O
conhecimento pelo amor
Existem muitas
formas de conhecimento: conhecimento teórico, prático, profundo, superficial
etc. Tudo depende de como alguém se aproxima do objeto que quer conhecer. Ao se
tratar de uma pessoa a ser conhecida, as coisas são mais complexas ainda. Não
basta dizer que se conhece alguém, é preciso explicar melhor sobre o que se
sabe de determinada pessoa. Mesmo que se tenha um vasto conhecimento, sempre
existem “mistérios” que não são captados. E, que na medida em que se aprofunda
a forma de aproximação, vão surgindo novos horizontes, novos aspectos; sempre
da mesma pessoa.
O
conhecimento que vem da fé
A fé também é uma maneira de conhecer. Ela escapa das
comprovações científicas, mas não deixa de ser conhecimento. Mais ainda, quando
leva ao compromisso do amor como consequência.
Temos um exemplo no evangelho de João onde Jesus, ao se
encontrar com o cego de nascença que havia curado, e que havia enfrentado os
judeus que não aceitavam sua cura, lhe pergunta: “Tu crês no Filho do Homem?”;
ao que ele responde: “Quem é, Senhor, para que eu creia nele?”, e Jesus se lhe
apresenta com tal. O cego curado se prostra e afirma: “Eu creio, Senhor!” (cf.
Jo 9,35-38). O cego curado, a partir daquele momento conhece o Filho do Homem
de uma outra forma, bem mais profunda do que os demais, que talvez tinham
inúmeras informações sobre Jesus que ele não tinha; mas que não criam. Ele crê
por ter experimentado amor. O amor faz conhecer mais profundamente. Certas
pessoas e realidades não são conhecidas, a não ser por amor. Quem conhece
melhor a mãe do que um filho? E isso não por acúmulo de dados, mas por via do
amor experimentado, mesmo sem explicações racionais e lógicas.
A criança acredita nos seus pais e por isso sabe, pelo
amor, quem são eles. Muito mais se sabe sobre Deus, quanto mais se crê e se
ama. Aliás, Jesus Cristo é, talvez o ser humano mais estudado de todos os seres
humanos que já pisaram sobre a face da terra; mas só o conhece verdadeiramente
(até onde é possível para a limitação humana) quem o ama. O amor a Jesus dá
outra dimensão que escapa a tudo o que as ciências podem captar. Este amor é
sempre compromisso com o Amado, no sentido de se fazer um com Ele. No caso de
Jesus, quem o ama, fazendo o que Ele faz, experimenta-o nas obras. Se Jesus ama
os pobres, os pecadores, os desvalidos, os marginalizados; também quem com ele
está comprometido, ama os mesmos. E aí conhece realidades que de outra forma
nunca iria conhecer. Conhece o mistério de Jesus no amor aos últimos, àqueles
aos quais ninguém quer amar.
O cego curado, talvez nos ajude a compreender um pouco do
conhecimento amoroso de Jesus para com ele (e para nós): Jesus acreditou nele,
e por isso amou. Aprendemos que não se deve amar por causa do valor que o amado
tem, mas pelo amor que se lhe pode dar.
Amar
a Igreja para conhecê-la
São muitos os que criticam impiedosamente a Igreja,
esquecendo de que antes é preciso conhecê-la. Sabem, sem dúvida, dos pecados do
passado e também dos erros no presente de alguns de seus pastores. Porém, com
muita facilidade atribuem à Igreja os pecados deles. Como se isso os
justificasse a ficar de fora. Quanto mais fora estiverem, menos conhecimento
terão.
Por outro lado, quem de fato crê que a Igreja recebe de
Jesus a missão de levar a Boa-Nova a todos os cantos desta terra, e que para
isso Ele conta com todos os membros dela, coloca-se na esfera da resposta
amorosa. Sente o peso dos pecados sobre seus ombros, mas sabe que é amado, e
que no amor colabora no projeto de transformar o mundo para ser um pouco
melhor; para trazer vida e alegria para a humanidade. Em outras palavras,
colaborar na instauração do Reino de Deus já aqui e agora. Portanto, só conhece
a Igreja quem a ama e com ela se compromete. Os que ficam criticando por fora
são injustos e correm o perigo de praticarem coisas bem piores do que as que
acusam da Igreja.
Concluindo, é bom e necessário buscar conhecer sempre
mais, mas deve-se estar atento para não se esquecer de que existem muitas
formas de conhecer; e que as coisas mais profundas exigem aproximações mais
profundas. Amar comprometidamente é uma forma de conhecimento que nem todos
buscam, mas que também os pequenos e humildes conseguem alcançar.
Pe. Mário Fernando Glaab.
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