Cristo – não é atingido por quem quer fazer algo em
prol dele, mas somente quando a experiência do amor de Deus o faz estar em
comunhão, isto é, quando compartilha os mesmos desafios, as mesmas carências e
as mesmas dores do pobre. Generosidade é identificação, assim como Deus, em
Jesus Cristo se identifica com todo ser humano, preferencialmente com o pobre.
Uma paróquia que recebe o dízimo de seus fiéis somente é
“dizimista” quando se faz generosa. A sua generosidade é fruto do amor generoso
de Deus, manifestado nos membros que a compõem, e por sua vez, é generosa com
os pobres, os que clamam por identificação. Talvez seja também isso que o Papa
Francisco nos quer ensinar quando insiste em uma “Igreja pobre e em saída”.
Sejamos acolhedores da generosidade de Deus, sejamos
dizimistas generosos para que nossa paróquia possa se identificar com os
pobres, e assim se estabelecer uma rede de generosidade: Deus generoso com seus
filhos e filhas generosos.
Pe. Mário
Fernando Glaab
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