ORAR
A DEUS COM OS IRMÃOS E AGIR EM FAVOR DOS IRMÃOS COM DEUS
O Papa Francisco, na homilia proferida em Fátima por
ocasião da canonização dos pequenos pastores Jacinta e Francisco Marto, a certa
altura assim se expressou: “rezamos a Deus com a esperança de que nos escutem
os homens; e dirigimo-nos aos homens com a certeza de que nos vale Deus”. Em
primeira mão parece que o Papa está dizendo que a nossa oração deve ser feita
com a intenção de ser ouvida pelas pessoas, para assim sermos reconhecidos. E
até pode parecer que a oração dispense nosso compromisso, se é Deus que nos
deve valer. Isso seria contrário ao que Jesus ensinou quando pede que não se
façam orações para ser vistos e recompensados por isso (cf. Mt 6,7). Ao
aprofundar a questão vemos que não é bem assim, porém tem um ensinamento
profundo na afirmação de Francisco.
Oração
e comunhão
O cristão nunca está sozinho, mas sempre está em comunhão
com os irmãos. Mesmo que recolhido em seu quarto, ou num ambiente onde se
encontra totalmente só, sempre está ligado a seus irmãos na fé, na esperança e
na caridade. Neste sentido, qualquer prece que o cristão dirige a Deus, sempre
é expressão da comunidade cristã; ou melhor ainda, é fruto da comunhão que une
os irmãos. Toda oração que alguém faz, mesmo aquela na qual coloca diante de
Deus o seus desejos mais íntimos e particulares, é sempre algo que se forma a
partir da comunidade à qual pertence o indivíduo.
Desta maneira, é necessário que os homens “escutem” a
oração para que seja também a oração deles, pois doutra forma, não seria mais
oração cristã. Esse escutar não quer dizer que as pessoas precisam ser
convocadas para ouvir, mas que se estabeleça entre o orante e os irmãos uma
conexão de sentimentos. Aquilo que é expresso no diálogo de quem reza é, ao
mesmo tempo, expressão daquilo que os homens anseiam no íntimo de seu ser. Por
isso o Papa fala da necessidade de ter “esperança de que nos escutem”. O que é
colocado diante de Deus na oração se conforma com o que os homens desejam
colocar diante dele: louvor, gratidão, pedido de misericórdia, necessidades
particulares, etc.
Portanto, a verdadeira oração cristã é sempre fruto de
comunhão, e, leva automaticamente a mais comunhão ainda. Ela tem a força da
unidade para subir até Deus, mas igualmente conclama mais e mais os homens para
a unidade. Oração é comunhão e comunhão leva à oração.
Ação
e fé
A ação cristã junto aos homens pode ser de inúmeras
maneiras: admoestações, instruções, orações e trabalhos caritativos. Tudo é
englobado na ajuda fraterna que visa construir uma sociedade mais justa e
igualitária onde a vida de todos é preservada e valorizada.
O Papa, ao dizer que quando nos dirigimos aos homens
devemos fazê-lo “com a certeza de que nos vale Deus”, está afirmando a
importância da fé. Não se faz nada de bom quando se confia somente em nossas
pobres forças ou capacidades humanas. Somos tão limitados e o amor próprio – o
orgulho – nos impede de sair de nós mesmos para o bem do outro. Contudo, quando
nos deixamos conduzir pela fé no Deus que é Pai e que sabe o que cada um
precisa, mesmo antes de tomarmos consciência disso, então as coisas mudam, e
muito. Ações, sejam elas quais forem, quando feitas com fé, são capazes de
verdadeiros milagres. Exemplos de serviço sem esperar nada em troca podem ser
encontrados com abundância. E isso, geralmente entre os mais humildes; aqueles
que têm fé mais pura. Os poderosos, os grandes deste mundo, não sabem realizar
seus atos com a certeza da fé, uma vez que confiam no seu poder e na sua
importância e, consequentemente suas intenções são outras.
O homens precisam de pessoas que lhes vêm ao encontro
para estabelecer comunhão. Mas estão saturados de falsos comunicadores, de
interesseiros que lhes querem roubar a dignidade e a paz. Os cristãos não podem
se furtar da tarefa de levar uma palavra de perdão, de vida e de paz ao mundo através
de ações concretas e compromissadas. Somente com muita fé no Deus de Jesus de
Nazaré, que manda seus discípulos a ser luz e sal da terra, é que os cristãos
podem colaborar para que o mundo seja um pouco melhor, e que o Reino anunciado
por Jesus se aproxime um pouco mais.
Comunhão e fé, fé e comunhão andam juntas, na oração e na
ação do cristão.
Pe. Mário Fernando Glaab
www.marioglaab.blogspot.com
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