POR
MARIA E COM MARIA
Por
Maria Deus vem ao encontro da humanidade; com Maria a humanidade vai ao
encontro de Deus. Este é um ensinamento que aprendemos desde criança, mas que
pode e deve ser aprofundado, principalmente em época de muita devoção mariana e,
igualmente em tempos e situações de críticas da parte de cristãos separados que
creem e pensam diferente.
Dom
Leomar Brustolin (bispo auxiliar de Porto Alegre), na conclusão de seu livro Eis tua Mãe – Síntese de Mariologia,
assim se expressa: “Em Maria, Deus vem ao encontro do humano. Com Maria, a
humanidade vai ao encontro de Deus da forma mais perfeita” (p. 119). Assim ele
mostra como Maria é “duplamente Mãe”. Mãe por conceber Jesus Cristo na fé e na
carne, Mãe por ser o ícone da Igreja, ou então, por cooperar com os discípulos
de seu Filho em sua caminhada de fé e no encontro sempre mais profundo com o
mistério do Deus Uno e Trino.
O
caminho de Deus
Para Deus todos os caminhos estão abertos; Ele não
encontra obstáculos que o impeçam de vir a nós, suas criaturas. Mas nós, seres
humanos, por causa de nossas limitações, não estamos em condições de o receber
por qualquer caminho. Temos dificuldades enormes para abrir as portas de nosso
ser às infinitas maneiras de Deus vir. Porém, Deus não se deixa vencer diante
da pequenez de suas criaturas. Ele “usa” todas as possibilidades para transpor
as portas do nosso interior.
A mulher e o homem, acostumados a confiar em si mesmos, são
medrosos diante daquilo que vem de fora. Desconfiam e procuram se defender de
quem bate à porta do lado de fora. Até mesmo de Deus! Veem em tudo uma
intromissão indevida; algo que pode incomodar, ou melhor, destronar do lugar
cômodo onde se julgam estar tranquilos. Já os primeiros pais da humanidade
ficaram com medo de Deus e fugiram (cf. Gn 3,10), mas este não os abandonou em
sua frustrada sorte.
É maravilhoso ver as inúmeras tentativas de Deus para se
encontrar frente a frente com o ser humano. Ele procura se revelar e
estabelecer diálogo e comunhão pela palavra dos profetas, pelos feitos de
homens santos, pelos acontecimentos da natureza, enfim, pela história
individual e comunitária do povo. Mas a “criatividade máxima” de Deus – se isto
é permitido dizer -, acontece quando Ele mesmo se encarna no seio de uma
mulher, que se torna Mãe, para por este caminho vir aos homens que entendem um
pouco do que é ser mãe, pois a primeira experiência de vida de todo homem vem
por meio do amor, do carinho e do cuidado de sua mãe. Jesus, o Filho de Deus,
vem a nós por meio de Maria, uma mulher que é sua Mãe; uma vez que nós
começamos a entender o mundo por meio de nossa mãe.
Em Jesus Deus se revela em toda a plenitude (até onde o
ser humano, ajudado pela iluminação do alto, é capaz de acolher). Revela o seu
amor até as últimas consequências. Ele, no entanto, inicia esta maravilha por
meio do caminho do amor materno, de Maria sua Mãe. Alguém pode se desculpar,
dizendo que não entende nada do amor de mãe?
A realidade do amor de mãe é tão envolvente que ninguém se pode furtar dele.
Até mesmo os que não tiveram a sorte de ter uma mãe que os acolhesse com amor,
de uma ou de outra forma, experimentaram amor materno, pois sem ele não
estariam vivendo.
É claro que este não é o único caminho que Deus percorre
para se comunicar e se doar à humanidade, mas é, sem dúvida, um caminho tão
humano que todo homem por ele pode ser alcançado e lhe consegue abrir as
portas. Basta ter humildade e vontade acolhedora. Mesmo que a abertura seja
pequena, um pouco do infinito amor de Deus, com certeza, entrará e tocará o íntimo
do coração humano.
O
caminho da humanidade
A humanidade também tem um caminho a percorrer, rumo a
Deus. Quem a ajudará nesta tarefa? Quem se coloca na frente ou ao seu lado?
Já
dissemos acima que Maria é ícone da Igreja, ou então, colaboradora dos discípulos
de seu Filho na caminhada de fé e no encontro sempre mais profundo com o
mistério de Deus Uno e Trino, agora vamos aprofundar este dado. A atitude da
Mãe de Jesus, diante do desafio lançado por Deus não é outra a não ser de
acolhida humilde e confiante. Ela, dessa forma, encontrou graça diante de Deus
que, ao ser acolhido, se encarna em seu seio: “E o anjo se retirou” (Lc 1,38).
Maria havia restabelecido o caminho que Eva tinha rompido quando temerosa fugiu
de Deus (cf. Gn 3,8-10). Assim, como Eva é considerada “a mãe de todos os
viventes” (Gn 3,20), Maria é a Mãe de todos que acreditam nas maravilhas que o
Senhor realizou nos tempos messiânicos (cf. Lc 1,45).
O ser humano sempre busca caminhos que levam a Deus. As
religiões dão respostas a esta busca incessante: tem a intenção de “religar” o
homem a Deus. A religião cristã, com o mesmo intento, ensina que Deus mesmo
quer estabelecer comunhão com o homem perdido ou impedido de retornar. Cabe a
ele responder. E, é justamente aí que entra a resposta de fé e confiança dada
por Maria, a Mãe de Jesus. É a resposta modelar da Mãe para todos os que
quiserem responder ao Deus que vem. No seu sim, Maria creu em Deus, mas
igualmente “contemplou” o povo que haveria de aceitar o plano de Deus que agora
estava se realizando nela e por ela, e que iria restabelecer a comunhão com a
humanidade. Maria contemplava a Palavra de Deus e ao mesmo tempo contemplava o
povo que haveria de acolher a Palavra feito Carne.
Assim, pode-se dizer que o caminho para Deus, proposto pela
fé cristã, é acolhida do projeto de Deus na história humana. E, para esta
acolhida temos o exemplo da Mãe que no amor materno crê com toda a confiança.
Seu amor ultrapassa todas as explicações lógicas ou quaisquer raciocínios
humanos. Ela, como Mãe, entende de seu Filho e, o apresenta como o Caminho a
ser seguido.
Por
Maria e com Maria
Portanto, o caminho de Deus para a humanidade e o caminho
da humanidade para Deus se encontram em Jesus Cristo. Porém, Jesus é o Filho de
Maria. Isto nos permite dizer que o caminho que Deus percorre, para vir até nós,
passa por Maria; mas também que Maria aponta o caminho que nós precisamos
percorrer para chegar a Deus. Nunca é demais recordar as palavras dela aos
servos naquela festa de casamento quando estes estavam em apuros porque
perderam a alegria da festa, uma vez que faltava o vinho: “Fazei tudo o que ele
vos disser!” (Jo 2,5). Maria crê e Maria pede para obediência dos servos a
Jesus. Tenhamos fé e sigamos a Jesus como Maria.
Pe. Mário Fernando Glaab
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